Capítulo 21 - Os segredos de Alanna

Start from the beginning
                                    

8 de agosto, 1807.

A vasta biblioteca do nobre marquês Di Montanaro já não me oferecia mais desafios literários há algum tempo, no entanto, recentemente, fixei-me em um dos seus antiquíssimos volumes que abordava os povos celtas e a sua notável jornada pelo mundo.

Tenho dedicado inúmeras horas de pesquisa ao estudo da feitiçaria, do arcanismo e da bruxaria, e por minha insaciável curiosidade acerca desse tema, descobri que algumas das tribos celtas eram propensas à prática da magia, assim como outros tipos de xamanismo.

Diversos seres mitológicos oriundos da rica cultura celta ainda habitam o imaginário dos mais crentes até os dias atuais, destacando-se as banshees, figuras associadas à morte e ao sobrenatural; os leprechauns, diminutas criaturas ligadas à fortuna e a tesouros ocultos; as selkies, seres híbridos entre criaturas marinhas e humanas; os pookas, dotados de poderes metamórficos que lhes permitem transmutar-se em diversos animais, como cavalos e gatos; e, é claro, os druidas que, embora não possuam natureza mitológica em si, possuíam habilidades que poderiam ser igualmente consideradas fantásticas.

Segundo relatos ancestrais, através da prática de sua magia, os druidas eram capazes de apropriar-se de certas aptidões de outros seres da cultura celta, incluindo o lamento sinistro das banshees ou os poderes metamórficos das selkies e dos pookas.

À medida que me aprofundo nesse conhecimento, cresce em mim o desejo de dominar a magia. Se com meus dons vampíricos já me tornei alguém extraordinário, imagine então o que poderia ser alcançado se unisse minha existência a alguém capaz de manipular as energias que nos circundam?

Que tipo de prole onipotente poderíamos conceber conjuntamente?

Quais grandiosas proezas seríamos capazes de realizar com a conjunção de nossas singularidades fisiológicas?

13 de setembro, 1809.

Após uma longa e profunda ausência, tomei a decisão de retornar à pitoresca Hîncesti para uma breve jornada de negócios, e não pude resistir à ideia de visitar o antiquário daquela mulher que tantas vezes ocupou meus pensamentos nos últimos anos.

No entanto, para minha desventura, deparei-me com a fachada do antigo estabelecimento, onde outrora ela operava, reformada e adornada com uma placa de aluguel fixada à porta.

Embora ansiasse ardentemente reencontrá-la, não vislumbrei sequer o menor indício da presença de Alanna Dubhghaill em seu antigo endereço, sendo obrigado a descobrir, através de estranhos, que sua filha, Arlene, havia se retirado do local após o trágico falecimento de sua progenitora.

Não nutrindo em meu ser sentimentos humanos como a tristeza ou a comoção, meu coração, contudo, estremeceu ao tomar ciência de que tão nobre mulher havia abandonado este mundo sem que pudéssemos, ao menos, compartilhar mais de nossos conhecimentos remotos, tal como em nossos dois primeiros e fortuitos encontros.

Ansiando desesperadamente por mais informações acerca dessa súbita passagem, em vão busquei encontrar quaisquer detalhes que pudessem saciar minha insaciável sede de conhecimento. A jovem Arlene partiu sorrateiramente durante a escuridão da noite, após a venda do antiquário, sem deixar rastro algum de seu novo endereço aos residentes circunvizinhos, causando-me grande aflição e desgosto.

18 de setembro, 1809.

Após longas e exaustivas diligências em busca de objetos pertencentes ao ilustre antiquário, rastreei um de extremo valor que havia sido vendido a uma mulher que morava a duas quadras do Din Trecut în Prezent. A morada em questão era um deplorável conjunto de dois cômodos, com sua fachada lastimavelmente deteriorada, porém, em seu interior, abrigava uma mulher romani que se autointitulava "vidente, cartomante e sensitiva".

Alina e o Concílio de SangueWhere stories live. Discover now