Capítulo 21 - Os segredos de Alanna

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OS DIÁRIOS DE DUMITRI

22 de maio, 1802.

A Guerra Napoleônica que assolava a Europa se estendia além das expectativas e, sobretudo, os conflitos em território italiano estavam me causando prejuízos incalculáveis.

A contragosto, parti da Bulgária em uma embarcação que se arrastou por semanas até o porto de Gênova. Ao pisar em tão conflituoso terreno, fui compelido a participar de inúmeras reuniões com advogados, latifundiários e burocratas, todos envolvidos nas questões acerca das posses que eu herdara do velho Giovanni Di Montanaro.

Intrincadas disputas jurídicas no âmbito da exportação me impediam de comercializar os produtos cultivados nas fazendas de trigo que me pertenciam por direito. Naquele período, a Itália era composta por uma miríade de estados e regiões agrícolas, cada uma com suas peculiaridades de cultivo, o que gerava tensões latentes entre eles, especialmente, entre os senhores que governavam as atividades agrárias no país.

A fim de evitar que esse assunto tedioso me mantivesse afastado de casa por mais tempo do que o estritamente necessário, decidi contratar um grupo de advogados italianos experientes para me auxiliarem, e confiei em suas mãos habilidosas a tarefa de resolver os problemas relacionados à exportação de trigo.

30 de abril, 1804.

Na presente data, recebi uma missiva do ilustre senhor Marcelo Bonaventura Di Montanaro, um dos hábeis advogados que encarreguei de desbravar os horizontes do comércio exterior de trigo. O homem é primo-neto de minha falecida consorte, a virtuosa Valentina, e tem exercido com maestria as importantes negociações junto aos compradores e fornecedores do precioso cereal, que nossas propriedades agrícolas têm prodigamente cultivado ao longo de décadas.

Em sua tão gentil mensagem escrita, o senhor Bonaventura informa-me sobre os êxitos alcançados nas transações com os mercadores locais de trigo, porém, sugere que uma exportação para as nações vizinhas da península possa configurar uma valiosa oportunidade para conquistar maior domínio de mercado. Consciente das agruras advindas da guerra, que promete acarretar severas dificuldades aos negociantes de produtos agrícolas, meu nobre Marcelo busca precaver-se, antecipando-se à crise iminente.

Determinarei que o mencionado cavalheiro proceda a uma minuciosa análise de mercado, a fim de verificar se detemos chances de crescimento, apesar dos avanços impetuosos perpetrados por Napoleão em todo o continente europeu. Nossa próxima interação servirá para deliberar a respeito das exportações, e aguardo com interesse tal ocasião propícia para tomar uma decisão fundamentada.

3 de junho, 1806.

No seu último comunicado, o honorável Marcelo Bonaventura comunicou-me com grande júbilo que o escritório da prestigiosa firma de advocacia Montanaro fora inaugurado com sucesso na bela cidade de Gênova. Para tal empreendimento, foi necessário que o caro cavalheiro dispusesse de alguns parcos escudos dos lucros provenientes das vendas do vinhedo em Nápoles, a fim de custear os festejos e regalos condizentes.

As fazendas de trigo continuam prosperando de forma auspiciosa, o que me levou a expandir nossas atividades para o cultivo de uvas e a manufatura de vinhos na região. Além da notória excelência dos vinhos produzidos nessa terra, a Itália vem se distinguindo também pela sua expertise na produção de azeitonas, frutas cítricas e hortaliças, despertando assim em minha pessoa o desejo de iniciar em breve tal empreendimento agrícola.

Com o prezado primo-neto de minha amada esposa à frente das minhas empreitadas, finalmente encontrei alguém habilidoso para gerir as minhas posses, cessando, assim, a necessidade constante de minhas viagens marítimas entre a Bulgária e demais paragens, as quais sempre me eram deveras incômodas.

Alina e o Concílio de SangueWhere stories live. Discover now