Capítulo 2 - Plano a longo prazo

25 6 9
                                    

O CASTELO CONSTANTINESCU fora erguido no século XVII e se manteve hirto e imponente através das décadas por conta do seu isolamento geográfico. Construído num dos montes mais íngremes da Transilvânia, se escondia dos olhares curiosos de moradores vizinhos por causa da vegetação alta que o circundava.

Longe de tudo, era a fortaleza perfeita para as famílias nobres que, em tempos idos, buscavam proteção de ataques inimigos atrás de suas paredes. Era o símbolo vivo de um período antigo de guerras e conflitos armados, todavia, atualmente, se mostrava antiquado para o mundo moderno que se estabelecia à sua volta, e se mostrava cada dia mais deslocado pelo tempo, como uma peça antiga fora do museu.

Eu possuía um misto de ótimas e péssimas recordações daquele castelo. Tinha me mudado para o local logo após a minha ressurreição no começo do século — após ficar enterrada e mumificada em uma câmara mortuária no Peru por quarenta anos — e gozei dos seus aposentos confortáveis enquanto me reconectava com o mundo que encontrei assim que despertei.

Foi ali que, meses depois do meu renascimento, eu me reencontrei com o meu meio-irmão, Costel, após uma separação de mais de quatro décadas. E também foi no interior daquelas paredes que esse mesmo Costel me reapresentou à minha amada filha, dez anos mais madura, com uma personalidade completamente diferente da que eu conhecia em nosso lar em Vaucluse, na França, porém, totalmente saudável e bem.

Após o sequestro de Costel em Oradea e da minha subsequente associação com a Teia — a agência internacional de combate às forças malignas ocultas —, o castelo com toda a sua mobília havia sido vendido e passou de mão em mão até que retornasse para a minha família. Costel — em sua identidade de Theodor Constantinescu, o poderoso empresário e administrador da refinaria petrolífera russa Novvy Kordon — usou de toda a sua influência para adquirir aquela pilha imensa de pedras e a passou para o nome de Alex tão logo teve a chance.

A minha filha agora possuía em seus documentos o sobrenome adotado por meu meio-irmão em seu retorno à Europa no começo do século e, por mais que eu odiasse admitir aquilo, como sua "sobrinha" no papel, ela era herdeira da fortuna acumulada por Costel ao longo daqueles anos, e teria boa parte da sua vida imortal muito bem financiada por todo aquele dinheiro.

Eu subi as escadas de piso rústico que me conduziram até um dos andares mais altos do castelo. As torres e as paredes espessas da sua arquitetura projetavam sombras assustadoras no jardim circundante à propriedade lá embaixo. Através das janelas grandes de molduras decorativas de pedra e madeira esculpida, era possível vislumbrar toda a paisagem bucólica da Transilvânia ao longe, e eu me detive por um segundo a contemplar aquele cenário incrível, além dos telhados em estilo de mansardas[1] e as suas várias seções de inclinação íngreme.

A caminho do meu destino, eu me encontrei com o mordomo francês que cuidava do restante da criadagem do castelo. Jean-Paul Duvivier era um homem prático e prestativo a quem eu recorria todas as vezes que necessitava saber mais a respeito da educação de Alex naqueles dez anos, e também a quem eu dava instruções quando precisava me comunicar com o meu irmão.

Fazia mais de um mês que eu estava morando provisoriamente sob o mesmo teto que ele por causa da minha filha, mas tinham sido raros os momentos em que havíamos nos encontrado, de fato, pelos corredores intermináveis do lugar. Quando não estava viajando a negócios, Costel passava mais da metade do seu tempo enfurnado dentro do seu escritório. Mal dava as caras na hora do jantar e pouco interagia com a sobrinha.

Depois que ele havia tentado me matar no castelo de Dumitri — logo após degolar o nosso antigo mestre — e fugido em seguida, não existiam motivos para voltar a confiar naquele homem. Costel tinha se transformado em uma criatura ardilosa e vil e, se não fosse pelo carinho que Alex desenvolvera por ele em minha ausência, a minha escolha seria por viver a um continente de distância do cretino, por segurança.

Alina e o Concílio de SangueWhere stories live. Discover now