Recepção

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      ― Me alegro em ver o tremular das flâmulas dos dez. Vejo também a âncora de Partagos, é bom vê-los. ― Disse Paliott curvando-se em uma reverência exagerada. ― Peço desculpas pelos sinos e a recepção rala, Senhor. Em nossos cálculos, os senhores chegariam apenas na próxima semana, ainda estávamos nos preparando. ― Sua túnica bordô esboçou um leve brilho vindo dos fios prata bordados por todo o tecido.

      ― Recepções pomposas não foram o que vim bus car em Casco. ― Respondeu Arlan ao descer de seu garanhão. ― Onde está o rei? Precisamos convocar o conselho. ― Concluiu retirando o elmo.

      ― Temo em dizer que isso não seja possível, Milorde. ― Uma expressão raivosa atravessou o rosto do cavaleiro. ― Infelizmente nosso soberano encontra-se debilitado, vossas atividades limitam-se aos seus aposentos. Enquanto o homem falava, Arlan ponderava; dois anos antes, vira pela última vez o rei de Casco. Naquela época, Marcius já era senil, dobrado pela idade.― Mas não tema. ― Continuou Paliott. ― A viagem deve ter sido severa. Entrem, vamos acomodá-los até que o conselho seja convocado.

      O General e seus dez comandantes passaram para dentro das instalações reais e foram acomodados cada um em seu quarto. Paliott dispôs damas para despi-los de suas armaduras, aquecer água para o banho, esfregar o sal de seus corpos e aliviar o desejo da carne.

     Depois do despojo de suas sujeiras marítimas, lhes deram roupas limpas, túnicas de seda bordadas em fios de ouro, e dispuseram óleos aromáticos para seus cabelos e barbas.

      Ao anoitecer, ofereceram-lhes um banquete farto, com pratos dos mais variados, sendo trazidos em bandejas de prata que refletiam as chamas alaranjadas das luminárias que bruxuleavam e clareavam o ambiente.

      Havia frango assado com batatas, costelas de porco em espetos com gosto agridoce e com os ossos soltando da carne. O cozinheiro chefe mandou abater um boi, aproveitou as melhores partes e colocou para assar com sal grosso e ervas finas, aos montes elas chegavam à mesa e rapidamente eram pegas por mãos ávidas e gordurosas. .

      A carne de carneiro fumegava e seu aroma era agradável, trouxeram pernil de porco defumado, cortado em fatias suculentas; um javali foi disposto no centro da mesa e sua pele rachava e estalava pelo calor do fogo que o havia assado. Para acompanhar, arroz com uvas ressecadas, tomates silvestres com alface, e farinha de um tipo de raiz torrada. Para jogar tudo isso para dentro, serviram vinho tinto suave e cerveja com espuma espessa e cremosa.

      Houve brindes, risos e gargalhadas, e os homens se juntaram para cantar músicas que os bardos emendavam umas às outras. Naquela noite, alegria encheu os salões do Rei de Casco.

      O único que não participou dessa cantoria e animação foi Arlan; ele era uma figura que quase se tornara parte da decoração, com movimentos mais agitados apenas durante a refeição. Bebeu pouco e não entoou canções, sempre se portando de maneira mais reservada e pensativa, por fim, foi o primeiro a se retirar do salão.

      Durante todo o dia seguinte, Arlan esperou notícias do rei, mas sequer se encontrou novamente com Paliott; o máximo que conseguiu foi um vislumbre de sua túnica esvoaçante passando pelos corredores do palácio.

      No terceiro dia de estadia, Arlan despiu-se de sua túnica e voltou a vestir cota. Solicitou a presença de seus homens de confiança, o imediato Rustos e seu irmão Rystos. Os dois foram as únicas companhias permitidas pelo general, até mesmo no jantar, onde os três sentaram-se em uma mesa e a conversa era alta o suficiente para chegar apenas aos seus ouvidos.

O Elmo de Blake - O conto dos EsquecidosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora