Remexeu-se, tentando se libertar sem sucesso.

Lupin, o de tez alva, girou e sorriu antes de voltar-se para o rapaz de pele parda, cuja barba bem-feita e o cabelo bem cortado transmitia profissionalidade. De longe, parecia um indiano ou paquistanês.

Kadir...

O homem colocou uma das mãos no ombro de Ignácio e, com um leve aperto, dirigiu-se ao local onde estava anteriormente.

— Vamos ao que interessa. — Lupin arrastou uma cadeira de metal até ele e a girou, ajeitando para se sentar diante dele. Apoiou os ombros e braços no encosto. — Ig, onde está o cetro?

— Sério que essa é a primeira pergunta que você me faz, Lu? — O azar de ser perseguido pelas pessoas que comandavam a maior irmandade de ladrões do planeta era algo fora de série. Quando Lupin e Kadir se uniam, só coisas ruins aconteciam. — Cadê o Moriarty?

— Distraindo as equipes do Julian. — Rasputin, recostado nas pilastras do que seria um armazém, resmungou algumas palavras. — Entrei em seu lugar, Pantera.

Ah, a velha e boa irmandade. Criada no passado para ser uma rede de espionagem para o antigo regime, rapidamente evoluiu para um complexo sistema orgânico de espiões e ladrões. Muitos chamavam-na de Organização, outros preferiam a Agência, mas Ignácio sabia a verdadeira identidade deles.

Não tinham uma concepção ou credo, apenas uma compreensão. Os líderes não eram os mais influentes nomes da história, e sim os mais capazes ladrões. Para entrar no círculo dos seis era necessário um feito tão grandioso, capaz de deixar países inteiros a seus pés.

Lupin havia roubado as joias da coroa britânica, Kadir criou o vírus do milênio, Moriarty? Esse era o mais perigoso. Os codinomes eram todos de personagens queridos do cinema e da literatura.

Por Ignácio ser um ladrão abençoado pelo azar e, ainda assim, ter sucesso, o seu apelido foi Pantera. Referência crassa aos ladrões elegantes e irreverentes.

— Cadê a Carmen ou a Irene? — Ignácio não as viu.

— Irene quer te matar, isso sim. — Lupin coçou o cavanhaque e olhou para Jane. — Na verdade, matar sua nova namorada. Sabe ela consegue ser.

— Não ouse...

— Eu ousarei se você falar assim comigo! — Lupin o interrompeu com veemência. As sobrancelhas se aproximaram, abaixadas; a tensão em torno da boca comprimiu os lábios e Ignácio pôde ver o furor em seus olhos. — Você nos traiu por ela! Uma policial vadia que sequer compreende o que você faz ou sua posição no submundo do crime! Satisfeito?

— Você conhece o amor, Lupin? — Tentou acalmá-lo com uma voz sutil. — Sim, eu sou um apreciador do sexo oposto, mas Jane é melhor que isso. Ela é engraçada, corajosa, divertida e que me faz ser um homem melhor por apenas ser inteligente. — Ele a fitou de canto de olho. — Eu me sinto capaz de feitos memoráveis quando estou com ela.

— Olha isso, Rasputin! — Lupin abriu os braços e se dirigiu ao enorme homem calado. — O famoso Pantera, o homem que roubou a Espada do Destino e a Chave dos Céus, apaixonado por uma agente! — Levou as mãos a testa e agitou a cabeça em negação. — Isso não existe. Agora me diga, onde está o Cetro de Cleópatra?

Jacque... Você me perdoaria se eu lhe revelar que sou da Irmandade? Eu, eu...

Não queria admitir, mas Lupin estava certo. Uma pessoa certinha e correta como ela não merecia alguém do submundo como ele. No entanto, sairia dessa vida. Faria a missão para seu irmão e exigiria uma vida mais digna, mais correta para que pudesse enfim escolher poder ficar com quem ele amava.

PT-BR | O Cetro MalditoWhere stories live. Discover now