IMPÉRIO DESUMANO - (Cap. VI de VII)

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"Nasci aqui, na região Tecno-Rural"

"Minha vida sempre foi muito boa e pacata aqui"

"Meus pais me fizeram valorizar a boa qualidade de vida que tínhamos"

"Ajudava minha família no plantio das proteínas que são a base alimentar de todos nós da Tecnolópole"

"Meu pai foi mecânico de satélites. Gostava de ficar aqui na chácara com a gente. Quando tinha que ir realizar alguma manutenção presencial em algum satélite,sempre voltava cheio de história legais! "

"Tudo foi perfeito até meus atuais dezesseis anos, e me lembro bem o momento que as coisas começaram a ficar estranhas"

"Estávamos assistindo as notícias na TV holográfica enquanto anunciaram a notícia sobre uma astrofísica que havia desaparecido no espaço"

"Dias depois meu pai foi convocado para um trabalho de manutenção presencial num satélite de limpeza espacial"

"Quando estava realizando a manutenção, o colapso surgiu"

"Todas as luzes se apagaram. O céu holográfico e fechos de luz que se destacavam na super-cidade, lá no horizonte, deixaram de existir por completo!"

"Depois disso, o caos se estabeleceu por toda a parte"

"Aviões caíram e veículos se colidiram"

"Mas aqui, longe da cidade, eu e minha mãe conseguimos nos manter bem"

"Depois de alguns dias, tudo se manteve desligado. As pessoas resolveram sair caminhando em busca de respostas, e vários moradores da região Tecno-rural seguiram rumo a cidade"

"Eu e minha mãe, como algumas outras famílias, resolvemos permanecer na nossa morada"

"Quase oito meses após o grande colapso, eles surgiram, como o verdadeiro apocalipse"

"Vieram da floresta, e não paravam de aparecer"

"Trouxeram o caos, e invadiram as casas das famílias que permaneceram aqui"

"Depois de muita destruição e anarquia, seguiram para a cidade como se estivessem certos em ocupar a área urbana"

"Eu e minha mãe nos mantivemos unidos, e conseguimos nos esconder dos malditos monstros canibais"

"Mas durante o ataque daqueles maníacos, um estilhaço atingiu nossa casa, atravessou a janela e acertou minha mãe"

"Parece que a infecção do ferimento só piora, e não tenho medicamento nenhum aqui para curar minha mãezinha"

"A única forma seria ir até a cidade, em algum centro médico tenho certeza que encontraria medicamentos, mas ir até lá com aqueles maníacos soltos por toda a parte é suicídio"

—...Depois disso tudo, surgiu você, com essa roupa de pano, sapatos gastos e semblante sereno. As linhas das palmas da mão em forma de mandala. O que mais esperar? — O jovem João, com sua assustada expressão explana.

Sentados num sofá que fica no canto do quarto, o jovem João Luz e Portinari seguem conversando empolgadamente. Assim, permanecem noite adentro.

A moça que permanecia adormecida na cama, desperta de seu sono.

— João? Você disse algo meu filho? — Questiona a mulher em voz fraca, enquanto abre os olhos tentando visualizar seu filho.

— Estou aqui mãezinha, está tudo bem.

— Quem é esse moço?

Antes que João respondesse a pergunta de sua mãe, o Sub-humano se apresenta.

— Eu me chamo Portinari, sou um amigo de seu filho... — Durante a noite, os três seguem conversando, e aquele sub-humano trouxe esperança para mãe e filho, da mesma forma que ao conhecer a família Luz, fortaleceu a esperança de encontrar seus filhos ainda com vida, mesmo após toda a catástrofe que "resetou" a civilização.

O que aqueles sobreviventes não sabiam era que os seres anarquistas canibais tinham um plano extremamente ambicioso. Uma estratégia inteligente e arquitetada de dominação e revolução. Um plano que extrapola o domínio das super cidades.

Naquela noite, mãe e filho se mantiveram acordados até mais tarde. Durante a noite, conversaram sobre muitas coisas, e compartilharam suas angústias com aquele estranho ser, que por algum motivo trazia sempre um semblante sereno, e palavras de conforto, que transmitiam paz e esperança.

Antes do amanhecer, o jovem e sua mãe pegam no sono. O Sub-humano permanece acordado e pensativo. Assim, seguem as horas até os primeiros raios de sol ameaçar surgir.

Com a claridade da manhã, João acorda. Percebe que estavam apenas ele e sua mãe no quarto. Por um instante chegou a pensar que tal encontro com aquele ser foi fruto de sua fértil imaginação. Mas quando sua mãe acordasse, confirmaria que foi tudo verdade.

Portinari já estava longe da região Tecno-Rural. Pela larga rodovia que antes se mantinha movimentada de automóveis, segue o sub-humano. Numa velocidade constante de sessenta quilômetros aquele ser conseguiu correr ao máximo que pôde, desviando dos pedaços de automóveis destruídos espalhados pela pista.

Sob a rodovia ele segue focado, mantendo o ritmo. Sem pausa, permanece rumando ao seu único norte, determinado em chegar logo na cidade e buscar descobrir o que houve com sua família.

Após algumas horas percorrendo pela rodovia suspensa, chega até um ponto onde já é possível visualizar os arranha-céus e emaranhado de torres de vidro e aço as quais compunham a paisagem urbana tecnocrática.

Um sentimento nostálgico surge no consciente do sub-humano. Dali em diante ele segue caminhando e observando a paisagem tecnológica da super cidade que agora não possuíam mais neons multicoloridos nem fechos de luz.

Não existem mais o céu holográfico com nuvens perfeitas nem a exuberante paleta de cores padronizadas. É possível ver o azul real do céu e as nuvens em salpicos brancos disformes a se mover.

Portinari admira aquela nova perspectiva. A Super cidade inteligente não aparenta mais ser a perfeita habitação, mas sim apenas um amontoado de estruturas que agora se mantinham desoladas. Umasuper cidade fantasma.

O ar, antes exageradamente perfumado, agora emite apenas odor de morte e sangue. O verdadeiro aroma do caos. Sangue, cinzas e carniça formando o cheiro doextermínio daquela civilização.

No local onde se encontrara na rodovia, o sub-humano verifica que um amontoado de esqueletos permanecia espalhado, como se fosse um tipo de bloqueio. Ele pausa sua caminhada naquele tenebroso lugar, e fica a refletir.

Em seus pensamentos sabe que qualquer um daqueles cadáveres pode ser algum membro de sua família. Se pudesse sentir desespero, medo ou angústia estaria arrasado, mas continua com sua sensação plena de paz, mesmo com consciência de que não estava feliz de verdade.

Foi nesse momento que Portinari, pela primeira vez cogitou a possibilidade de sua família estar toda morta. A ficha caiu para o sub-humano. 

"Não posso conviver eternamente com essa dúvida"

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 22, 2023 ⏰

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