Eu deveria ter notado, estava na minha frente todo esse tempo.

Ella é linda. Incrivelmente linda. Perfeita.

— Acho que temos muito que conversar, não é filho? Por que nós três não entramos e tomamos uma xícara de café, hum? Quero saber tudo sobre você, meu menino.

— E eu quero saber tudo sobre a senhora. — Digo e mamãe parece radiante com o meu interesse por sua vida.

— Então entrem, entrem. — Mamãe abre a porta e faz sinal para que entremos.

Ela nos guia até uma sala bem pequena com dois sofás velhos de dois lugares cada um, uma mesa de centro de madeira com alguns enfeites em cima e uma estante.

Paro em frente a essa estante e sinto um nó se formar na minha garganta quando vejo os vários porta retratos com fotos minhas em várias idades diferentes. Na prateleira de cima estão os troféus e prêmios que eu ganhei jogando futebol na escola.

Pego um deles nas mãos, está desgastado, velho. Lembro-me do dia em que o ganhei como se fosse ontem. Tinha 9 anos. Foi o primeiro troféu que eu ganhei, lembro-me de chegar em casa orgulhoso de mim mesmo, queria mostrar o troféu que eu tinha ganhado para o meu pai, queria deixa-lo orgulhoso, mostrar que ele estava errado, que eu era bom em alguma coisa.

Fui correndo mostrar para ele. Mas ele riu, pegou o troféu de minhas mãos e jogou contra a parede, dizendo que aquilo era um pedaço de merda assim como eu e que aquilo era nada, assim como eu.

Passo o polegar no canto, pelo material barato que se amassou naquele dia e devolvo ao seu lugar na estante.

Limpo a lágrima de meu rosto e fungo.

— Então, e aquele café? — Viro-me com um sorriso forçado. Mamãe e Ella estão me observando, mamãe me olha com tristeza, mas ao ver o meu sorriso, finge um também e sorri.

— Vou buscar agora mesmo. Sentem-se.

Ella e eu nos sentamos no mesmo sofá, um do lado do outro. O sofá é tão pequeno que nossas pernas ficam a poucos centímetros de se encostarem.

— Você está indo muito bem. — Ella coloca a mão em meu joelho e sorri para mim.

Seu sorriso me passa confiança, certeza, segurança até.

— Obrigado.

— Estou muito orgulhosa de como você está agindo, Vince. Sei que não deve estar sendo fácil esquecer toda a mágoa. Isso que você está fazendo é muito humilde.

Apenas sorrio e desvio os olhos.

Ella tem razão, minha atitude é humilde, não é? Esse não sou eu, eu sou muitas coisas, mas nunca fui humilde.

Mas eu estou gostando disso, estou me sentindo muito melhor do que se estivesse apontando o dedo na cara da minha mãe e acusando-a.

O que está acontecendo comigo? Como foi que eu mudei e nem ao menos percebi?

Olho para Ella, as mãos cruzadas em cima dos joelhos, a postura despreocupada e os olhos inocentes e curiosos observando a sala.

Será possível que foi ela quem fez isso comigo?

Antes de Ella eu nunca teria me preocupado com as crianças do abrigo, ou com qualquer outra na verdade. Antes de conhecer ela, nunca tinha me passado pela cabeça de enfrentar meus medos e vir procurar pela minha mãe, por mais que uma parte de mim quisesse, eu sei que nunca teria feito isso sozinho.

Antes de Ella eu...eu nunca havia me sentindo assim.

— Prontinho. — Mamãe reaparece carregando uma bandeja e a coloca em um espaço livre em cima da mesa de centro.

Paixão em Jogo         (Livro 5)Where stories live. Discover now