Capítulo 1

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MADDEN

Segurei a respiração quando Octavia jogou a merda da fumaça na minha direção, a ponta do cigarro queimando o papel com a força da sua tragada fez algo ranger por entre meus dentes. Eu odiava os hábitos daquela mulher e o cheiro terrível que ficava no cabelo dela.

— Deveria parar com essa merda. — sugeri pela quinquagésima vez apenas naquele ano.

— Vai se foder, Madden.

— Se você quiser... — meu sorriso cresceu divertido, mas não era uma verdade.

— Você é um idiota mesmo, Madds. — ela ficou vermelha por algum motivo que não pareceu ser vergonha — Só porque você foi o meu primeiro não significa que você é dono da minha boceta ou algo do tipo, não pense que vai falar qualquer merda para mim.

Octavia era o sinônimo mais próximo de um vulcão prestes à eclodir, talvez fosse a parte irracional do pai dela pendendo demais para o lado ou ela estivesse tendo um daqueles dias complicados de mulher. Todas as palavras que escorregaram de minha boca eram provocações, eu jamais transaria com minha prima novamente e jamais me colocaria sobre ela.

Fiquei em silêncio enquanto ouvia ela tragar mais do cigarro.

— Ivarsen pediu para que você matasse um homem. — ela disse — Como se sente?

— Não vai ser o primeiro que matei.

— Você matou o primeiro aos onze anos de idade para me proteger, acho que nunca vou esquecer isso.

— Desculpa ter causado seu trauma. — sussurrei.

O balanço rangeu quando ela encostou as costas na madeira do objeto velho.

— Você me salvou. — Octavia disse como um sussurro — Eu só não consigo entender, como consegue matar alguém sem sentir nada.

Eu não sabia o real motivo de estarmos cochichando sendo que estávamos sozinho em nosso esconderijo. Talvez o motivo fosse que tínhamos medo de dizer em voz alta que matei alguém aos onze anos de idade, quando ninguém além de nós dois presenciou o ato.

— Eu nunca sinto nada, tavia.

— Sente sim, por isso gosta de mim.

Ela nunca acreditava em minha realidade, mas eu não iria descordar em dizer que não sentia algo quando estava com ela. Eu sentia Octavia como um peso vivo para todo o meu lado morto.

— Eu só não quero que se preocupe comigo.

— E eu não quero que sinta remorso. — confessou.

— Eu não vou, ele era um criminoso. — eu disse para minha prima — Não ao estou fazendo isso porquê me importo com o mundo ou com a merda que Ivarsen está metendo nossa família, estou fazendo porque diferente de todos vocês... Eu não vou sentir nada ao fazer.

Octavia me encarou com aqueles olhos beirando a obsidiana, os fios do cabelo liso espalhando sobre o rosto pálido quando o vento colidia com sua pele.

— Ivarsen já matou pessoas, Keisa já matou pessoas... — ela disse — nossos pais já mataram pessoas.

— Todos eles sempre agiram por impulso, — expliquei — eu agi porquê não sinto.

— Acho que você é uma pedra, Madds.

Eu não sabia exatamente o que ela queria dizer com aquilo, mas algo era similar de alguma forma. Esperei minha prima terminar seu cigarro, eu gostava de assisti-lá viver, era como um retrato gótico antigo demais, quebrada com rachaduras e manchada com o delineado da noite passada.

Chasing - Madden Mori Where stories live. Discover now