― Anie... sua mãe está morrendo, e isso não está mais nas suas mãos. Você fez tudo que pôde. Talvez... talvez você deva aproveitar o tempo que tem com ela.

Minha cabeça estava girando. Olhei para ele horrorizada. Como ele podia dizer aquilo?

― Quem você acha que é para me dizer isso? ― Eu estava furiosa. E o empurrei com força. ― Quem você acha que é para tomar essa decisão por mim?

― Sua mãe me pediu isso; ela é minha madrasta, tinha que fazer isso por ela.

Meus olhos estavam nublados pelas lágrimas.

― Quer saber? Vai se ferrar. Vai se ferrar! Você só faz merda. Igual seu pai. Vai embora daqui. ― Meu choro se tornou sufocante, passei por ele correndo, abri a porta e subi a escada para o quarto.

A porta estava fechada. Sequei o rosto, respirei fundo e entrei. Minha mãe estava na cama abraçada com Neo, que estava dormindo com a cabeça deitada no seu peito.

Os olhos dela rolaram para mim quando entrei, estava fundos e avermelhados, e tentei esconder a vontade de chorar.

Ela parecia tão normal, apesar da palidez e pupilas enormes.

― E aí? ― Minha voz saiu trêmula e baixa. Mesmo assim, tentei sorrir.

Ela então sorriu de volta. Um sorriso lindo, lento e cheio de carinho.

Naquele momento enxerguei minha culpa. Em Josh indo embora, em Neo dormindo no colo da minha mãe. Em mim. A morte é um processo natural da vida, e a pior dor está em negar isso a si próprio.

Me aproximei da cama e subi, colocando o braço ao seu redor. Tentei só pensar em coisas boas, nos momentos bons que vivi com ela. Então uma voz lenta sussurrou no meu ouvido.

― Senti sua falta.

Meu coração se quebrou lentamente. Minhas lágrimas desceram desesperadamente. Achei que não ia aguentar.

― Você é mesmo uma chorona ― murmurou ela, os lábios encostando no meu cabelo.

Queria pedir pra ela não ir, não morrer, mas não estava em suas mãos.

― Olha pra mim, meu bem.

Balancei a cabeça, apertando os olhos em seu peito.

― Por favor, filha. ― Ela ergueu o braço e tocou meu cabelo. ― Não é sua culpa. Você fez tudo que pôde.

― Mas não foi o suficiente...

― Vou dizer para você o que li em um livro uma vez, entendeu? Quero que você continue a nadar. A vida pra você continua.

Não vou nadar sem você.

Levantei a cabeça. Tentei de alguma forma dizer através dos meus olhos que ela não deveria ir embora. Eu precisava dela.

― Não posso concordar com isso. Em... só esperar.

― Filha, isso não depende de você. ― Ela sorriu tristemente e eu vi lágrimas em seus olhos verdes. ― Você precisa entender isso.

Era isso que fazia doer ainda mais. Eu entendia.

Ela afastou meu cabelo para trás e secou minhas bochechas.

― Eu sei que seu aniversário é só amanhã ― ela murmurou, se inclinou, pegou uma embalagem na mesinha de cabeceira e me entregou ―, mas essa parece uma boa hora para te dar este presente.

Era grande e retangular, tipo um caderno, embrulhado em um papel colorido. Peguei, retirando o embrulho, que revelou um scrapbook com o meu nome escrito grande e rosa na capa, e uma frase Em Nome do Amor logo abaixo.

Em Nome do Amor  ✔(Concluída)Where stories live. Discover now