Tolerate it -Hinny

Volte para mim

Seus dedos tatearam o lugar vazio na cama a procurá-lo, apesar de saber que outra vez ele não passará a noite ali, e doeu, doeu como se uma mão invisível estivesse esmagando o seu peito, sufocando a sua alma.

Por favor! Volte pra mim

volte pra mim

volte pra mim...

Deitada em seu quarto bonito e solitário, rodeada de lençóis macios e travesseiros confortáveis ela costumava repetir essas palavras como se fosse um mantra, suplicando, implorando com toda a força de seu coração, enquanto encarava as mobílias sofisticadas e tão vazias quanto sua vida, desejando que ele voltasse para ela ao menos uma ultima vez.

Por favor! Volte pra mim

Volte pra mim

Volte pra mim...

Ginny costumava observá-lo pelo canto dos olhos, sempre atenta a seus movimentos, a maneira que ele penteava os cabelos com a ponta dos dedos, como endireitava os ombros cansados absorto em sua leitura, ou como costumava balançar o pé em um hábito incômodo adquirido com o tempo, apesar dos anos passados ele continuava bonito a maturidade lhe caia bem, e ainda carregava traços joviais em seu semblante, ainda lembrando o garoto que já fora um dia em sua aparência, ela apenas o observava como fazia desde criança, seus olhos treinados a buscá-lo, a analisá-lo e a desejar que ele a olhasse de volta, mais ele não faria isso, ele nunca olhava para ela, pelo menos não de verdade, tudo que ele enxergava era a esposa perfeita, a mãe de seus filhos e a mulher ao qual ele nunca poderia amar.

Ela deveria saber, quando ele regressou da guerra ferido, despedaçado, sua alma machucada, ela imaginou, que a gelidez de seu toque e a frieza de seus beijos era apenas um reflexo dos horrores que ele viverá, mais quem dera fosse isso, não demorou muito para que ela entendesse os motivos que o afastava, quando ele estava com Hermione seu semblante não era sisudo, seu olhar não era indiferente muito pelo contrário, seus olhos brilhavam em contemplação como se observasse a mais bela obra de arte, seu sorriso era fácil e sincero como se eles compartilhassem uma piada interna ao qual apenas eles dois pudessem entender, havia fogo entre eles um desejo escancarado que até mesmo um cego poderia enxergar, mas acima de tudo existia "amor", amor na sua mais pura e simples essência, amor ardente que queima como brasa, amor que faz do seu mundo o mundo dela, o amor que ele nunca sentiria por Ginny.

Houve um momento em que fora tudo para Harry, e ela sabia que seu amor deveria ser celebrado, mais ele apenas o tolera, fazendo-a se sentir como aquela garotinha insignificante implorando para ser notada, lutando para conquistar um lugar mínimo em seu coração, não era como se ele não gostasse dela, como se ele não tivesse tentado desesperadamente amá-la, ele tentou, ela sabia o quanto ele se esforçou para que o relacionamento deles desse certo, mais ela também sabia que eles só permaneciam juntos devido a seu senso ridículo de obrigação, que ele faria o que deveria apenas porque tinha de fazer, não era nela que ele pensava quando a beijava antes de dormir ou seu nome que chamava durante o sexo quando a fodia gostoso, era Hermione que frequentemente estampava seus pensamentos, era com Hermione que ele passara a noite passada, era com Hermione com quem ele queria estar agora.

Ela o olhou pelo canto dos olhos, e por um breve momento se permitiu acreditar que tudo não passará de um engano, uma mera ilusão que criara em sua própria cabeça, mas então ele levantou a cabeça de seu livro se virando e sorrindo para ela, não havia marcas deixadas em seu corpo, nem o cheiro do perfume dela em suas roupas, eles eram sempre cuidadosos, mas Ginny se habituou a observá-lo tempo de mais, o suficiente para saber que aquele maldito sorriso estampado em seu rosto, só existia quando eles estiveram juntos.

Não ela não entendera errado, suspirou com pesar segurando as lágrimas, o coração aos pedaços, agarrando-se em sua prece silenciosa.

Por favor! volte pra mim

volte pra mim

volte pra mim...

Volte para o nosso primeiro beijo, volte para os dias de sol, volte para aqueles momentos gloriosos em que pensei que me amava.