CAPÍTULO DEZENOVE

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Endro escutou com atenção. Entretanto, tinha uma dúvida que não saía da sua cabeça.

— Por que uma das minhas fraquezas não é igual às citadas no livro? Quando estou passando por problemas, geralmente, ela me domina.

Belória ficou muda. A pele enrugada se tornou pálida. O arrependimento brotou amargo na goela de Endro. Falou demais. Confiou demais. Sua mãe, se viva, estaria decepcionada. Ela olhou para Márvi que deu um sorrisinho amarelo, não havia relatado a ela sobre isso. Então Márvi desconfiava, por isso ele o ajudou aquelas vezes em que perdeu o controle.

— Deixa para lá. — Respirava com dificuldade devido às batidas pesadas do coração.

— Me explica como é isso.

— Não! Para te deixar mais assustada? Veja só, você está tremendo.

Ela ignorou o que Endro disse. Estalou os dedos e um livro fino apareceu aberto em suas mãos. Endro não conseguia visualizar o que tinha nele. Belória sorriu enquanto lia algo, podia ver a tensão nos lábios esticados. Enquanto sussurrava, Endro a encarava com o desespero o sufocando. Belória finalmente ergueu as vistas e o encarou.

— Não precisa se preocupar. É uma variação mágica. Parece que ela também está em processo de evolução, assim como nós. Eu não tenho muita informação sobre, além dessa que estou te falando.

Notou ter mais coisas que Belória resolveu não contar. Se perguntou se tinha algum motivo para isso. Entretanto, a preocupação não se foi. Sentia que precisava descobrir o que era essa magia estranha.

✷✷✷

Cansado e doido para dormir, levou a chave a fechadura. Percebeu que a porta estava aberta e que a luz lá dentro estava acesa. Estranhou. Lembrou-se de ter a trancado quando saiu apressado. Ou será que esqueceu? Tinha certeza que não.

Puxou uma flecha. Antes, escondida nas costas por feitiço. Encaixou-a no arco e ergueu-o, pronto para atirar. Essa palavra ainda era nova para Endro. Empurrou a porta. De pernas cruzadas na poltrona, Tuli segurava o fino livro, esperando-o. O corpo esfriou.

— O que faz na minha casa? — Mantinha a flecha apontada para o coração dele.

— Olha que livrinho interessante...

— Tire as mãos dele! — ordenou.

— Por que um livro de páginas brancas é tão importante a ponto de te deixar alterado a esse nível? Será o seu diário? — Ironia transbordava a pele roxa sobreposta por listras escuras.

Ele não podia ver! Mas, por quê? Imaginou que o livro tinha algum feitiço de proteção que impedia que qualquer um lesse o seu conteúdo. Uma preocupação a menos. Ainda assim, não conseguia acalmar.

— Relaxa. Só vim te fazer uma visitinha, já que você passou o dia todo e metade da noite, fora.

— Não te devo satisfação do que faço! — enfatizou bem essa frase. — É muita falta do que fazer ficar vigiando alguém. Se não me engano, também é crime.

— Não se esqueça que não está em sua Nação. E possivelmente nunca mais estará nela. — Sorriu maldoso.

O vermelho intenso começava a tomar posse da visão de Endro, que não se deu conta. Tuli, ao notar, disparou:

— Se me matar, estará encrencado.

Piscou retomando o controle sem dificuldade.

— Invasão de propriedade. Legítima defesa — rebateu.

Endro se saiu bem. Não deixaria isso o tirar do sério.

— Por que se humilha a esse nível?

Tuli ficou imóvel por alguns instantes.

Passado e FeitiçariaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora