Inópia de Emoções;

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O Gleeful não era capaz de sentir muitas coisas.

Ele se orgulhou disso por um tempo, mas logo descobriu que, no fundo, seu coração - que era tão frio e delicado quanto uma pedra de cristal -, estava sedento por algo.

Ele precisou olhar para dentro de si mesmo para conseguir descobrir a fundo sua necessidade de se sentir bem e, claro, aquela atitude foi a coisa mais difícil e decisiva que já fez na vida.

Afinal, seu interior era tão sem vida quanto uma floresta morta, banhada pelas cinzas de seu passado, que emergia das profundezas inerentes de sua alma e cobria tudo na superfície com sua neblina imparcial, mostrando que sempre estaria ali, mesmo que sua densidade nunca fosse ser uma barreira. O que o impediria de seguir em frente seriam seus próprios pés, caso se recusassem a andar.

Foi um processo doloroso. Reconhecer a si mesmo nunca é uma tarefa fácil, sequer era agradável.

Mas, mesmo assim, Mason refletiu todos os dias sobre sua vida. Sobre o fato de não sentir mais ânimo ao elaborar seus planos maquiavélicos e sobre o porquê daquela fumaça cinzenta começando a sufocá-lo de dentro para fora estar o atormentando, de repente.

Sua irmã nada de desconfiava e pouco se importava, afinal, eles nunca foram de muita conversa e sempre que se viam era "oi" e "tchau".

O mundo do Gleeful era solitário e cinzento. Combinava com sua natureza hostil, mas não com aquela pequena chama de fósforo que queimava pouco a pouco sua alma.

Ele teria convivido com isto por mais alguns anos, se não fosse por uma interferência inesperada.

Seu prazer e seu horror personificados em carne demoníaca, infiltrados por entre uma bela cabeleira azul.

Foi uma chegada repentina, Mason sabia que era tudo parte do plano de Mabel, ele sabia que a garota estava apenas usando o demônio como cobaia e o fazendo de escravo por diversão, mas ele não pôde evitar não se sentir estranho quando chegou perto daquele ser pela primeira vez.

Tudo o que o azulado fazia, até seu mínimo respirar, lhe despertava sensações desconhecidas e, consequentemente, o fazia ter atitudes tão indiferentes quanto a esquisitice que sentia ao se bater com aquele par brilhante de olhos azuis.

Vendo-o chorar, o Gleeful sempre lhe dava as costas. Vendo-o sorrir, ele lhe dava outras razões para chorar. Mason não se divertia com a infelicidade alheia, mas gostaria que o outro sofresse como ele sofria.

Era uma atitude egoísta e grotesca, mas ele pouco se importava com esses detalhes.

A questão ali era outra.

Quando passaram a conviver juntos, o demônio e ele, seu mundo foi de cinza para azul e, no fim, toda aquela frieza era porque aquele mestre tinha medo de ferir seu demônio.

Ele lhe dava muitas razões para se sentir infeliz, mas nunca para cair em desgraça como sentia que seu emocional havia caído e se degradado.

A relação não passava de uma linha tênue entre a razão e o bom senso, em que Mason rasgava o "bom senso" em dez mil pedacinhos e Will lhe entregava toda a razão de bandeja.

Em outras palavras, eles eram "aquele que suja" e "o passador de pano".

Com o tempo, Mason terminou permitindo que aquele azul trazido por Will também colorisse o dia cinzento que nunca mais sairia de seu coração.

Blue and Gray - WillDipOnde as histórias ganham vida. Descobre agora