1 - metamorfose

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CRUZAR O ESTADO em uma viagem de sete horas me faz sentir a Bella Swan se mudando para Forks

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CRUZAR O ESTADO em uma viagem de sete horas me faz sentir a Bella Swan se mudando para Forks. É como se eu pudesse ver a paisagem mudar de cor enquanto os prédios da cidade são substituídos por mato. Não tem jeito melhor de descrever isso. Eu tô me afastando cada vez mais da civilização e me embrenhando num mundo totalmente desconhecido.

Se ao menos houvesse vampiros gostosos nesse interior meia boca.

Fiz uma pesquisa rápida antes de colocar tudo na mala. Corina é um município de três mil habitantes, conhecido pelas colinas íngremes e tradições religiosas. Só tem uma escola, uma praça recém-reformada que parece ter levado todo o orçamento da cidade e uma feira municipal que faz sucesso nos domingos. A coisa mais interessante que consegui encontrar sobre o lugar foi uma postagem de oito anos atrás onde uma senhora reclamava que alguém roubou goiabas do seu quintal. Ela terminava seu texto enorme perguntando se Corina ainda era um lugar seguro pra se viver.

Infelizmente, a resposta é sim.

Eu sei porque foi exatamente isso que meu pai viu nesse lugar. Segurança. Talvez a coisa mais desejável entre pessoas como ele. Um lugar longe de tudo, onde as crianças vão de bicicleta pra escola e tudo é tão claustrofobicamente perto que nem se precisa de um carro. O que mais alguém poderia querer? Eu mesma estou nas nuvens!

— Se continuar com essa cara, vou começar a achar que você tá triste por me deixar — minha tia brinca, tirando a atenção da estrada por um segundo pra olhar para mim. Dou um sorriso forçado que a tira uma risada. — Tá bem, já entendi o recado.

— Você acha mesmo que eu não ia tá feliz por me livrar de você?

Afrouxo o cinto de segurança, apenas o suficiente pra que eu consiga estragar a minha postura e jogar meus pés sobre o painel do carro. Meus tênis vermelhos surrados parecem ainda mais sujos na luz do sol.

— E daí que vou morar no fim do mundo e perder contato com todos os meus amigos? — continuo com o tom brincalhão, mas ele não é o suficiente pra disfarçar o pânico na minha voz. — Pelo menos não vou precisar ouvir você cantando nunca mais.

— Ah, qual é! Eu não canto tão mal assim, tá? — ela rebate antes de me dar um soquinho no ombro. — E você precisa admitir que fui uma ótima colega de quarto. Das boas mesmo.

Sorrio, dando de ombros.

— É, deu pro gasto.

O soco seguinte atinge o meu braço com mais força.

Ainda falta uma hora pra chegarmos a Corina e mesmo com as paradas que fizemos no caminho pra esticar as pernas, meu corpo inteiro reclama de dor. As músicas da minha playlist já deixaram de ser relevantes faz tempo, servindo só como som ambiente pra esse carro cheio dos meus cacarecos. Todas as minhas coisas estão empacotadas em caixas no banco de trás, e olhar para elas me dá uma crise existencial profunda. Como posso sentir que já vivi tanto, quando meus dezesseis anos inteiros cabem em apenas cinco caixas?

Camisa NoveWhere stories live. Discover now