Capítulo 3 - Mãos Frias

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— QUE PORRA VOCÊ ACABOU DE FALAR!
— Ariel bate a palma de sua mão na mesa, fazendo um barulho estrondoso, papéis voaram e copos tremeram junto dos dois guardas presentes na sala.
Uma mulher, que estava ao lado de Ariel, recolheu os papéis que caíram no chão enquanto conversava. — Procurem! Eles não devem estar longe. — Os guardas trêmulos se retiraram do lugar.

— Mesmo se não foram longe, invadir a praça já deve ter sido motivo suficiente pra um alvoroço acontecer. — Ariel ajeita alguns papéis e se vira para a mulher.

— Não ouse pensar em beber.

— Ambeeeerrr... — Choramingou o anjo.

A mulher caminha lentamente até a porta enquanto ameaça. — Eu vou quebrar as garrafas mais velhas que achar!

— NÃONÃONÃONÃOOOO!!!!!! — Ariel segue os passos e agarra as mãos da mulher, se ajoelhando. — EU FAÇO QUALQUER COISA DEIXE MINHAS GARRAFAS EM PAZ!!!

— ENTÃO VOLTE A TRABALHAR!!!! — Amber aumenta seu tom de voz e continua. — Eu cuido dos demônios, volte pros papéis.
— Disse calmamente enquanto deixava a sala.

Desde a última vez, haviam se passado quatro anos, quatro anos inteiros de guerra, horas depois da última vez que Ariel se encontrou com Akira o governador do Céu declarou guerra contra o Inferno, e no mesmo dia aconteceu a primeira batalha, a primeira e provavelmente a mais sangrenta, a Estrada de Nuvens ficou repleta de tons de vermelho, o lugar mais calmo e cheio de paz que as pessoas podiam encontrar virou campo de batalhas barulhentas e raivosas.
Ariel não chegou nem perto de lutar, como sua família já atuava no campo da medicina ele seguiu como um médico de batalha, e em alguns momentos ajudava em estratégias de batalha. Amber também faz parte da Assembleia do Céu, ela e Ariel se conheceram alguns meses depois da guerra ter se iniciado e desde então viraram a companhia um do outro.
Amber é uma mulher que seu olhar causa arrepios, tem a pele pálida, seu cabelo é castanho escuro e seus olhos são azuis.

Ariel não teve notícias do demônio, ele não se esqueceu de seu amigo, muito pelo contrário, a promessa que eles fizeram estava guardada fortemente em sua memória, ele ainda espera encontrá-lo um dia.

...

Algumas horas se passaram e Amber voltou para a sala onde havia deixado Ariel.
— Não se acostume, é só hoje. — A mulher coloca na mesa uma taça de vinho.

— Eu sabia que seu coração não era tão frio assim! — Ariel agarra a taça com toda felicidade, bebendo o vinho como se fosse água.

— Eram poucos demônios, eu os prendi em celas diferentes e os guardas estão tentando arrancar algumas coisas. — Amber interrompe a própria frase, caminha lentamente até a porta e fecha à mesma, voltando ao lado de Ariel.
— Eles nos chamaram pra uma reunião pessoalmente, disseram que não podiam discutir isso em cartas. — Ela sussurra.

— Pessoalmente? Você sabe o porquê? — Ariel responde também aos sussurros, intrigado.

— Eles querem nossa ajuda pra recuperar uma arma, disseram que nós dois e outras quatro pessoas somos os únicos que eles podem confiar no momento. — Ela sussurra e se senta silenciosamente em uma cadeira ao lado.

— Quando e onde vamos nos encontrar?
— Ariel bebe a última gota de seu vinho, os sussurros ainda não vão parar.

— Hoje, uma da madrugada, na floresta. — Ela lança o olhar para o relógio pendurado em cima da porta, que estava apontando os números 6 e 4 (18:20)

— Quero conhecer as outras pessoas, deve ter um demônio entre elas, tirando a líder, pro local de encontro ser na floresta. — Ariel sentiu uma sensação familiar, nunca mais visitou a floresta depois do seu último encontro com o demônio.

— De fato, tem um demônio, é aquele capitão que ama deixar nossos soldados sem braço, caso não decida matar de uma vez. — Amber já atuou no campo de batalha e viu pessoalmente o capitão decapitar anjos, não era uma boa visão.

— Pelo menos ele arranca os braços, acho que seria pior ter suas asas cortadas fora do que os braços. — Ariel estica sua mão na frente da mulher. — Quero mais! — Os sussurros acabaram.

— Eu disse pra não se acostumar! — Amber empurra o braço do anjo para outro lado e sai da sala.

Ariel organiza a mesa que estava trabalhando e logo deixa a sala também, feliz por ter chegado sua hora favorita do dia, a hora do banho e do jantar.

...

— Atrasado novamente. — Sua tia reclama, sentada na ponta mais longe da mesa, com um funcionário ao lado.

— Demorei de propósito, não queria te encontrar. — Ariel pega um prato e arruma sua própria comida, ele odiava que pessoas fizessem as coisas por ele, ao contrário de sua tia, que tinha até um funcionário para acompanhá-la na hora do jantar.

— Você está cada dia mais sem educação.
— Ela encarou o menino com fogo nos olhos.

— Tá. — Ariel se senta na outra ponta da mesa.

— Você acabou com todas as fichas de hoje?

— Isso te interessa?

— Não posso saber?

— Não quero dizer. — Os dois passaram o resto do jantar em silêncio.

...

— Para de fazer barulho, quer morrer?
— Amber xinga o anjo aos sussurros, Ariel estava esbarrando em todos os galhos possíveis.

— Eu não tenho culpa! Eu já uso óculos, está escuro, e esses galhos estão todos no caminho! — Ariel se defende, também aos sussurros.

Eles continuam andando por mais alguns minutos, até chegarem em um riacho, que era o local de encontro, Amber caminha até uma mulher demônio, ela parecia menor que sua amiga, tem o cabelo loiro em um tom mais claro que de Ariel, o anjo não deixou de reparar na pequena pinta em baixo do seu olho, que criava um charme em meio a sua pele clara.

Ariel olhou para o lado e reparou em três pessoas brincando no raso do riacho, tentando fazer o mínimo de barulho possível enquanto jogavam água umas nas outras, a mais alta era uma mulher mais clara que Ariel, com tranças ruivas presas em um rabo de cavalo e embaixo de um de seus olhos havia uma cicatriz, um pequeno risco, como se tivesse sido feito por uma faca de jantar. A outra mulher, que estava ao seu lado, era a mais baixa e gorda dos três, com o cabelo longo, liso e preto junto de sardas nas bochechas e uma pele pálida, a terceira pessoa, um garoto, era bem parecido com a mulher de trança mesmo com sua pele clara, ele usava óculos e no seu cabelo havia uma mecha preta, além de ser ruivo igual a mulher de trança.

Tantas pessoas novas para Ariel processar que ele ficou ali por algum tempo, observando todos, em um canto, sozinho, claro que não é a primeira vez que ele fica sozinho em lugares, ele nem sequer está sozinho, mas, porque ele se sente sozinho?
Ariel começou a sentir um leve desconforto no peito, mas permaneceu quieto no seu canto, foi nessa hora que ele percebeu algo, estava faltando uma pessoa, Amber tinha dito que eram 4 pessoas além deles, e ela não incluiu a líder nessa contagem, certamente estava faltando alguém chegar, "Quem é essa pessoa?" E outros tipos de pensamentos não paravam de surgir, o anjo estava perdido em pensamentos, totalmente imergido no seu próprio mundo. Não se passou muito tempo e Ariel começou a sentir um desconforto, como se estivesse sendo observado, decidiu ignorar por um tempo, mas a sensação começou a incomodar, quando ele resolve olhar ao seu redor para procurar algo, mãos frias pousam nos seus ombros.

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