A Clearwater se prepara para começar seu expediente, lava as mãos (prometendo a si mesma que ia aproveitar o intervalo para ficar mais composta) e segue a ordem de pedidos que estava no caderninho de Mika. Normalmente Leah fica por trás do balcão preparando drinks e fazendo o papel de bartender sexy, às vezes ela também separa algumas brigas, nunca admitindo pra ninguém, mas ela adora se meter nas brigas de homens bêbados. Fora isso, ela faz a administração toda do bar, já que é a dona.

Abastecendo duas bandejas com lanches bastante recheados, ela anda até a mesa que fica mais distante, é a mesa que geralmente é usada por homens casados acompanhados por suas amantes. Isso porque é umas das únicas mesas mais discretas, tem a luz mais fraca, fica fora da visão de quem entra e basicamente faz seu trabalho ser "invisível".

Sem olhar para os clientes, ela deposita as duas bandejas cheias na mesa. —Boa tarde! Meu nome é Leah e eu vou substituir Mika no atendimento de vocês.— ela finalmente olha para as pessoas e sente seu sangue gelar por um breve momento, mas disfarça bem e volta à postura profissional de antes. —Daqui a pouco eu volto com as bebidas.

—Vai fingir que não conhece a gente?— Jared Cameron, um rapaz que costumava ser um dos melhores amigos de Leah, alfineta em um tom descontraído.

—Eu ia apenas atender vocês, estou trabalhando, não posso destratar meus clientes, tenho que ser educada.— ela sorrir falsamente. —Desejam mais alguma coisa além das bebidas?— direciona a pergunta ao restante da mesa, composta pela namorada de Jared, Kim, por Paul Lahote e uma garota que ela não reconhece, Samuel, seu ex noivo, e sua atual esposa, Emily, que por acaso é prima de Leah, além de que era sua mulher amiga também.

"Casos de família" Leah pensou sarcasticamente.

—Não sabia que trabalhava como garçonete.— Kim exclama simpática, ela e a outra garota são as únicas que não merecem o tratamento de gelo da Clearwater.

—Não sou garçonete, querida, sou a dona.— ela sorri sincera para a garota, tem muito orgulho de dizer essa frase. —Enfim, pedirei pra outra funcionária trazer o restante do pedido, espero que tenham uma boa refeição.— seu tom é educado e profissional.

—Leah, espera!— Leah suspira com o pedido de Emily, parece que ela simplesmente não pode respeitar a vontade dela de ficar longe deles. —Senta com a gente, por favor.

A Clearwater respira fundo, perguntando aos ancestrais se eles realmente gostavam de vê-la em prova de fogo. ”Velhotes infelizes! O inferno deve ser um tédio pra gostem tanto de brincar com a minha vida".

—Senhora, estou em meu horário de trabal-

—Por favor, não me trate assim…— Emily súplica e isso faz Leah sentir raiva, ao mesmo tempo em que sente culpa e saudade. —Não faz assim.

—Querida, talvez seja melhor deixar Leah trabalhar, tudo bem?— o tom leve de Sam faz a raiva de Leah se alastrar, destruindo os outros sentimentos que disputavam.

Ela se vira e anda até o banheiro, precisando urgentemente de um tempo para si, no caminho pede que umas das meninas que trabalha para ela fique responsável por aquela mesa.

Olhando no espelho do banheiro para funcionários, ela se permite refletir sobre como reagiu aos dois depois de três anos sem vê-los. Ela reconhece que a raiva não é mais pelo fato de ter sido trocada pela própria prima, isso foi muito filha da putagem por parte dos dois, mas eles eram as pessoas mais próximas dela fora seus pais, e destruíram seu coração sem dó nem piedade, destruíram a pessoa que ela era, tiraram seu chão e a deixaram sem apoio nenhum. O fato de que na época, ninguém com quem se importava parecia ver problema nisso só a tinha empurrado mais fundo no buraco de tristeza e depressão que ela tinha cavado.

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⏰ Last updated: Apr 15, 2023 ⏰

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Inefável | Leah C.Where stories live. Discover now