01 - Humilhada

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Chegou o primeiro capítulo de Pretérito Imperfeito, está bem longo e espero que gostem como gostaram de Certas Escolhas. Um grande beijo para todas e sem mais delongas, vamos á leitura. 

Boa Leitura!

DEZ ANOS ANTES...

KATHE

Eu ainda não acreditava na realidade que batia em minha porta. Lembro de suas palavras diversas vezes para ter certeza de que realmente ele tinha me dito aquilo. Como sempre, suas palavras estavam me machucando, me ferindo internamente. Ele não confiou em mim. Não me ajudou nesse momento que mais preciso dele, simplesmente virou as costas, deixando para trás tudo que vivemos, tudo que disse e senti. Já não consigo mais segurar as lágrimas que pedem passagem e as deixo rolar por minha face. Estou deitada em minha cama, pensando em tudo que vivi nesses oito anos que o amei incondicionalmente. Meu smartphone ainda permanece aceso, exibindo a última mensagem que trocamos antes de tudo isso acontecer. Mas não consigo mais olha-la sem que chore descontroladamente. Minha mente está clareando aos poucos e somente agora percebo o que sofri todo esse tempo. O quanto fui tola e cega. Mas isso vai ter um ponto final ou eu não me chamo Katherine Collins.

Me levanto da cama e me jogo embaixo do chuveiro. Preciso de um banho quente e demorado o suficiente para levar com a água todas as minhas dores, minhas mágoas, minhas lembranças dos piores momentos que vivi com esse amor louco, velado e nunca correspondido.

~*~*~*~* ~*~

Abro meus olhos com dificuldade por conta da luz do sol que bate em meu rosto. Minha janela está aberta. As cortinas esvoaçantes por conta do vento, trazem as vozes das crianças dos vizinhos que brincam na rua. Tento me levantar, mas uma dor insuportável invade minha cabeça me fazendo deitar novamente.

— Droga! — Esbravejo irritada.

Luto contra a dor e vou até o banheiro tateando os móveis para achar o caminho, já que não consigo nem ao menos piscar os olhos. Molho o rosto com água gelada, seco numa toalha e procuro um remédio na gaveta do armário. Bebo-o, e aos poucos consigo abrir os olhos e me olhar no espelho. Lembranças da noite passada povoam minha mente e eu sinto meus olhos queimarem. Seguro as lágrimas que teimam em querer sair e tiro a maquiagem borrada do dia anterior. Saio do banheiro e me encaro no espelho grande do meu quarto. Nele posso me ver por inteira, tentando perceber alguma diferença corporal, mas não vejo nada. Felizmente!

Desço as escadas e entro na cozinha encontrando meu irmão Ryan e minha tia Eleanor. Eu moro com ela desde a morte dos meus pais quando eu tinha apenas nove anos e meu irmão oito. Meu tio Leopold ainda estava vivo quando chegamos, mas um ano depois deixou minha tia por morte natural. Ainda assim, foi ela que sempre nos encorajou a seguir em frente e lutar para conquista nossos objetivos.

Filha de mãe Paulista e pai Novaiorquino, nasci no Brasil, assim como meu irmão, mas mudamos para NY às pressas. Nós éramos ricos, tínhamos tudo do bom e do melhor, mas meu pai visitou um cassino clandestino e gastou todo o nosso dinheiro. Mas o inferno só estava começando... meu pai viciou nos jogos aqui e ficou devendo um agiota. Isso resultou na morte dele e da minha mãe, mudando minha vida para sempre. Até hoje me lembro de me esconder com Ryan no guarda roupa e só sair de lá no dia seguinte, quando já tinha certeza que não havia mais ninguém em casa. Após a morte deles, meu irmão e eu viemos morar com nossos tios e desde então nos damos muito bem, ainda que a falta de mamãe habite eternamente em meu peito.

Volto minha atenção para o prato repleto de ovos e bacon esperando para serem devorados pela minha fome descomunal. Não demoro a saboreá-los junto ao copo de suco, constatando que a minha fome multiplicou nos últimos meses. Termino meu café e me preparo para sair.

Pretérito ImperfeitoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora