c a p í t u l o ✿ 6 6

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— Eu não poderia estar menos interessado — Daniel grunhiu, mas seu tom não era grosseiro, apenas exausto: — Desculpa, eu tô me sentindo péssimo ainda.

— O que você está sentindo?

Bianca estendeu a mão para segurar a dele enquanto atravessavam o jardim, que não escondia muito bem que houvera uma festa: ainda haviam latinhas de cerveja espalhadas, assim como garrafas de bebida e copos de plástico. Boa sorte para o Bellini do dia seguinte.

— Tô tonto, enjoado e com dor de cabeça — admitiu, respirando fundo o ar fresco da rua, na esperança que ajudasse um pouco com a tontura. De mãos dadas, ficava ainda mais evidente para Bianca o quanto ele cambaleava. — Eu nunca mais vou beber na vida.

Ela nem disfarçou a risada.

— Que foi? É sério! — Daniel insistiu, mas também sorria. Então franziu as sobrancelhas e pareceu lutar contra a ânsia de vômito e Bianca riu mais ainda. Ele revirou os olhos de brincadeira, mas puxou o celular do bolso e entregou para ela. — Toma, pede o Uber do meu celular. Põe o seu como primeira parada. Prometo que não vou vomitar no carro.

Saíram juntos pelo portão alto da mansão de Bellini, que ficava num bairro repleto de casas igualmente opulentas. Bastou que sentassem lado a lado na mureta para Daniel apoiar a cabeça no muro de pedra e fechar os olhos.

Assim que desbloqueou o celular dele, deu de cara com o wallpaper de TLOU que já conhecia por prints e uma conversa repleta de mensagens enviadas para "Z". Pelo horário, parecia ser de quando Daniel ainda estava trancado no banheiro.

Seu coração deu uma cambalhota e ela olhou de canto para se certificar de que ele ainda estava de olhos fechados, tentando não morrer. Quer dizer, não é como se tivesse fuçado o celular! Ela literalmente desbloqueou o celular e as mensagens pularam na sua cara.

Então quando saiu do aplicativo de conversa para procurar o de carona, precisou fingir que não tinha lido (com vários erros de digitação que tornaram o processo meio difícil): "O foda, Zoe, é que eu percebi que eu amo ela mais do que odeio a minha vida. Uma vez ela me disse que a irmã era um raio de sol e ela não era nada, você acredita? Eu disse que achava ela intensa como uma tempestade, mas agora eu tenho certeza que é pouco. Ela é a porra do sol, a lua e a estrelas, tudo junto. A Bianca é um universo inteiro. O meu universo. Um onde vale a pena viver."

"Nossa, isso ficou bem gay, né? Nunca fala isso pra ela, pelo amor de Deus... Mas olha, eu pensei no que você disse. Minha vida é uma merda mesmo, mas eu não posso perder as coisas boas nela por medo. Eu falo da Bianca, mas também de vocês, da Emily... Acho que tive uma epifania enquanto colocava as tripas pra fora. Quero me esforçar para melhorar."

"Vou vomitar de novo agora, mas é isso. Espero acordar cedo o suficiente para apagar essas trinta mensagens antes de você ler e me zoar por elas pelo resto da vida. Te amo, espero que você esteja aproveitando a festa"

Com toda a confusão de ser acordada às pressas e praticamente expulsa do quarto, sequer teve tempo de pensar no que sentiu quando o ouviu falar que a amava. Responderia numa batida de coração, se não soubesse que ele só falou aquilo porque achava que ela estava dormindo. Então teve a decência de seguir com o fingimento, tentando ignorar como todas as borboletas que moravam dentro de si enlouqueceram completamente.

Era bom ouvir que ele queria se esforçar para melhorar. Não seria uma mudança da noite para o dia, assim como não foi para ela (dias difíceis nunca faltavam...), mas decidir começar era importante. E pensar que ela era um dos motivos que o incentivou, fazia seu coração bater mais forte.

Depois de mais dez minutos esperando um motorista apenas para ele cancelar a viagem de última hora, Bianca suspirou. Já estavam ali há mais de vinte minutos, Daniel parecia prestes a apagar e ela não fazia ideia de como voltaria para o internato. Boa, Bianca, larga suas amigas por causa de homem mesmo...

CamelliaWhere stories live. Discover now