espinhos

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Quando meu coração quebrou pela primeira vez, segurei firme o deslize de lágrimas, fechei meu olhos, e permiti que a chuva me poupasse água e sais minerais. Esqueci de você por cinco minutos, mas logo em seguida deixei que todo o amor que tinha apodrecido dentro de mim se tornasse palavras, escrevendo poemas sobre você, mais uma vez.

Mais um ano, e eu garanto que meu amor por ti perpetuará por todas as próximas primaveras, outonos, invernos e verões. Mas não poderei garantir ao meu coração que o mesmo será curado, e espero que um dia ele me perdoe por isso, me perdoe por insistir tanto em segurar a mesma flor com os mesmos espinhos enquanto suas pétalas se dissipam sob meus olhos.

Todos traçaram suas próprias histórias, mas as nossas continuam se cruzando como num jogo de tabuleiro em que o final é sempre o mesmo. Sentir que você é uma cicatriz incurável da minha vida faz tudo parecer uma grande piada, que eu sigo contando e esperando a plateia rir mais uma vez.

Talvez você seja o erro que eu continuo cometendo em todas as vidas, uma maldição que me assola dia após dia. O que mais me indaga é que o arrependimento paira sobre meu peito todas as manhãs, todos os dias me arrependo de ter me deixado te amar, pois sem esse deslize garanto que minhas lágrimas de madrugada teriam outra motivação.

Eu preciso chorar, chorar todas as noites e todos os dias para tirar esse peso de mim. Preciso que uma tonelada de emoções corram pelo meu rosto para que eu possa ignorar o fato de que meu amor por ti transborda infinitamente, e que meu único desejo é que você arranque-o do meu peito e faça que minha vontade de te amar sesse.

Meu egoísmo transparece sempre que te vejo com outro alguém, mas escondo isso dentre piadas e mais piadas, não quero que você saiba que me sinto um fracasso por não te ter. Ou em palavras melhores, me sinto um fracasso por não pertencer à você.

Pois meu único desejo é que que você me olhe como uma preciosidade assim como eu te olho sempre que te vejo.

Quando eu paro e observo nossa Polaroid empoeirada, só consigo pensar que ainda estou aqui do seu lado, como se nunca sequer algum dia teria pensado em ir em bora, o que de fato acontecera. Devo dizer que nunca escolhi estar contigo, mas meu corpo decidiu isso por mim, você foi a chave que faltava para destrancar meu coração e tudo o que restava de bom nele.

Você foi o amor de novela que eu precisava viver, um romance confuso que nunca tem um ponto final, sempre esperando a continuação pelos próximos capítulos. Um amor que se desenvolve como num livro de letrinhas miúdas, onde a cada virada de página, restam mais infinitas para chegar ao último parágrafo.

Te amar é como escutar a mesma música repetidas vezes, decorando cada palavra e gravando partituras esperando pelo dia o qual sua melodia irá me cansar.

Doeu quando me bombardeou com tantas verdades, uma ferida se abriu quando percebi que não importa o tempo que passasse, segurar seus espinhos não faria com que você se sentisse amada.

E não importaria quantas vezes você se esforçasse para desabrochar, minha luz nunca foi o suficiente para te livrar dessas correntes que te prendem na solidão.

Mas mesmo que todo o campo de flores desabrochem sobre meus olhos, sempre estarei ao seu lado, esperando incansavelmente pelo seu despertar, mesmo que não seja eu quem estará segurando seus espinhos.

Sinto a angústia em meu peito ao pensar que tudo isso não passou de alucinações.

As vezes me pego repetindo incansavelmente que te amo, mesmo que eu já tenha excedido os limites que eu tinha sobre isso.

Você foi o meu amor não vivido mais inesquecível.

Inesquecível tal como as cores do por do Sol em uma tarde de verão, ou como uma jarra de limonada rosa, ou talvez como o vento frio que sopra nos cemitérios, ou como o ranger de dentes numa sala de cinema, ou como braços ensanguentados após mais uma luta diária.

Você é inesquecível como o apocalipse.

Colapsei dentre os pensamentos que tive sobre você, pintei uma paisagem única e inexistente no meu vazio espiritual, acreditei durante cada segundo que fagulhas iriam surgir entre nós.

Fagulhas surgiram, mas nenhuma delas foram de paixão.

O que me encanta é saber que mesmo estando nessa zona de perigo, me sinto confortável, confortável em saber que posso finalmente sentir, sem precisar me esconder. Sentir por você aquilo que nunca fui capaz de sentir por mais ninguém.

E dessa forma me vejo crescer, crescer com minhas próprias forças e minhas motivações, mas com você ao meu lado, secando minhas lágrimas e me lembrando de não desistir de continuar aprendendo enquanto rastejo e tropeço em meus próprios erros.

Isso me encanta, você me encanta, sua voz, seu sorriso, seu toque, seu cheiro, a maneira com a qual discutimos, a maneira com a qual concordamos. Tu veio como um ciclone, e se tornou uma tempestade de paixão.

Agora apenas sinto que te amo, de novo.

Foram tantos anos tentando entender a intensidade e a complexidade dos meus sentimentos que agora me sinto em paz, estou em paz em saber que te amo, e está tudo bem.

Sinto muito em te amar tanto que não posso ser a garota certa para você.

Mas de qualquer maneira isso nunca foi sobre mim ou sobre aquilo que eu senti ao seu lado, fomos apenas história traçadas no mesmo parágrafo, garotas confusas em realidades patéticas, submersas em traumas vivos e dores recentes.

Agora somos muito mais do que aquilo que mais tarde se passou, somos nossas próprias histórias de agora e diante.

Somos apenas duas rosas num campo florido, repletas de espinhos, esperando por alguém que irá suporta-los.

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