One Upon A Flight {PTBR}

I

Quando você é nascido dentro da nobreza, não há muita escolha nos amigos que fará. Normalmente, eles “por acaso" acabam sendo os filhos de outras pessoas importantes com quem você pretende construir um relacionamento com o passar dos anos; um de indiferença ou de apenas uma leve tolerância cementada em alguns menores pontos em comum que possam abrir oportunidades para eventuais acordos de benefício mútuo. Mas o futuro lord Ezreal Greenbriar sempre foi um contrariador por natureza, preferindo travessuras às normas da corte. Então é claro que a fada com quem ele deveria ter um relacionamento neutro se tornou sua amiga mais querida.

Quando criança, ele não se importava com etiqueta e outras expectativas que lhe eram empurradas, e para ser honesto, até nos dias atuais ainda não se importa. Ezreal é do tipo que prefere subir nas árvores em vez de simplesmente voar entre os galhos e sujar suas roupas na lama da floresta enquanto procura por besouros brilhantes, muito obrigado. Diante disso, se torna bastante claro que o jovem mestre Ezreal não tinha nenhuma perspectiva positiva de receber uma "companhia com quem praticar boas maneiras", pois isso significava que seriam obrigados a se aturar por algum tempo determinado. Ele não tinha como opinar sobre o assunto, porém já havia causado muitos problemas ao quebrar acidentalmente um dos vasos de prestigiosos de seu tio, então o jovem prometeu que ao menos tentaria cooperar com o acordo. Não exatamente que prestaria qualquer esforço, mas que tentaria.

— Que bom te receber — O menino feérico praticamente cuspiu aquelas palavras da maneira mais educada que conseguiu, e no entanto, é claramente perceptível como ele está irritado por ter que passar a próxima hora nessa situação.

Ezreal já era velho demais para “encontros de brincar”, porém isso era exatamente tudo o que essa conjuntura se tratava. E também o incomodava um pouco como a garota na frente dele ainda era mais alta que ele. Apenas por alguns centímetros, mas ainda perceptível aos seus olhos atentos.

— E eu venho com prazer! — A mocinha responde de forma impecável, mas Ezreal é capaz de captar o discreto vislumbre de um aborrecimento compartilhado que ela com certeza sabia como esconder melhor dos adultos.

Seraphine Xingguang era um exemplo excelente de como uma “verdadeira dama” provavelmente deveria ser, pois ela estava parada na frente de Ezreal com uma postura perfeita, usando um chamativo vestido de lírio-tigre e cabelo verde estava perfeitamente amarrado em um rabo de cavalo alto. Seu sorriso não era muito largo, nem muito discreto. Era simplesmente perfeito, perfeito demais. Ensaiado, Ezreal notou, e aquelas pequenas rachaduras em sua fachada de porcelana fizeram o garoto inclinar a cabeça para o lado com curiosidade. Seraphine percebeu isso também, e a mudança na posição de sua cabeça foi mais discreta do que a de seu novo companheiro. Ambos trocando um olhar de divertimento antes de suas atenções serem atraídas pelo pai de Ezreal, o Lord do Verão, guiando-os para uma das salas de estudo onde deveriam ficar.

E assim a hora começou a ser contada, pois a ampulheta havia sido virada de cabeça para baixo e a areia de quartzo rosa começou a cair segundo a segundo em direção a metade vazia. Ezreal franziu ainda mais a testa quando as portas foram fechadas e ele deveria ficar sozinho com Seraphine, suspirando profundamente enquanto se movia em sua direção.

— Bem, por onde nós- — Mas o feérico se interrompeu quando percebeu que Seraphine não estava atrás dele como havia pensado, tendo que dar uma olhada ao redor para ver a garota abrindo uma das janelas curvas para escapar do local.

Ezreal olhou para a cena indignado. Ah, então ela poderia simplesmente fugir quando quisesse e ele estava proibido de fazer o mesmo? Ezreal achava que não, pois deu um salto e abriu as asas para voar em direção à menina, apoiando as mãos no parapeito da janela enquanto Seraphine já estava com o joelho esquerdo dobrado do outro lado dela.