iii. olhos azuis

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O loiro me surpreendeu. As vezes eu me esquecia como as pessoas desse século eram muito mais sociáveis.

— É um prazer em conhecê-los. — ele veio ao meu grupo dando apertos de mãos, examinando todos de forma mansa.

Eu não era diferente, apesar de ter sido a última, tanto pela minha falta de vontade de contato quanto pela falta de presença, imagino.

Ele me encarou de uma forma socialmente aceitável, como se eu fosse tão necessária quanto os outros, antes de fitar a todos também, com um sorriso sem mostrar os dentes.

— Meu nome é Johan Liebert.

Um nome comum e estranho, ao mesmo tempo. Johan é comum. Liebert, não. É um último nome raro e que exala cuidado, como um apelido para alguém que é amado.

Combinava com ele.


— Que sobrenome adorável. — comentei, tentando não parecer deslocada do ambiente. Eu não era tão capaz de forçar meu rosto a moldar para um sorriso, mas sei que minha voz era suave o suficiente para não aparentar qualquer negatividade. — Sou (nome) (sobrenome).

— Seu nome também é adorável. — devolveu o elogio. Em vez de responder, deixei que os outros se apresentassem.


Ele se deu bem com todos. O grupo que me reuni em certo momento se envolveu em uma conversa com a 'estrela' da nossa sala.

Não queria desconfiar dele, realmente não queria, mas ele tinha uma linguagem corporal confiante e gentil, mas tão calculada. Por essa sensação corroente, decidi não falar muito com ele. Nunca se sabe qual é a intenção real de alguém, afinal.


Curiosamente ele passou um bom tempo com o meu grupo. Talvez por isso muitas pessoas passaram a conversar conosco.


Me arrependi de ter falado que dez iguais a ele podiam estar por aí.

Ele era bonitinho de longe, mas de perto? Um verdadeiro narciso. O rosto dele era muito simétrico.

Faz sentido as pessoas quererem ele por perto, um homem simpático e bonito que se vestia á moda antiga era um combo raro para a década atual.

No entanto, eu já vivi na mesma época que Henry Cavill, Lee dong-wook e Jensen Ackles estavam atuando nos filmes que eu mais gostava. Não só isso, mas a popularização de otome games me fez ter alta expectativas do que pode ser atrativo para mim.


Um grupo de jovens mulheres também veio, chamando-nos para uma festa do curso.

— Vai ser como uma confraternização só para as salas de direito — a mais falante delas, Amy, explicou, enquanto escrevia o endereço do lugar e entregou para Johan.

— Vai ter janta, lanches, bebida e outras coisas divertidas. — outra garota tomou liderança da conversa. Ela piscou para o loiro e, como se finalmente percebesse que ele não estava sozinho, avisou para os outros: — Vocês também estão convidados. Quanto mais gente, melhor!

— Vocês vão? — Johan perguntou depois que elas se afastaram.


Stanley, o velho com quem me sentei perto, balançou a cabeça em negação.

— Estou velho demais para isso. E essa semana eu vou cuidar dos meus filhos.


A dupla de garotas concordou em ir.

— Se vocês forem, eu vou. — falei, embora, se fosse só eu, ainda iria. Era um jantar de graça.

E certamente era um lugar mais calmo que a festa que todos os calouros de todos os cursos iriam nessa mesma semana.


Johan parecia satisfeito. Ele dividiu o endereço com as garotas e eu.

Era longe da minha casa, provavelmente a festa iria acontecer em algum bairro rico.

— Espero que a gente se esbarre por lá. — ele disse enquanto se despediu.

Nós esperamos ele sair para falar entre nós. Em apenas um dia eu percebi que provavelmente passaríamos o resto do ano juntos - não que isso seja ruim.

— Ele é bem educado. — o pensamento do mais velho entre nós mudou como um interruptor. — Parece uma boa pessoa.

Eu esperava que ele estivesse tão cético quanto eu, mas fui recebida pela solidão de um pensamento. Talvez o problema esteja em mim, que desconfio de tudo e todos.

Chamar alguém que acabou de conhecer como 'boa pessoa' é exagero...

— E é ainda mais gatinho de perto... — a morena, Heidi, suspirou de forma sonhadora.


Eu fiquei sorridente com a visão das garotas, cujos olhos tinham um brilho de juventude que não reconhecia mais em mim mesma.

Eu gostava de como os verdadeiros jovens viviam com tanta animação para as paixões.

Era fato que eu era jovem como eles fisicamente. Eu passei pelo desenvolvimento corporal e cerebral como todos, mas ainda sentia que minha alma estava desgastada.

Ela de fato estava, depois de ter vivido uma vida e ter ido para outro corpo. Nunca pensei muito a fundo sobre o motivo por trás. Por ambas as vidas possuírem o mesmo nome completo, só decidi que era o destino.


Antes de alcançar minha fase adulta, meu cérebro doía sempre que memórias passadas me iluminavam em momentos aleatórios ou instintos passados.

Felizmente eu só sofri de enxaquecas e de, raramente, ondas de febre fortes que apenas me deixavam desacordada, revivendo a primeira vida de forma mais longa e intensa.


Depois da faculdade, fui para casa me arrumar para festa. Eu liguei para Lottie avisando que iria para uma festa hoje de última hora, pois queria me enturmar.

— Você quer fazer o tal do networking, né? — a garota do outro lado riu. Ela achava engraçado a forma que eu 'criava' ou utilizava palavras.

— Sim. Qual roupa eu uso, Lottie? — perguntei, indecisa. — Uso saia ou calça? Eu quero usar minha blusa de gola alta.

— A saia vai combinar mais. E não estou falando da longa!

— Eu não vou usar uma saia mostrando minhas coxas nesse frio. — eu neguei imediatamente. Embora eu gostasse de usar minissaias, o evento e o tempo não deixavam brechas.

— Puritana!


Abri meu guarda roupa, rindo do grito indignado de Lottie.

Eu decidi usar roupas elegantes, mas não rigidamente formais. Algo que não chamasse muita atenção, mas que fosse bem visto.

Uma saia, meia-calças, uma blusa de manga longa e gola alta e sapatos com saltos baixos. Eu enfeitei meu rosto de brincos longos que combinavam com o penteado simples que fiz. As roupas não eram coloridas, mas os brincos brilhavam e meus lábios estavam rosados.

— Você parece uma freira com essa saia.

— Se manca, Lottie.

Eu conversei com ela até o metade do caminho. Quando cheguei ao meu destino, vi que era uma casa realmente grande. E era de um bairro próximo ao de Lottie.

GOLDEN HOUR • johan liebertUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum