Anastasia claramente não está na mesma página que eu.

E eu nem posso culpá-la por não confiar em mim.

— E então, Christian? Você disse que iria explicar o por que dessa proposta, estou esperando.

Suspiro e olho para o anel perfeitamente posicionado na almofada de veludo vermelho. Kerim me surpreendeu outra vez com o seu talento e o resultado superou as minhas expectativas.

Eu queria um anel suntuoso, brilhante o suficiente para ser visto a quilômetros de distância e grande o suficiente para expressar o tamanho dos meus sentimentos por ela.

Se eu for sincero tenho certeza que não a verei nunca mais. Anastasia vai se assustar com a minha declaração e correr para o canto mais longe que conseguir.

Mas se eu mentir posso atingir o meu objetivo e mantê-la ao meu lado.

— Tem razão, eu quero um casamento por conveniência. — respiro fundo e olho para ela através do reflexo da janela. — Ser solteiro está prejudicando a minha imagem política. Consigo agradar as pessoas com propostas mas o meu estado civil ainda é uma questão problemática.

Assumo a expressão impassível que aperfeiçoei ao longo dos últimos sete anos e me viro para ela novamente, fingindo indiferença.

— Nós precisamos ganhar essa eleição, Anastasia.

— Christian, isso é errado. Não tem como vencer usando mentiras e manipulações.

— Meu pai está mentindo e manipulando informações para me desmoralizar, Anastasia. Só estamos entrando no jogo dele e usando os mesmos truques. — dou de ombros e sirvo outras duas doses de conhaque, estendendo um dos copos para ela.

Anastasia pega-o com as mãos trêmulas e toma tudo num gole só.

— Isso é absurdo. Ninguém acreditaria. — bufo e reviro os olhos, me sentando de frente para ela.

— Depois do que fizemos hoje na apresentação da Future Steps pode ficar tranquila, baby. Todos vão acreditar no nosso amor avassalador.

— Fez tudo aquilo de propósito, não foi? Os toques, a pose de homem ciumento. Tudo faz parte do seu jogo doentio de merda. — Anastasia rosna e eu sorrio.

— Talvez. Nunca te disseram que tudo é válido para vencer uma guerra?

— Eu não sei por que ainda me escandalizo com você, sinceramente. — ela esfrega os olhos e apoia os cotovelos nas coxas, o queixo nas palmas das mãos. — Isso é baixo, Christian. E absurdamente hipócrita. Queremos instaurar uma forma de governo mais moderno que defende a liberdade e as escolhas, não regredir usando casamento como medidor de caráter ou competência.

— Eu sei, Anastasia, mas a sociedade é hipócrita. Quer você acredite ou não as pessoas são dissimuladas. — respiro fundo e levanto o queixo dela, meus polegares acariciando delicadamente as bochechas pálidas e frias. — Concordo com você, estado civil não é sinônimo de honestidade e preparo, mas algumas pessoas ainda dão muito valor a isso. É hipócrita um homem falar da santidade do casamento e ter amantes na rua. É hipócrita uma mulher exigir dinheiro para a educação dos filhos mas tirar as crianças da escola para trabalharem. É hipócrita um velho dizer que é a favor da vida depois de ter matado dezenas de inocentes nas guerras covardes que iniciamos por nada. Isso tudo é uma hipocrisia do caralho, mas rende votos. São pessoas péssimas mas que têm direito ao voto e se nós quisermos mudar as coisas, precisaremos aceitar esse padrão estabelecido e destruí-lo de dentro para fora quando chegarmos lá.

Lágrimas rolam pelo rosto perfeito e eu seco todas, lutando contra a vontade de calar os soluções baixinhos dela com um beijo.

Anastasia parece atordoada com o meu discurso. Ou talvez esteja impressionada com o rumo dos meus pensamentos.

Mr. President Where stories live. Discover now