Thunderous rumo a Coruscant

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Ele vagava por seu camarote, livre das máquinas que lhe garantiam a sobrevivência. Caminhava com leveza, quase como se flutuasse. Respirava profundamente, enchendo os pulmões de ar, sentindo-se disposto.
Estava pronto para começar sua meditação. Até então, Darth Vader estivera apenas preparando sua mente.
Encontrava-se no interior de sua câmara de meditação, temporariamente afastado de qualquer contato com o exterior. No isolamento de seu camarote acusticamente lacrado, era difícil perceber que se encontrava a bordo de um destroier estelar imperial, o qual, no momento, viajava pouco acima da velocidade da luz.
Ainda lhe restava algum tempo antes que a nave chegasse a seu destino: a órbita do planeta Coruscant. Teria uma audiência com seu mestre, o imperador Palpatine, e era primordial que estivesse mentalmente preparado quando chegasse ao palácio imperial.
Como de costume, antes de iniciar sua meditação, Vader aproveitava o alcance das baixas frequências cerebrais obtidas através de relaxamento induzido, para laborar a reconstrução de seu corpo, o qual, no momento, encontrava-se com sérias sequelas de um combate mortal, travado há muitos anos e do qual quase resultou a perda de sua vida.
Era sabedor de que a “Força” poderia proporcionar a seus detentores a realização de feitos inimagináveis, como a reestruturação molecular de partes de um organismo. A recuperação de suas funções vitais, de modo que pudesse dispensar o auxílio de máquinas para sobreviver, seria apenas questão de tempo, paciência e exercício da mente sobre o corpo.
A visualização, imaginando-se em condição liberta daqueles equipamentos, era um dos artifícios que usava para explorar a “Força” em seu benefício, permitindo que ela se manifestasse de forma direcionada. Por isso, criava imagens mentais, como se estivesse observando a si mesmo, caminhar pelo aposento, com um corpo totalmente são. Aquele era um raro artifício do qual, um jedi experiente, poderia buscar utilizar-se, embora os resultados dependessem muito de seu grau de interação com a “Força”. Todavia, Vader aprendera a utilizá-lo sob a ótica sith.
Inspirou profundamente o ar rico em oxigênio de sua câmara hiperbárica, projetando naquela imagem idealizada e, posteriormente, no próprio corpo físico, todo o seu desejo de restaurá-lo.
Ao concentrar-se em suas lesões, foi imediatamente levado para aquele dia.... O pior dia de sua vida. Era impossível esquecê-lo.
Via-se novamente, frente a frente com seu antigo mestre. Um turbilhão de sentimentos eclodia em seu peito. Muita mágoa e frustração reprimidas, carregadas por anos, encontraram então a fagulha que as detonaria em ódio: ciúmes.
Como Padmé pudera traí-lo, levando Obi-Wan a seu encontro?
Ela estava diferente... Fora enganada! Ele a ludibriara com seu discurso de imaculado.
Isso já ocorrera antes. Ele próprio fora vítima de Obi-Wan, que, em certa ocasião, o forçara a ignorar os apelos de suas visões sobre sua agonizante mãe.  
Tinha de matá-lo!
As razões eram muitas e o sentimento era de puro ódio.
Mas tudo se voltara contra ele. Obi-Wan se aproveitara de suas emoções, usando, contra o recém-consagrado sith, seu próprio ódio destrutivo.
Por culpa de Obi-Wan, Padmé morrera! Ele é quem deveria ter sido mutilado! Ele deveria ter agonizado no fogo! Ele! Aquele maldito! Aquele por quem até hoje nutro todo o meu ódio! Odeio você, Obi-Wan! Odeio! Odeio! Obi-Wan! Obi-Wan... Obi-Wan... - acusava Vader enquanto estremecia, obcecado por vingança, fortalecido pelos sentimentos negativos que alimentam os seguidores do lado sombrio da “Força”.
Após comprimir o diafragma, soltou lentamente a respiração e sentiu o poder do lado sombrio sendo emanando através de si. Alguns minutos depois, o fenômeno passara e apenas um sentimento de infelicidade restara.
Infeliz ele era...
Começaria agora a segunda etapa de sua meditação, na qual Vader investigaria, psiquicamente, a razão pela qual o imperador exigira a sua presença no palácio imperial, em Coruscant. Para tanto, interrompera uma importante visita ao StationLab, o laboratório oculto de pesquisas do império.
StationLab flutuava no espaço, estacionado em um quadrante não explorado da galáxia, de modo que sua existência era praticamente desconhecida. A partir dele, resultados de pesquisas avançadas eram obtidos e fornecidos ao imperador. Muitos daqueles avanços tecnológicos seriam postos em prática somente após anos. Outros faziam parte de projetos importantes demais para esperar, pois poderiam influenciar o destino imediato da galáxia, principalmente por se encontrarem nas mãos do império.
Durante testes, com o protótipo, em escala reduzida, da principal arma de uma avançada estação espacial bélica, ele recebera um chamado prioritário de Coruscant. Esta solicitação, nem mesmo Darth Vader, sendo um lorde sith, poderia ignorar. Os testes de artilharia da “Estrela da Morte” poderiam esperar.
Era muito importante que, antes de seu desembarque, Vader, através de suas habilidades mentais, já estivesse ciente do motivo pelo qual estava sendo convocado a comparecer ao palácio imperial. Esta era uma exigência do próprio imperador, que fazia questão de testar as habilidades cognitivas de seu discípulo, até mesmo para se certificar de que Vader continuaria sendo merecedor da posição que ocupava.
Nada lhe fora adiantado a respeito e Vader sabia que seria muito difícil conseguir informações direto da mente do imperador, que sempre se utilizava de artifícios mentais para iludi-lo. Apenas com a permissão do próprio Palpatine, alguém penetrava sua mente sem dificuldades. Isto acontecia exclusivamente em algumas situações, como quando desejava comunicar-se telepaticamente, através da “Força”.
O melhor caminho seria investigar as mentes dos oficiais que se reportavam diretamente a Palpatine. Mesmo as mentes dos funcionários e guardas do palácio poderiam ser úteis. Não que o imperador permitisse o vazamento mental de informações. O fato era que Vader havia descoberto, ao longo dos anos, que qualquer ser inteligente poderia absorver informações, de modo inconsciente, sob forma de ondas cerebrais eletromagnéticas que se traduziam como pensamentos. Isso não acontecia sempre, mas em uma frequência considerável.
Sendo assim, nem mesmo o imperador estaria totalmente invulnerável atrás de seu feudo mental. Mesmo que não permitisse que seu discípulo o atravessasse, em algum momento, o conteúdo poderia escapar e ser captado pela mente de alguém, permanecendo lá por algum tempo, sem o conhecimento de seu hospedeiro.
Vader projetou-se mentalmente no palácio e, como era de se esperar, não obteve nada diretamente de seu mestre. Começou a expandir sua procura até que passou a perceber ondas mentais bem fracas. Essas ondas aumentavam de intensidade gradativamente à medida que Vader, através da “Força”, as estimulava. Quando sua intensidade atingiu a frequência ideal, ele se conectou ao emissor, buscando a informação desejada. A varredura logo foi concluída com êxito e uma palavra saía de seus lábios, sendo captada pelo microfone do amplificador de seu equipamento. Era como se outra pessoa estivesse falando por ele:
- Rebeldes… - Pronunciou Vader, com sua voz metálica.
Ele próprio não acreditava no que ouvia. Já seria muita ousadia desafiarem o poderio imperial puro e simples. Acreditarem ser capazes de sobrepujar o domínio da galáxia, exercido pelo poder do lado sombrio da “Força”, na figura de um imperador mestre sith, era loucura. E talvez fosse isso que os tornassem perigosos...    
Vader expirou o ar os pulmões, tomado pela sensação de triunfo após ter sido bem-sucedido em mais uma investigação psíquica. Recostou-se então em sua confortável poltrona e relaxou.
Mais uma vez ele havia conseguido.
 
Uma luz se acendeu no console à sua frente acompanhada de um “bip” de baixa intensidade. Isso indicava que a nave havia saído do hiperespaço e se encontrava prestes a orbitar Coruscant. Vader tocou em um dos botões da mesa de controle fazendo descer, do teto da câmara, o elmo negro impecavelmente lustrado. O elmo foi automaticamente encaixado na parte superior da máscara, colocada há pouco, por sobre seu rosto.
Aquela máscara negra era conhecida através da galáxia como se fora o próprio rosto de Vader; o rosto da morte, da opressão, da dor.... Espalhava terror onde quer que fosse. Em princípio inanimada, parecia ganhar vida sobre o rosto que ocultava, pois era capaz de expressar o conteúdo de seu semblante inexorável. A maioria dos inimigos que foram obrigados a fitá-la, se ainda vivos, não pretendiam repetir a dose.
Vader tocou novamente a mesa acionando um grande monitor à sua frente. Agora o que acontecia na ponte de comando do destroier estelar Thunderous era mostrado para ele. O recém-promovido capitão Yves aproximou-se no vídeo.
Seu rosto tenso deixava transparecer que ainda não se esquecera do episódio ocorrido há duas semanas, quando Darth Vader matara por sufocamento, utilizando-se o lado negro da “Força”, o então capitão Samuk. Quando morto, oficial encontrava-se de pé, na ponte de comando, em frente ao mesmo monitor do qual Yves se aproximava naquele instante.
O que despertara a ira do lorde negro fora o fato de Samuk não ter conseguido capturar uma nave contrabandista que deixava o sistema Kessel. O cargueiro saltara para a velocidade da luz antes de que o Thunderous conseguisse apanhá-lo com seus canhões de raio trator.
O capitão empertigou-se. Era uma simples comunicação rotineira, mas ele não se sentia nada à vontade de ter de reportar-se diretamente a Vader. Na verdade, o que sentia era um grande temor. A visão do vulto negro postado à sua frente com expressão inquiridora aumentava sua frequência cardíaca e o fazia suar frio.
Engoliu em seco esforçando-se para desfazer o nó que se formara em sua garganta. Tentando modular a voz para que não saísse trêmula, relatou:
- Lorde Vader, acabamos de deixar a velocidade da luz e estamos prestes a iniciar os procedimentos para orbitarmos o planeta Coruscant. Sua shuttle já se encontra preparada e em poucos minutos poderá partir, se assim desejar.
- Partirei logo que possível... capitão Yves.
Vader desligou o canal de comunicação da mesma forma abrupta como o ligara. Instantaneamente a imagem ameaçadora sumira, tranquilizando o tenso capitão. O desprezo manifestado por Vader, ao invés de incomodá-lo, lhe proporcionava conforto, pois talvez significasse que não esperava muito daquele recém- promovido capitão. Talvez até mesmo o perdoasse por uma eventual falha.
Sua maior ambição, até quinze dias atrás, era ocupar um posto de capitão de destroier estelar da frota imperial. O que mais temia atualmente era ter o mesmo fim do capitão Samuk.
Ele teria de aprender a se controlar na presença de Vader, pelo menos por mais algum tempo. A previsão dos técnicos era de que os reparos nas avarias sofridas pelo destroier estelar Devastator, a nau capitânia de Darth Vader, ainda se estenderiam por mais dez dias. Após este prazo, apenas teria de se reportar a Vader eventualmente. Seria um alívio, pois sua impressão era a de que nada podia escapar do conhecimento do lorde do mal, que parecia compartilhar de seus pensamentos.
 
As portas de seu camarote se abriram e Vader dirigiu-se ao pequeno carro que o conduziria a um dos elevadores de acesso ao ancoradouro principal do Thunderous. Algumas sentinelas espalhadas pelo corredor ainda se refaziam da surpresa provocada pela aparição, quando o sith corpulento, de mais de dois metros de altura, subiu no transporte, seguido pelo manto negro que flutuava às suas costas.
Um toque no painel e o carro deixava a inércia, teimando em desafiar a gravidade artificial do destroier. Pairava graciosamente a alguns centímetros do piso metálico, conduzindo seu único passageiro, o qual permanecia de pé, a despeito da existência de alguns assentos a sua disposição.
Sem olhar para os lados e com as mãos levadas à cintura, deslocava-se pelo extenso corredor de acesso restrito, chamando a atenção dos poucos que por lá circulavam. Preferia conduzir-se a si próprio, tendo há muito tempo dispensado o operador do pequeno veículo.
Pequenos pontos luminosos piscavam ciclicamente no painel do aparelho incrustado em seu peito, e naqueles presos à sua cintura. Aquelas sofisticadas máquinas se encontravam diretamente ligadas a seu organismo, desempenhando funções específicas que lhe garantiam a manutenção da vida. À primeira vista, seu tamanho e peso eram desproporcionais à sua extrema importância; contudo, a natureza permanente de seu uso, e o fato de se constituírem de objetos estranhos ao corpo, exigiam certos esforços por parte de seu usuário.   
Vader aprendera a conviver com o desconforto causado pelo equipamento. Possuía ainda relativa agilidade, faculdade esta que atribuía ao domínio da “Força”.
O veículo cumprira sua função, sendo abandonado próximo ao turbo-elevador.
Sua shuttle não levaria mais do que alguns minutos para chegar ao Palácio Imperial.
           
A nave de Vader sobrevoava o palácio imperial quando o copiloto transmitiu o código da tarefa, e obteve permissão para pousar na plataforma localizada no terraço.
As portas da sala do trono se abriram. Vader adentrou-as, passando pelos homens da guarda real. Parou junto à base do pedestal onde posava o trono. Ajoelhou-se abaixando a cabeça reverentemente. O imperador, que o aguardava, desceu a pequena escada do pedestal tocando seu ombro:
- Levante-se lorde Vader. Temos muito o que conversar.
- Sim, meu mestre – concordou Vader.
 
Os homens da guarda real haviam sido dispensados. No momento, mestre e discípulo caminhavam lado a lado por entre as alas adjacentes à sala do trono, as quais tinham a luxuosidade como sua característica mais marcante. O estilo clássico de algumas peças convivia harmoniosamente com elementos contemporâneos. Antiguidade e modernidade eram perfeitamente equilibradas com muito requinte, evitando que a beleza tradicional de cada ala fosse prejudicada pela presença da tecnologia.
Passavam por baixo do gigantesco arco que unia duas alas de quinhentos metros quadrados, quando Palpatine iniciou:
- Então, lorde Vader, já sabe o motivo pelo qual o chamei. É bom saber que se mantém digno de ser meu discípulo. A “Força” aliada à criatividade permite realizações surpreendentes.
- Sim, meu mestre – assentiu Vader, permanecendo em silêncio por algum tempo enquanto caminhavam. Depois continuou: - A rebelião que está se formando precisa ser contida o mais rápido possível.
- Sim meu aprendiz. Demonstra muita sabedoria ao não subestimar nossos inimigos. Tudo o que é aparentemente frágil quase sempre nos surpreende por sua resistência. – Palpatine então fez uma breve pausa, voltando seu olhar levemente para cima: - Há alguns dias tive uma visão, um presságio.... Uma rebelião começava. Seus mentores seriam pessoas diretamente ligadas ao império. Traidores. E caso não a contivéssemos a tempo, estaríamos pondo em risco tudo aquilo que construímos. Jamais ignoro minhas visões e, por isso, já designei agentes da inteligência para investigarem o assunto. – O imperador fez uma nova pausa, para em seguida lamentar, resignado: – Parece que nossos planos de expansão de nossos domínios para além da galáxia terão de esperar um pouco. – Após um breve suspiro, assumiu um tom mais vigoroso: – Primeiramente devemos eliminar qualquer ameaça ao nosso controle interno absoluto. Não devemos correr o risco de perder nenhum território. Não permitiremos que nenhum sistema se insurja contra o Império. Lançaremos mão de todo o nosso poderio militar para mantê-los em seus lugares.
- E quanto ao senado, meu mestre? – Questionou Vader, com cautela.
- No tempo certo cuidaremos do senado – encerrou Palpatine. - Como estão os testes de artilharia da “Estrela da Morte”? – Indagou.
- Eu os acompanhava quando recebi seu chamado. Apesar de nada se comparar ao poder da “Força”, esta estação bélica será um útil instrumento a serviço do império. – Vader jamais se impressionava com descobertas e avanços tecnológicos. Tinha convicção de que o poder emanado da energia vital, que sustenta e une o universo, estava acima de tudo que pudesse existir ou ser inventado. Havia experimentado servir à luz e às trevas. Sucumbira às trevas, pagara um alto custo por sua decisão, mas conhecia o poder do lado sombrio da “Força” e ninguém o convenceria de que existia algo capaz de superá-lo.
- Você é muito poderoso, meu amigo, mas é apenas um. Precisamos manter a soberania do império através do medo. O medo da destruição manterá os sistemas em seus lugares, submissos a nós; e a destruição, em um futuro muito próximo, terá um nome: “Estrela da Morte”. Inicialmente pretendia utilizá-la para nos proporcionar a conquista de novos territórios intergalácticos, mas teremos a oportunidade de testá-la aqui mesmo, em nossa própria galáxia. Uma estação espacial bélica que se deslocará com facilidade por entre os sistemas, levando consigo armamentos capazes de desintegrar planetas com um simples disparo! – Em seguida, com olhar doentio, Palpatine parou em frente a um imenso vitral e, apreciando o céu de Coruscant, revelou serenamente: – Tenho planos de construir uma “Estrela da Morte” para cada sistema planetário.
Aquela revelação surpreendera Darth Vader, que não conseguira esconder seu espanto. Ele fitava o rosto de seu mestre em uma tentativa de estudá-lo.
- Entendo sua reação lorde Vader mas acredito que esta seja a única forma de desencorajar qualquer movimento revolucionário que ameace a soberania imperial. Apesar do alto custo deste projeto e do tempo demandado para sua total conclusão, tenho certeza de que a opressão que seremos capazes de exercer sobre os povos com a primeira “Estrela da Morte” fará com que os recursos materiais e humanos necessários à construção das demais, apareçam.  Uma vez controlados os sistemas internos, partiremos rumo a novas fronteiras, novas galáxias.
Vader ameaçou dizer algo, mas interrompeu-se. O imperador parecia convicto demais para dar-lhe ouvidos.
Artefatos militares eram muito importantes, mas como meros instrumentos. Além disso, sua utilização deveria ser feita com muita sabedoria. Depositar toda a sua confiança naquelas macabras invenções seria imprudência. Vader já presenciara a ruína de fortalezas ante a coragem e a inventividade de oponentes em absoluta desvantagem.
A “Força”, por sua vez, lhe proporcionava a capacidade de estar sempre um passo à frente de seus inimigos, aguardando-os, para derrotá-los no momento certo.
Homens comuns comandariam aquelas armas. Homens que não detinham a “Força” se esconderiam por detrás daquelas magnitudes bélicas julgando-se invulneráveis a tudo. Buscar garantir o avanço imperial baseados apenas neste tipo de poder poderia ser um grande erro.  
Tecnologias, por mais destruidoras que fossem, em momento algum da história conseguiram conter a insatisfação dos povos. Poderiam mantê-los distraídos, ocupados por algum tempo, até que se acostumassem à nova realidade, ao novo poderio opressor, mas não tardava muito para se adaptarem e encontrarem um meio de se rebelarem, de se libertarem...
- E quanto à rebelião que se forma? – Quis saber Vader. – Não podemos esperar até a conclusão da “Estrela da Morte”. Devemos detê-la já.
- Concordo, meu amigo, mas a rebelião atualmente ainda é uma pequena semente germinando no intelecto de uns poucos. Sinto que ainda não existe como uma realidade palpável em nosso universo. Existe apenas no campo das ideias, das projeções mentais de alguns. O que captei, em minha visão, está ainda em um estágio elementar e esparso, incapaz de formar massa crítica no inconsciente coletivo. Contudo, deve ser desde já combatida, pois tudo o que existe, até mesmo um gigante como meu império, surgiu a partir de um embrião ideal, de uma frágil e desacreditada centelha de pensamento, perdida entre outras milhões que nunca chegariam a se concretizar. Por isso, antes que essa ideia comece a se disseminar entre meus súditos, cortá-la-emos pela raiz.
Vader escutava a tudo com atenção. Ao investigar a mente do imperador, notara que se encontrava propositalmente desguarnecida e ligada à sua. Captava os planos de Palpatine com clareza. Agora o mestre não desejava esconder nada de seu discípulo, nem mesmo para testá-lo. Contrariamente, queria transmitir-lhe tudo o que planejara. Com a guarda baixada seria mais eficaz pois haveria um entendimento maior entre ambos. Qualquer obstáculo mental naquele momento seria contraproducente.
Palpatine continuava:
- O caminho para conquistarmos a opinião pública será por sua simpatia pelo império. Apesar de isso ser improvável de se obter diretamente, podemos nos recorrer de alguns artifícios muito úteis. Os povos odiarão e terão tanto medo da rebelião que se sentirão seguros quando virem as tropas imperiais se aproximarem. – Palpatine virou-se para Vader, falando-lhe em tom revelador: – Conseguiremos isso cometendo atrocidades em nome desta suposta rebelião. Atentados, saques, sequestros, muita destruição.... Vamos confundi-los, fazê-los crer que rebeldes são um bando de oportunistas, arruaceiros, piratas, terroristas! Quando ouvirem o maldito nome da rebelião entrarão em pânico. Todos se voltarão para o lado do império galáctico, quer para buscar proteção, quer para engrossar nossas fileiras de devotados soldados. - Palpatine se deteve por um breve instante, como se mais uma grande ideia lhe ocorresse. Logo em seguida, verbalizou seus pensamentos: - Lembre-se, lorde Vader, que estamos à procura de matrizes para as novas tropas. Seria uma ótima oportunidade para impulsionarmos o projeto de clonagem para as "forcetroops".
- O plano é interessante, mestre, mas estejamos cientes de que haverá aqueles, de maior senso crítico, que olharão para tudo isto com reservas. Ademais, tais atos podem acabar por fazer surgir uma rebelião verdadeira, seja para participar do caos, seja para tentar contê-lo, caso julguem que o império não se mostra capaz – ponderou o discípulo.
- Cedo ou tarde uma rebelião surgirá, lorde Vader, pois eu jamais me engano em minhas previsões – rebateu o imperador. - Tudo o que estou fazendo é me antecipando, aproveitando-me da situação, posto que seus líderes ainda não se encontram organizados. Quanto àqueles poucos seres, àquela minoria dotada de algum discernimento político, não se preocupe. Serão apenas algumas vozes em meio à multidão.
Palpatine então parou a caminhada para dirigir-se aos portões daquela ala. Antes de alcançá-los virou-se para dizer a Vader:
- Está dispensado agora, meu amigo. Em um futuro muito próximo você verá como tudo se deu conforme o meu desejo! – E deixou o recinto após soltar gargalhadas que ecoaram ruidosamente.
O lorde negro não era partidário de todo aquele entusiasmo. A reação popular poderia ser diferente do que acreditava seu mestre.
A galáxia era vasta demais. Nada garantiria que os incontáveis povos, com as mais variadas culturas, teriam a mesma interpretação dos acontecimentos.
Ao mesmo tempo, Palpatine buscava por matrizes para as novas tropas, que seriam formadas por clones. Ele via, neste plano, uma oportunidade de multiplicar os alistamentos junto ao império, potencializando as chances de encontrar ao menos uma matriz perfeita. Estava à procura do trooper ideal. Alguém que detivesse, além de uma genética favorável, algo mais: a “Força”.
Um exército de stormtroopers clonados a partir de uma matriz que detivesse a “Força” seria praticamente invencível. Este era um antigo desejo de Palpatine, desde antes da extinção dos jedi e, até então, não realizado: o projeto "forcetroops".
Seria necessária muita cautela ao produzir tais clones. Experimentos anteriores não tinham sido bem-sucedidos. Teria a engenharia genética evoluído a ponto de resolver os antigos problemas enfrentados? Palpatine acreditava que sim.
Mas apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, com as novas técnicas de clonagem, Vader tinha suas dúvidas... Não se tratava apenas de encontrar alguém, que detivesse a “Força”, para servir de matriz para a clonagem das tropas. No passado, tais experimentos provaram por si que a questão era muito mais complexa. Todos os testes de clonagem desse tipo haviam gerado clones fora de controle.
Mas, para o imperador, tratava-se apenas de uma questão de compatibilidade com o processo de clonagem e bastaria que encontrassem o doador certo para que o projeto fosse bem-sucedido.
E tudo isto teria de ser posto a cabo em meio a uma falsa rebelião!
Talvez o imperador estivesse simplificando demais tudo aquilo. O resultado, a longo prazo, poderia ser desastroso...
Bem, para longo prazo Palpatine contava com as “Estrelas da Morte”, que, segundo ele, manteriam todos os sistemas em posição de submissão.
Mas ele não deveria confiar tanto assim em suas armas, pensou Vader.

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⏰ Last updated: Mar 28, 2023 ⏰

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