― E como você está? ― perguntou Henry.

Dessa vez, eu estava abaixada, recolhendo as bolas de papel debaixo da mesa. Não levantei.

― Hmm... No momento, acabando de constatar que você usa um sapato diferente para cada dia. Isso é normal? ― Eu estava olhando para os pés dele, os sapatos marrons. Eu nunca os tinha visto antes.

Ele riu, e o pé dele se afastou debaixo da mesa.

― Como você está, Anielle? ― Me levantei, ele estava olhando nos fundos dos meus olhos. ― Quero saber se você está bem. Na última vez que nos vimos, você estava tendo um ataque de pânico.

Que espécie de comentário era aquele? Desde quando Henry se importava?

Fui até a lixeira e joguei os papéis.

― Segundo especialistas, qualquer pessoa está sujeita a sofrer pelo menos um ataque de pânico na vida.

― E segundo especialistas, eles sempre acontecem por um motivo.

Eu podia sentir o olhar dele. Me abaixei para recolher o restante dos papéis.

― Acho que já sei o que está acontecendo. Eu quebrei a barreira empregado/empregador e agora você está se vingando de mim.

Ele deu uma risada.

Eu sabia que Henry era o tipo morde e assopra. Agia de maneira indiferente comigo, impondo limites e demonstrando "eu sou o chefe aqui", outrora agia como se nada tivesse acontecido. Principalmente aquela situação desagradável. Com "situação desagradável" estou me referindo ao nosso beijo. E agora ele diz o quê? Estava preocupado comigo? Era difícil saber quando ele estava sendo sincero.

― Tudo bem ― disse ele, depois de um momento. ― Agora você quer impor os seus limites. Limites que nunca teve. Nem comigo.

Viu só! É isso que estou falando.

Eu me endireitei.

― Foi para isso que me chamou? Para saber como estou?

― Também para te entregar o café.

Fui até a lixeira novamente e joguei o papel. Henry continuava falando, me estendeu o copo.

― Derrubei o seu da outra vez.

Quer dizer poucos dias atrás quando a gente se beijou?

Engoli em seco. Peguei o café, tentando não demonstrar que havia lembrado do beijo. Acho que pisquei demais antes de falar.

― O-obrigada.

Houve uma pausa. Foi o suficiente para me deixar corada.

― Então, você não me respondeu.

Quase me engasguei com o café. A pergunta era séria. Ele estava mesmo preocupado?

Cocei a garganta e afastei um cacho de cabelo do rosto.

― O-ótima ― gaguejei.

A ideia de sair da sala pareceu muito sedutora depois que meu rosto começou a pegar fogo, comecei a recuar, mas o comentário de Henry me parou quando cheguei à porta.

― Anielle, estou começando a ficar preocupado com o tipo de tratamento que você recebe na sua casa.

Ele deixou a frase subentendida. Rodou na minha mente vários minutos depois que saí da sala. Então toda insistência dele em eu responder se estava bem era porque eu não estava acostumada que se preocupassem comigo?

No fim das contas, ele tinha razão. Eu estava tão acostumada em receber o tipo oposto de tratamento que quando alguém me tratava bem, eu não sabia direito como reagir.

Em Nome do Amor  ✔(Concluída)Where stories live. Discover now