40 | Epílogo | Développé

Começar do início
                                    

— Mas o que tem de especial nele?

— Difícil dizer, é muito subjetivo, sabe? Nenhum dos bailarinos do Regal Ballet tem uma técnica pior. Acho que o que diferencia um do outro é a interpretação. Jungkook casa bem com qualquer papel e traz uma faceta diferente para ele. Mesmo um balé de repertório que eu já conheço vira uma caixinha de surpresas se ele faz um papel principal.

— Ah... Acho que entendi.

— Deveria me acompanhar mais ao teatro.

— Só vim dessa vez porque a senhora me encheu muito o saco!

— Óbvio, como perder a despedida de Jeon Jungkook? Te fiz um favor.

Despedida. A fim de fugir das especulações de por que Jungkook estava abandonando o Regal Ballet no auge de sua carreira, Jimin aproveitou o sinal indicando o intervalo entre atos para ir ao banheiro.

O Teatro Municipal não era tão grande — o que explicava a dificuldade de comprar os ingressos —, mas era muito tradicional. Colunas brancas de mármore margeavam seu caminho pelo carpete vermelho, dando espaço apenas às paredes com arabescos. Tudo reluzia em tons dourados e creme.

O peito encheu de orgulho mais uma vez.

Jungkook dançava em locais clássicos como aquele, ao redor do mundo inteiro. Ou melhor, tinha dançado. Aquele, em seu país natal, tinha sido escolhido como seu último teatro com o Regal.

Apesar de ter tentado usar a ida ao banheiro para se distrair, Jimin logo se encontrou acomodado em sua poltrona. Não conseguia caminhar pela bela construção sem rumo, agoniado demais em estar no salão principal e ver tudo. Apesar de fazer o seu melhor para não prestar tanta atenção nas conversas sobre a inesperada aposentadoria, cada segundo de intervalo lhe pareceu uma tortura.

Os três sinais avisando a volta do espetáculo acariciaram seus ouvidos. A iluminação acendendo e as pesadas cortinas vermelhas abrindo foram saboreadas como o mais doce néctar. Não mais doce do que ver Jungkook ali, no palco.

Mesmo que a coreografia não fosse a dele, Jungkook raramente saía de cena, por ser um dos personagens principais. E ele nunca saía do papel. Tal fato fazia cócegas no âmago de Jimin — Jungkook, sempre tão próximo, parecendo tão diferente. Era assustador e encantador. Admirava-o.

Era tão fácil mergulhar em Jungkook, em suas expressões, em sua dança, que o espetáculo passou em um piscar de olhos. Quando a cortina se fechou e Jimin consultou o libreto, atestando que aquele fora o final do terceiro ato, lágrimas lhe borraram a visão.

Tinha acabado rápido demais. Jimin queria rebobinar o começo do espetáculo e tentar assistir tudo com ainda mais atenção, para que nunca fosse capaz de esquecer um detalhe sequer.

As cortinas abriram novamente, mas não era mais uma cena ou coreografia. Eram os agradecimentos. Os grupos de personagens entraram um de cada vez, oferecendo uma bela mesura.

Jungkook entrou por último no palco. E foi ovacionado de pé pela plateia.

Ele ofereceu um sorriso lindo de doer a todos e, ao encontrar Jimin no meio da plateia, soprou-lhe um beijo com um sorrisinho maroto. Enquanto ainda era aplaudido com entusiasmo, uma moça usando um belo vestido vermelho subiu no palco com um microfone e um farto buquê de flores. Jimin a conhecia, era uma das coordenadoras da companhia de dança.

A plateia se calou quando o buquê foi oferecido para Jungkook e seu sorriso morreu. Apesar de não parecer triste, lágrimas surgiram nos olhos grandes e expressivos.

— Boa noite — a mulher disse ao microfone, e sua voz reverberou alta pela acústica impecável do salão. — O Regal Ballet agradece a presença de todos nessa noite tão especial. Todos sabem que cada apresentação é única para nós, e nasce de muito ensaio, esforço e paixão. Todos sabem que sempre buscamos nos superar para fazer jus às histórias que recontamos através da dança.

Uma suposta facção de balé • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora