O Recomeço

Capítulo 4- Não volta a acontecer

Líria

Entrei no café, Miranda olhava-me incrédula. Conseguia saber o que ela estava a pensar, sorri para tentar fingir que está tudo bem. Porque não está, a sério, só me apetece chorar, gritar e contar tudo o que está a acontecer, mas não posso. SIMPLESMENTE NÃO POSSO! Não posso, se falar, o Eric MATA-ME.

-Líria, porque estás assim?- começou ela por dizer, conseguia ver que a Mira estava realmente preocupada.

- Nada, eu estou ótima! - menti, odiava mentir, mas era necessário. Ninguém pode saber o que o Eric é capaz de fazer, ninguém, NEM MESMO A MINHA MELHOR AMIGA. Ninguém o compreendia, e só aconteceu 3 vezes, ele não volta a fazê-lo, sei que ele ME AMA e deve estar arrependido.

-Ai, olha, podes confiar em mim, sabes? Estás com roupas escuras, óculos de sol e é noite amiga. Sem falar que estás com um ar mesmo descaído. O que está a acontecer?

Miranda tentou segurar as minhas mãos.

-Céus Líria, estás gelada! Anda, tira mais é os óculos de sol e vamos conversar. - Disse com um tom autoritário. Não podia fazê-lo, ela não podia ver a minha nódoa negra mesmo perto do olho esquerdo, nem a cicatriz na bochecha esquerda que escondi com imensa base, muito menos a...

-Olha, Miranda, eu tenho que ir buscar o Eric ao trabalho porque ele está sem o carro dele.então se o que tens a dizer é mesmo importante, gostaria que o dissesses, pois tenho mesmo de ir. Se não for ele irrita-se.

-Irrita-se?! Contigo?

-Não, não, não é isso que eu quis dizer.é só que.

-Já sabem o que vão pedir?

Perguntou a garçom, nem sequer senti-a aproximar-se de nós.

-Não, eu não quero nada. - Apressei-me a dizê-lo.

- Uma garrafa de água, por favor.- Disse Miranda à jovem que olhava estranho para mim, será que estou assim tão mal?

- Ok, já trago. - Disse-nos e foi a andar a velocidade da luz

-Olha, eu sei que não está tudo bem, porque eu conheço-te. Mas o que mais me dói é que tu não queres partilhar nada do que estás a passar. Líria, podemos passar por isto juntas, tu não estás e nunca estarás sozinha.

-Eu sei, mas.- engoli em seco, tentava mesmo não chorar. Não podia chorar.

-Mas o quê? O que estás a passar?

-Miranda, eu só preciso de espaço e tempo. Confia em mim...olhei para as horas no meu telemóvel. Tenho mesmo de ir. Depois falamos.

-Líria...

-Tchau.

Levantei-me e saí do café sem olhar para trás, as lagrimas escorriam sem esforço nenhum. Já fora do café caminhei até ao carro, tirei os óculos escuros e chorei amargamente. Sinto-me tão estúpida, tão imponente, tão infeliz, mas ao mesmo tempo eu não sei o que fazer. Não sei o que devo fazer, nem sei se o que estou a fazer ou o que quero fazer é o correto. Sinto que estou a cometer um ERRO, mas também tenho medo de se falar alguma coisa estragar tudo e ser um ERRO maior. EU NÃO SEI.

**********************

1 semana antes

Na semana passada ele bateu-me, por uma simples razão. Mas eu o perdoou, eu o amo, e sei que ele também. Sei que não vai voltar a acontecer.

Ontem a noite fui a casa dele jantar, parti sem sequer um vaso que estava no corredor. O corredor estava escuro porque a lâmpada fundiu e eu ainda não conheço muito bem a casa. Tentei explicar-lhe, mas ele nem sequer quis me ouvir. Bateu-me com a cabeça na parede, pegou num dos cacos e atirou-me na cara, enquanto me gritava horrores. Eu escapei, mas rasgou-me um bocado a bochecha.

-Por favor, para, não faças isso. Peço imensas desculpas!

-Sabes quanto custou este vaso? Veio do Japão, e é caríssimo, é mais caro que a tua ALMA.

-Eu compro-te outro, eu prometo.

Puxou-me pelo cabelo e encostou o meu rosto dorido e sanguento no dele, conseguia sentir o hálito a vinho branco que estávamos a beber.

-Oiça com muita atenção, não tem como comprares outro, era uma edição limitada, idiota. Agora limpa tudo, limpa este rosto e quero-te de volta na mesa.

Atirou-me ao chão, e deixou-me sozinha, fiquei parada no escuro e só chorava. Ele não era assim, o que foi que aconteceu? O que foi que eu fiz para ele mudar?

********************************

Miranda

Eu e a Líria trabalhamos numa empresa de vendas, vendemos casas, estabelecimentos, ou seja, imóveis.

Eu e ela partilhamos a mesma secretaria, e hoje ela chegou um pouco tarde, estava vestida de umas calças de gangas, uma blusa de mangas compridas, e uns óculos escuros, outra vez. Mas tinha o rosto machucado, talvez ontem não tinha reparado muito bem.

-Líria, o quê isso?

-Oi, fala baixo Miranda. - ordenou-me ela com uma voz rouca. Quase ninguém ligava-nos porque era de manhã muito cedo. Baixei o meu tom de voz.

-O quê que te aconteceu?

-Eu...eu cai do banheiro, a luz foi, e ...eu ao sair, tropecei e caí.

-Líria! Claro que isto é mentira, fala a verdade, eu sou sua amiga, sou como uma irmã.

-Miranda, esta é a verdade! - Ela falou bastante chateada e irritada, então, eu preferi não dizer mais nada. Mas sabia que alguma coisa estava errada, muito errada.Eu vou descobrir o que está a acontecer.

*************