Guardei o cigarro eletrônico agora retirando um comprimido do bolso, analisei a pequena cápsula branca na palma de minhas mãos antes de levá-la até minha boca e engolir.

Os sinos da igreja tocaram anunciando o início do cerimonial, não estava pronta para ver seu corpo dentro do caixão no meio de uma igreja completamente lotada de pessoas que você mal conhecia.

Seu corpo não fedia ou parecia morto, papai havia contratado um dos melhores necromaquiadores de Los Angeles para fazer esse serviço e garantir que seu corpo não assustasse os convidados.

Criei coragem e levantei do banco entrando pela porta da igreja recebendo olhares curiosos em minha direção, fui até a primeira fileira e sentei ao lado dos meus pais, finalmente subi meus olhos para a lateral do caixão, seu corpo não era visível quando se estava sentado.

O padre começou a discursar palavras genéricas e que provavelmente já falou em diversos outros enterros pela sua feição de normalidade.

Meu corpo começou a reagir aos remédios, derrepente fui tirada da realidade e minha mente se desligou focando apenas na lateral do caixão, eu o olhava mas não conseguia enxergar nada. Estava completamente relaxada e imóvel, quem prestasse total atenção diria que não era só meu irmão que estava morto ali.

Vi alguns dos desenhos que eu e Josh fazíamos quando éramos crianças passar voando por meus olhos, um dos efeitos desse comprimido era alucinação, talvez a melhor ou pior parte já que te tiravam da realidade. Senti toques sob minha pele mas meu corpo se negou a prestar atenção neles, continuei seguindo meus olhos pelos desenhos com a respiração calma e silenciosa.

Derrepente senti seu corpo acordar com minha mãe sacudindo sua mão no frente de minhas orbes.

── é sua vez de discursar filha ── Lili disse e olhei o grande relógio preso na parede

A perda de noção tempo também foi um dos efeitos colaterais dados pelo remédio, me levantei com dificuldade, as calças jeans preta e jaqueta esquentavam meu corpo do outono frio da Califórnia.

Subi os degraus do palco e parei em frente a pequena mesa onde o Padre estava anteriormente, o caixão de Josh estava a alguns centímetros abaixo, desci meu olhos até sua figura e levei minha mão até minha boca em espanto segurando a ânsia de vômito.

Desviei o olhar por alguns segundo para voltar a respirar e finalmente peguei os papéis em minhas mãos trêmulas que passei horas nas noites anteriores escrevendo, quando meus olhos caíram sob os papéis não consegui entender qualquer palavra, as letras se embaralhavam e minha visão escurecia.

Desisti de ler algo e encarei as pessoas a minha frente, rostos desconhecidos que nem mesmo sabiam quem ele realmente era.

── quem são vocês ? ── disse recebendo olhares confusos ── nenhum de vocês conhecia ele realmente e agora estão vendo o corpo dele dentro do caixão. Talvez estejam aqui para ver como estamos deploraveis ou simplesmente querem parecer e se sentir boas pessoas estando aqui.

Respirei fundo vendo meus pais me olharem com tristeza. E derrepente tudo não fazia mais sentido novamente, meu corpo estava jogando no chão da sala de cirurgia e meus gritos desesperados enchiam meus ouvidos.

── ele acharia tudo isso aqui uma perde de tempo, se ele estivesse vivo ── ri sem graça sentindo as lágrimas descerem por meu rosto enquanto abaixava a cabeça enfiando as mãos em meus cabelos apoiados por meus braços na madeira ── Querem saber quem era ele ? ── Levantei minha cabeça inclinando para trás olhando em julgamento para todos

── Ele era uma das pessoas mais corajosas que essa merda de cidade já viu e droga como eu admirava isso, a forma como ele ganhava todas as corridas com aquele carro cheio da sua essência. Aquele era Josh, ele sonhava em terminar a faculdade engenharia e ir para Nova York. Merda por que eu tô contando isso pra essas pessoas ── e derrepente senti a raiva invadir meu corpo e meu sangue ferver

Rasguei as papéis que havia escrito os jogando no chão, fui até a coroa de flores enorme ao lado de ser caixão a chutando, derrubei os vasos de vidro e gritei em meio a lágrimas.

Me virei olhando de perto para Josh e seu rosto estava coberto de maquiagem e adesivos quase imperceptíveis para disfarçar os cortes. Levei meu olhar até Nate que estava em pé parado e o garota loiro ao seu lado olhando toda a cena com divertimento no rosto.

── que se fodam, isso não é real, todos vocês vão se esquecer dele daqui uma semana e nem se quer vão imaginar como eu e meus pais vamos ficar ── disse

Fui até a tampa do caixão a fechando, vendo os olhares chocados me cercarem, olhei para meus pais e eles estavam calmos, eles pensavam que era só a dor da perda.

── pronto, agora podem enterrar ele ── disse antes de chutar o banco da primeira fileira assustando quem estava sentado

Peguei o cantil no bolso da calça virando o álcool que continha dentro antes de sair da igreja em direção ao meu carro e entrar o ligando.

Não consegui mover um músculo quando ouvi o barulho do motor.

── dirige.

Olhei pro lado vendo Josh sentado no banco do passageiro com o rosto todo cortado e completamente ensanguentado.

Behind You Where stories live. Discover now