c a p í t u l o ✿ 6 2

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— Ô, que isso, Daniel?! Baixa a tua bola, porra.

O platinado revirou os olhos e empurrou os cabelos para trás, acostumado até demais àquele tipo de chamada. Então bufou, colocou os tênis e se levantou da cama.

— Eu vou sair pra fumar alguma coisa — falou, em um tom pouco amigável, enquanto passava reto por ela e se dirigia para a porta.

— Não, você vai ficar aqui e falar comigo. — Zoe se colocou entre ele e a porta do quarto. — Que que houve, porra? Olha o jeito que você tá agindo.

Daniel se preparou para argumentar, mas quando abriu a boca, sequer conseguia organizar os pensamentos para articular uma resposta. Então tirou o vape do bolso e tragou profundamente para tentar se acalmar antes de responder:

— Você tá vendo que eu tô mal e fica aí me tirando!

Zoe respirou fundo, até tentada em continuar aquela discussão com alguns xingamentos, mas sabia que nada frutífero sairia dali.

— Eu não achei que você tava levando tão a sério, foi mal. — Ela viu o amigo respirar fundo e tragar mais uma vez. Percebeu as mãos tremendo levemente enquanto ele mexia sem parar nas pulseiras de couro. Então Zoe se aproximou e colocou uma mão no ombro dele. — Ô Dani, na moral: o que que tá acontecendo?

— Porra, que que você acha?! Já não basta esse negócio do Bellini, agora não param de me marcar na foto que a Bianca postou! — Daniel bufou, passando a mão pelos cabelos completamente desgrenhados. Então ergueu o rosto, como se tivesse tido uma ideia genial, e não falado a coisa mais idiota do dia: — Quer saber, vou ligar pra ela!

Zoe não sabia se o tapa que queria dar era na própria cara ou na dele.

— Não, você não vai. — Colocou um dedo no peito dele, para demonstrar o quão sério falava: — Você tomou sua decisão de manter esse troço entre vocês casual. Eu sei que não é o que você queria, entendo seus motivos, mas agora você vai ter que aceitar as consequências. Não é justo estragar o dia dela por isso.

Daniel até queria argumentar, mas sinceramente, sabia desde o começo que estava errado. Era só que seu coração batia tão rápido, sua pressão parecia baixa depois de tanto fumar e absolutamente todos os seus pensamentos pareciam ter sido batidos num liquidificador.

No fim, apenas soltou um suspiro pesado e se sentou, na cama de Victor Hugo mesmo, a mais próxima da porta. Se deu conta que esteve falando alto desde então e tentou baixar o tom de voz:

— Olha, desculpa por ser grosso, eu só tô nervoso com tudo. Eu tentei fazer de tudo para as coisas não ficarem pior e parece que eu simplesmente sempre estrago tudo. Qual é a porra do meu problema?!

Zoe observou seu amigo de cima abaixo. As roupas estavam amassadas (ela presumia que ele tivesse dormido com elas); as sempre presentes olheiras, ainda mais fundas; e os cabelos desgrenhados davam a impressão de que ele sequer havia levantado da cama, mesmo já sendo quase fim de tarde. Se fosse sincera, nenhum daqueles detalhes era qualquer surpresa, assim como nunca era quando descobria cicatrizes de automutilação novas, ou o encontrava tentando se drogar até esquecer dos motivos que o levaram àquilo. Daniel e a porcaria dos seus hábitos autodestrutivos eram um risco para ele mesmo, e ela se sentia uma péssima amiga às vezes, mas tinha aprendido que se tentasse ficar chamando a atenção dele toda a vez, apenas acabaria afastando-o.

Foi uma decisão difícil a que precisou tomar, mas infelizmente algumas pessoas eram extremamente resistentes à ajuda. Bom, ela sabia bem, porque no começo das suas consultas com a psicóloga, estava tão cheia de raiva e frustrada com tudo que acontecia na sua vida que tentou ser a pessoa mais desagradável do mundo, com a esperança de que a profissional simplesmente desistisse dela. Daniel tinha um pouco daquela raiva mal direcionada, e Zoe sabia que era um processo até superar isso. Até lá, só queria poder estar perto dele e dar apoio nas poucas vezes que ele pedia por ela.

CamelliaWhere stories live. Discover now