4 - SURY - PARTE 3

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— Claro! — confirmo para que não desconfiem de nada, afinal passaram cerca de trinta minutos apenas babando no anel em meu dedo.

Montanaro me mostra vestidos para encontros românticos e escolho alguns no automático. Ele também me mostra em seu tablet os conjuntos de lingerie, quando Perla se lembra que está com alguns na mala. Montanaro pega um vestido tubinho vermelho, bem curto e pede que eu experimente. O faço e me serve perfeitamente.

— Não vai mostrar ao seu noivo?

— Ah, ele está ocupado, acho que o estou atrapalhando. Ele nem entende de moda mesmo, vamos escolher entre nós — digo.

Não que eu esteja chateada por isso, jamais! Afinal, ele está me dando um closet novo de Pietro Montanaro, eu o amarei para sempre por isso. Perla vai buscar outro vestido para encontros e experimento um vestido azul, curto com a saia levemente rodada. Ele possui um decote profundo que adoro, as alças são tiras cravejadas por cristais. Giro em frente ao espelho e comento:

— Azul é minha cor preferida.

— Você está linda. Devia ficar com esse.

Olho para trás e Igor está aqui, de braços cruzados, recostado ao batente da porta me observando. Montanaro e as meninas o cumprimentam animados.

— Sente-se, Sr. Werneck — o estilista orienta.

Indo contra todas as desculpas que eu mesma estava pronta para dar a Montanaro, para que Igor voltasse ao trabalho, meu falso noivo segue na direção que ele orientou para sentar-se. Mal posso acreditar. Ele está prestes a se sentar quando digo:

— Você quer me ver experimentando as lingeries também, amor? Tem umas que deixam os seios à mostra.

Ele parece se desequilibrar, erra a poltrona, senta-se no braço dela e levanta-se depressa, olhando-me como se eu fosse louca.

— Ela está brincando — justifica sem graça.

— Não estou, não.

Pego a bolsa que Perla me estende e volto ao banheiro. Pouco depois, o deixo usando o primeiro conjunto de lingerie. Um sutiã meia taça preto, cuja parte da frente é composta apenas por uma renda bordada transparente. A calcinha é feita da mesma renda, porém é forrada na frente e fio duplo atrás. Vou direto até Igor, como uma noiva apaixonada e giro diante seu olhar. Ele não diz nada, mas sua boca aberta deve querer dizer alguma coisa. Apoio as mãos nos braços da poltrona dando a ele uma visão melhor do sutiã. Seu olhar se desvia para meus seios por alguns segundos antes de voltarem ao meu rosto, as pupilas, dilatadas.

— Só estou agindo como uma noiva apaixonada — digo baixinho.

— Você me paga — ele retruca.

Assim que me afasto, ele se levanta, não diz uma palavra, agindo grosseiramente, vira-se e deixa o quarto. Olho para as meninas confusa.

— Será que ele não gostou?

— Eu acho que ele gostou até demais, querida — Montanaro responde.


Montanaro e as meninas ainda demoraram cerca de três horas para irem embora e assim que o fizeram, Igor enviou uma mensagem dizendo que eu estava dispensada pelo resto do dia. Para ser mais enfático, Astolfo me trouxe o jantar reiterando que eu não devia procurar Igor esta noite pois, segundo ele, o patrão estava bastante agitado e irritado comigo. Covarde.


Estou na cama assistindo algo engraçado, enquanto faço algumas anotações no celular de coisas que preciso me lembrar para a reunião de amanhã, quando recebo uma mensagem de um número desconhecido. Desconhecido porque o deletei da agenda do celular, mas não totalmente porque ainda o sei de cor, infelizmente. É o número de Oscar. Penso em nem abrir a mensagem, mas pouco depois chega outra. Ele não devia estar em lua de mel? Por que está com a esposa me mandando mensagem?

Irritada, acabo abrindo as mensagens.

SURY, AQUI É O OSCAR, PRECISO MUITO FALAR COM VC. ESTOU EM FRENTE SUA CASA, VC PODE VIR UM MINUTO?

Ele foi à minha casa? O que foi fazer lá?

A segunda mensagem diz:

VC NÃO MORA MAIS AQUI? SURY, É MUITO IMPORTANTE, VC CORRE PERIGO. TEM A VER COM IGOR WERNECK.

Não respondo, mas minha mente vagueia na cena protagonizada por Silas. Será que tem a ver com a ameaça que Silas me fez? Mas ele disse que tem a ver com Igor. Ele deve saber alguma coisa, afinal, é o advogado de Silas. Silas e Igor não se dão bem, o que será que Oscar sabe?

Ignoro as mensagens, por mais curiosa esteja. Mas uma hora depois, já tarde demais, chega mais uma.

ESTOU PRÓXIMO AO HOTEL ONDE VC ESTÁ MORANDO. ESTOU NO CAFÉ EXPRESSO MEIA-NOITE. PODE ME ENCONTRAR AQUI?

SEI QUE SOU A ÚLTIMA PESSOA COM QUEM QUER FALAR E QUEM VC MAIS DESPREZA, MAS É MUITO IMPORTANTE. VC E SAMMY CORREM PERIGO. IGOR NÃO É QUEM VC PENSA. SILAS ME CONTOU TUDO, VC PRECISA ACREDITAR EM MIM. VOU CONTAR TUDO A VC.

ESTOU ESPERANDO.

Não respondo as mensagens, mas estou me trocando. O difícil, claro, será sair sem ser vista pelos brutamontes de Igor, afinal, a principal ordem dele é que eu não saia deste quarto. Abro a porta para fazer exatamente isso, quando a pedra azul em meu dedo brilha com o reflexo da lâmpada do corredor. Não vou sair na rua com uma joia que vale o preço de todos os meus órgãos. Volto para a suíte e a guardo com cuidado em meu closet. Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo baixo e visto um casaco com capuz. Não há nenhum segurança no corredor, o que considero uma sorte e consigo correr até a porta da escadaria. Desço dois lances de escada e depois pego o elevador até a recepção. Também não posso ser reconhecida por qualquer repórter ou Igor acabará comigo. Quando piso do lado de fora do hotel, algo parece apertar meu peito e quero voltar para dentro e contar tudo para Igor. Chego a dar a volta e entrar no hotel de novo, mas não posso fazer isso, ele não me deixará ir e o que quer que Oscar esteja disposto a me falar sobre ele, nunca ficarei sabendo. Sinto-me péssima por retribuir todas as suas gentilezas com algo como traição.

O café fica a duas quadras do hotel, então chego rápido. Avisto Oscar de longe, o cabelo castanho hoje está desgrenhado. Quando me sento diante dele, não acho esses olhos verdes tão bonitos mais. Coloco o celular sobre a mesa e digo:

— O que quer me dizer? Não tenho muito tempo.

— Eu fui à sua casa e Sammy disse que você não mora mais lá. Está mesmo morando no hotel com ele?

— Se me chamou aqui para fazer perguntas, estou indo! — Levanto-me e ele segura minha mão.

— Não, por favor, sente-se. Não foi por isso que a chamei. — Sento-me e ele continua. — Quando a vi com ele no casamento pensei que ele apenas a estivesse usando para nos atingir. A Silas e a mim.

— Por quê? Acha que um homem como ele não olharia para alguém como eu?

Ele respira fundo e liberto minha mão de seu toque, mas ele me pega de surpresa segurando minhas duas mãos sobre a mesa.

— Sury, eu ainda amo você. Mesmo que nossa história não tenha sido como imaginávamos, ainda me importo. Silas disse que vocês estão mesmo juntos. Que ele vai se casar com você, isso é sério, não está apenas usando-a. Por isso estou aqui, por isso voltei da viagem depressa e a procurei.

— Viagem? Você quer dizer da sua lua de mel? Oscar, o que exatamente você quer? Por que me fez vir até aqui?

— Igor Werneck não é quem você pensa. O processo em que estou trabalhando para Silas Werneck é contra seu sobrinho, Igor. Silas irá provar que Igor planejou a morte dos pais. Igor Werneck matou a família para herdar sozinho a Valentino's, Sury.

— O quê?

— Silas tem provas que Igor assassinou os pais e o irmão para ser o único herdeiro da Valentino's. 

DEGUSTAÇÃO - UMA PROPOSTA PARA O BILIONÁRIOWhere stories live. Discover now