Prólogo

150 14 5
                                    



As mãos ágeis cortavam as pequenas letras e palavras; as mãos protegidas por luvas. Sentado (a) à escrivaninha, no meio da noite, com o boné e o casaco de capuz encobrindo o rosto. Apenas a luz da luminária clareando o papel, os jornais e revistas velhos e a cola posta sobre um papel, acompanhada de seu pincel. O rosto era uma incógnita. Não havia como decifrar. As luvas negras e grossas não distinguiam se as mãos pertenciam a um homem ou uma mulher.

O recorte estava sendo montado com todo o cuidado. A escrivaninha fora limpa com álcool, retirando tudo o que havia em cima, deixando apenas a luminária. A cola que sobrou havia sido despejada no vaso sanitário em seguida e o seu recipiente e as sobras de revistas e jornais foram queimados em um canto do banheiro e enterrados em um canto de um quintal da vizinhança. Tudo muito pensado. Meticulosamente planejado.

O chão do banheiro fora limpo com alvejante e álcool, esfregado com esponja de aço. E no fim, tudo o que restava era um bilhete anônimo em um envelope, pronto para ser deixado debaixo de certa porta.

Se havia remorso na pessoa que tramou isso, era impossível revelar naquele momento.

Na Calada da Noite - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora