Mr. President

Capítulo 9

— Tudo bem, senhorita Kavanagh. Agora que tal parar com a histeria e me contar o que aconteceu entre você e esse cara?

Kate suspira e encosta na cabeceira da cama, os ombros subindo enquanto ela coloca o cabelo atrás da orelha.

Eu faço o mesmo e puxo o Carter para o meu colo, o peso dele me dando conforto.

Essa será uma longa história.

◕ ◕ ◕

O barulho do despertador me faz gemer e eu levanto o rosto do travesseiro macio, gemendo.

São sete da manhã e eu preciso levantar para trabalhar mas a ideia de ficar mais um pouco na cama nunca me pareceu tão tentadora.

Kate e eu ficamos conversando por horas. Já era madrugada quando ela finalmente se acalmou e me desejou boa noite.

Eu amo a minha amiga e serei eternamente grata a todas as coisas que ela já fez por mim nos últimos anos, mas a vida amorosa da Kate sempre foi algo que tira o meu sono, literalmente.

Eu rio enquanto o despertador soa novamente.

Porra, eu já acordei.

Dou um beijo na barriga do Carter e chuto os lençóis, correndo para o chuveiro. Talvez um banho frio ajude a aliviar o calor sufocante dessa cidade e também afaste o meu cansaço.

É pouco depois das nove quando entro no restaurante do hotel com a minha bolsa, tablet para anotações e gato à tira colo.

Christian, Mia e Elliot estão sentados numa mesa perto da sacada e ela é a primeira a me notar, sorrindo e balançando os braços para chamar a minha atenção.

— Bom dia. — murmuro com um sorriso e aceito a cadeira que Christian arrasta para mim, me sentando enquanto ajeito Carter contra o meu peito.

Ele se senta ao meu lado com um sorriso brilhante e arrasta a cadeira para mais perto, quase invadimos o meu espaço pessoal.

Qual é o problema do idiota, afinal?

Ele não entendeu o que eu disse ontem à noite?

— Ana, o Carter está tão lindo hoje. — Mia pega o gato dos meus braços e beija a cabeça dele, levantando-o para ver melhor o meu bebê gordinho com lapela e gravata borboleta azul, combinando com o meu vestido. 

— É um dia especial, ele precisa estar apresentável. — murmuro com humor e ela sorri mais amplamente, embalando-o como uma criança. — Ele pode ir? Não queria deixá-lo tanto tempo sozinho.

— Sem problemas, ele faz parte da nossa equipe agora. — Christian pisca e empurra uma xícara de chá para mim. — Inglês, fraco e com dois torrões de açúcar. Do jeito que você gosta.

Ele ainda se lembra dessa merda?

— Obrigado. — sussurro baixinho e estendo os braços para pegar o meu gato, mas Christian é mais rápido e puxa ele dos braços da Mia, acomodando-o contra o peito enquanto toma seu café.

Carter ronrona e parece mais que feliz em estar ali, esfregando e cheirando o Christian como se eles fossem íntimos.

Da mesma forma como ele faz comigo.

O traidor de merda.

— Ana, eu estava dando uma lida nos tópicos que você destacou. São realmente impressionantes. — Elliot me lança um sorriso brilhante e eu agradeço com um aceno.

Vamos lá, Anastasia.

Recupere a porra do equilíbrio.

Eu devolvo o sorriso e pego o meu tablet, abrindo o bloco de notas.

— Além dos tópicos que escrevi anteriormente, também elaborei alguns outros que estão em discussão hoje em dia mas que quase ninguém aborda como violência contra a mulher, intolerância religiosa, homofobia e xenofobia. Como estamos na Flórida eu acho que a violência feminina e a xenofobia são os assuntos mais necessários por aqui.

Sinto os olhos do Christian sobre mim, um sorriso discreto surgindo nos lábios.

— Você tem muito apelo em relação a comunidade latina. Tem algum motivo específico? — Mia arqueia uma sobrancelha para mim e eu assinto.

— Minha bisavó era latina e mesmo que eu não a tenha conhecido, a herança hispânica sempre foi presente na minha família.

— Então você tem sangue latino? — Mia quase grita e bate palmas. — Caramba, Ana. Você é definitivamente a pessoa mais incrível que eu já conheci.

Sinto minhas bochechas esquentarem um pouco e eu agradeço com um sorriso sutil, abaixando a cabeça para evitar os olhares curiosos.

Mia e Elliot começam a discutir sobre a agenda do dia e novos compromissos de campanha e eu fico quieta, tomando o meu chá.

Carter começa a ficar inquieto e Christian o ajeita melhor no colo, deitando-o de barriga para cima.

Por que o meu gato gosta dele?

Isso não é justo.

— Por que você foi embora da festa ontem? — Christian sussurra enquanto acaricia as patinhas macias do meu bebê.

Eu dou de ombros e evito seus olhos, mas ele não se dá por vencido e segura o meu queixo, girando a minha cabeça na sua direção.

— Eu estava cansada e precisava me preparar para hoje.

— E com quem você estava falando no celular? — arqueio uma sobrancelha e afasto a mão dele do meu rosto, forçando um sorriso.

— Desde quando eu te devo satisfações? — Christian pressiona os lábios numa linha fina.

— Você trabalha para mim. O sucesso da minha campanha depende muito da sua dedicação, Anastasia. — reviro os olhos e chego mais perto dele, mantendo a voz baixa para não chamar atenção dos demais na mesa.

— Eu sei muito bem das minhas obrigações e garanto que nada vai atrapalhar o meu desempenho mas a minha vida pessoal diz respeito somente a mim, Christian.

Um rubor avermelhado surge no rosto dele e eu luto contra a vontade de sorrir.

Algumas coisas definitivamente nunca mudam.

— Engano seu, Anastasia. Tudo o que você faz diz respeito a mim. Mais do que você é capaz de imaginar, baby.

Que.

Porra.

É.

Essa?

Eu sinto a raiva crescendo dentro de mim e lanço sobre ele o meu melhor olhar de cala a boca se não quiser morrer agora mesmo.

Christian ignora isso e se aproxima mais, nossos narizes se esfregando discretamente. Os olhos dele descem rapidamente pelo meu decote e os lábios sobem sutilmente num sorriso perverso. 

— Você deveria parar de olhar para o meu decote. O que a sua esposa pensaria sobre isso?

A maldita Elena Lincoln.

A rainha da beleza que tem o perfil perfeito para um idiota egocêntrico como Christian Grey.

Estremeço com a lembrança de sete anos atrás. As fotos sendo esfregadas na minha cara e machucando o inferno para fora de mim, fazendo doer igual sal jogado na ferida.

Os olhos do Christian brilham com alguma coisa muito parecida com diversão e ele começa a rir como um idiota.

— Qual é a graça? — minha voz entrega toda a minha raiva e ele morde o lábios inferior, tentando parar de gargalhar.

— Quem te disse que eu sou casado, Anastasia?

[•••]

Aqui das colinas observando
essa treta.
👀