c a p í t u l o ✿ 5 9

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Daniel respirou fundo. Suas férias tinham sido um pesadelo e as semanas que se seguiram pareceram o próprio inferno, mas agora ele começava a sentir que botava a cabeça para fora daquele buraco onde estivera. Sua vida era sempre o mesmo ciclo: o fundo do poço, depois um lapso de melhora que aos poucos começava a trazer dias bons, mas sempre com a iminência de que voltaria para aquele lugar escuro de novo.

A pior parte era que os dias bons... realmente lhe davam alguma esperança de que aquela melhora seria duradoura. O que só tornava mil vezes mais doloroso quando tudo piorava.

— Podia ser assim sempre... — Ele murmurou, chutando uma pedrinha no meio do caminho. Parou em frente à lan house e cumprimentou Andrei pelo vidro com um aceno de cabeça, mas não entrou ainda.

— É, acho que as coisas seriam melhores mesmo. — Emily falou, então ele ouviu um inspirar profundo do outro lado, e a voz dela voltou mais alta: — Mas, sabe, acho que temos que tentar lidar com isso da melhor forma possível. Quando eu e a Bianca viramos amigas, a mãe começou a jogar umas indiretas, daquele jeito que você sabe que ela faz... mas ela também fazia a mesma coisa com a Marcela, falava sobre como a família dela não tinha classe nenhuma, e com a Vanessa... Então eu comecei a pensar que, se ela vai reclamar de qualquer jeito, não vou deixar isso me impedir de sair com a Bi... Ai, minha nossa, não tem problema eu falar sobre ela, né?! É que ela é minha amiga...

Daniel demorou uns bons segundos para conseguir reagir. Fazia anos que não via sua irmã falando... tanto.

— Claro que não. — Ele deu de ombros, mas a forma como o seu coração sempre reagia não condizia com a postura tranquila que queria passar. Músculo idiota. — Ela também é minha amiga.

— Eu sei, mas você ficou o mês passado inteiro péssimo por causa dela e...

— Eu não fiquei péssimo por causa dela! — Daniel se defendeu.

— Se falar isso te faz dormir melhor à noite, tudo bem. Orgulhoso.

Se ele não estivesse tão feliz em ver a irmã parecendo bem, definitivamente estrangularia ela. Por que mesmo voltou a falar com aquela ridícula?

— Hm, quer saber? Não quero mais ser seu irmão. Nunca mais liga pra mim.

— Daniel, foi você que me ligou! — Emily falou, tentando segurar o riso.

— E agora vou desligar para ir pra Cyber. Tchau, ridícula.

— Tchau, idiota! Te a-

Ele já tinha apertado em encerrar a chamada, então se obrigou a mandar um SMS (maldito internato estranho com bloqueador de 4g) falando que a amava também. Colocou "não muito" entre parênteses, porque gostava de incomodar.

Era bom ter a amizade com Emily de volta. Melhor ainda ver como a irmã, aos poucos, começava a recuperar o antigo ânimo. Ela nunca chegou a parar as consultas com a psicóloga, o que sempre segurou a barra, mas a mudança de atitude provavelmente se devia à nova rotina e às amigas.

Sabia bem como bons amigos ajudavam a segurar a barra nos momentos difíceis. No último mês, quando ele realmente ficou péssimo (maldita Emily) depois da conversa com Bianca, VH e Zoe não saíram do seu lado. Os três vieram praticamente todos os dias possíveis para a pista de skate, e só voltavam para o internato no último horário. Daniel deu um sorriso enquanto finalmente entrava na lan house.

Apesar de tudo o que havia acontecido no último mês, estava se sentindo melhor. Bem, até. Era uma mudança bem-vinda — e mesmo que não viesse para ficar, ele merecia aproveitá-la um pouco.



CamelliaWhere stories live. Discover now