O príncipe e a fiel Chuva

A Chuva

"Se fudeu, deve ter sido por causa dessa faixa cobrindo seu olho
direito" disse He Xuan, indiferente. Ele estava zombando do amigo por ter sido demitido pela quinta vez nesse mês.

"Ao invés de você vir aqui me encher o saco, poderia me ajudar a
arrumar um novo emprego" respondeu Hua Cheng.

Os dois estavam num beco, He Xuan esperava o amigo acabar de
arrumar suas coisas para começar um dia de longas e negativas buscas por emprego. Ninguém na capital gostaria de empregar dois adolescentes, mas é a situação de muitos jovens por aí.

"Enfim, você já arranjou um trabalho?" perguntou Hua, seguindo He Xuan.

"Hm... mais ou menos. Meu pai viu que eu estava com dificuldades para encontrar um e disse que ia me ajudar nisso."

A situação da família de He Xuan é um pouco melhor do que a de Hua
Cheng. He Xuan tem apenas uma irmã e mora com os dois pais. Ele só resolveu começar a buscar emprego para ajudar com algumas despesas e coisas pessoais. Ainda assim, não chega a ser da classe média da sociedade.

Já o caso de Hua Cheng é outro, ele é o terceiro filho de cinco irmãos.
Os dois mais velhos já saíram de casa e seu pai é ausente. Sua mãe cuida de seu irmão Yin Yu, de treze anos, e de sua irmã Ban Yue, de dez. Trabalha durante a noite num restaurante. O dinheiro começou a não ser suficiente para uma boa qualidade de vida há uns meses, então, Hua se ofereceu para ajudar.

"Eu ouvi falar que estavam contratando num bar do centro" comenta He Xuan. "Não me contrataram, pois no meu exame eu fiquei comendo os doces do balcão, mas você pode tentar."

"...É, talvez eu tente mais tarde. E você sempre se fudendo por conta
da sua barriga que mais parece um buraco negro."

"Não é minha culpa."

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Depois de comparecer a três entrevistas de emprego e ser rejeitado em cada uma delas, Hua decidiu ir no tal bar que He Xuan comentou.

Era perto das três da tarde, o movimento não era muito grande, portanto seria uma boa hora para uma entrevista. O problema é que havia começado a chover, o pobre coitado teve que entrar no bar todo molhado. Isso com certeza não o favoreceu.

"Como assim não contratam mais jovens?" perguntou Hua, confuso.

"É isso que você ouviu, garoto" respondeu o dono, irritado. "Os
últimos jovens que contratamos eram um total desastre, sem falar do último exame de entrada."

"O que aconteceu no último exame...?" perguntou ele, logo se
arrependendo.

"Aquela criança maldita ficou comendo todos os aperitivos das mesas! Foi um prejuízo!"

Maldito He Xuan...; pensou Hua Cheng.

"Mas eu não sou como aquelas crianças. Tenho quinze anos, sou
responsável o suficiente pra seguir as regras do local" argumentou Hua.

"Moleque, você tá todo molhado. Não tem responsabilidade nem
para se vestir apropriadamente para uma entrevista de emprego?! Não tem um guarda-chuva?!"

"Ahm, não..." murmurou baixinho.

"Uh, fora" o dono apontou para a porta.

"Ma... mas...!"

"Pra fora, agora!" o homem segurou Hua pelo braço e o puxou até a porta, o jogando por ela, que caiu no chão molhado pela chuva.

A porta foi fechada fortemente e Hua viu mais uma oportunidade indo embora.