Ela acordou

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Já vi muitas coisas impossíveis. Mas nunca vi uma mulher morta viver...

    Escuro completo e frio. Apenas flesh de memórias vinham na cabeça de Eva.
    Ela estava em casa com suas filhas e Justin, os cinco estavam amontoados no sofá, assistindo televisão e comendo pipoca. Estavam tão felizes.

    Depois ela se viu parada na porta do quarto das meninas, as gêmeas eram bebês de dois anos e estavam no berço, Vivi já tinha cinco anos. Seu corpo estava começando a transparecer a magia, as vezes ela fazia flores brotarem ao seu redor quando brincava no jardim, ou passarinhos traziam frutinhas até seu quarto por espontânea vontade. Sua pele era uma mistura de verde e bege, suas orelhas começavam a ter pelos nas pontas, mas seus olhos permanecem iguais desde o dia em que nasceu, dourados e felinos. Vivi estava chorando e sua boca estava cortada.
    -Amor! - Eva chamou com preocupação, assustando a menina, que se esforçou para limpar o pouco de sangue na boca. -O que aconteceu? - Eva se sentou ao lado da filha.
    -Mamãe, eu sou um monstro? - A garota perguntou com os olhos brilhando com as lágrimas presas.
    -É claro que não! Por quê?
    -Eles me chamaram disso, na escola. - Vivi não se aguenta e começa a soluçar. - Falaram que pareço um.
    -Meu amor, você é linda. É a garota mais linda que já vi. - Eva abraça a filha. Ela realmente a achava linda, mas nem todos enxergariam uma barrete vermelho assim. Pelo menos ela não tem as presas.
    -Então por quê eles tem medo de mim?
    -As pessoas podem ser cruéis. Só enxergam o que há por fora e se esquecem do que tem aqui. - Eva põem a mão sobre o coração de sua filha. -E o seu coração é o mais bondoso que já vi.
    -Só fala isso porquê é minha mãe. - Vivi deixou escapar um sorriso.
    -O que torna minha opinião bem mais importantes do que a de qualquer um.
    -Papai também acha isso? - Vivi pergunta com Inocência.
    -Seu pai - Eva começou a lembrar do pai de Vivi. Seu coração pesou. -Eu sei... que você é a coisa mais preciosa do mundo para ele. - Eva não mentiu, mas também manipulou a verdade. Parece que ela não conseguiu abandonar completamente os costumes feéricos.
    Vivi abraçou sua mãe outra vez, ainda mais forte.

    Agora Eva voltou um pouco mais no tempo. Ela estava no quarto da antiga casa que ela e Justin moravam, em seu antigo quarto, uma de muitas em que eles já estiveram. Ela estava ofegante, encharcada de suor, e uma dor lancinante percorria todo o seu corpo e depois voltava para entre suas pernas. Justin estava a sua frente, segurando um cobertor. Eva gritava e fechava a mão com tanta força, que tinha certeza que se furaria com a própria unha.
    -Falta pouco. Empurre! - Justin insistia.
    -Isso dói! Eu não consigo! - Eva grita em desespero.
    -Você precisa! Empurre!
    -Não dá! Eu não consigo fazer isso sem ele! - ela respirou fundo e começou a chorar -Ele devia estar aqui!
    -EU ESTOU AQUI! - Justin começou a pensar que Eva estava delirando. Ela não podia estar falando sério, não depois de tudo.
    Eva empurrou uma última vez, e como se fosse um suspiro liberado, a dor aliviou. Ela sentiu o quarto girar e sem perceber, acabou pegando no sono ali mesmo.
    Quando acordou, entrou em pânico, tateando a cama e olhando em volta no quarto, ela não sabia onde sua filha estava.
    Até que viu Justin passar pela porta, carregando uma bebê adormecida. A semelhança com Madoc era inquestionável, o cabelo loiro escuro e a pele esverdeada. Eva teve esperança, que para o bem de sua filha, ela se parecesse mais com uma humana.
    -Ela tem o seu nariz. - Justin brincou, mas era verdade.
    -Me deixe segurá-la. - Eva estendeu os braços, para receber sua filha. Ela era perfeita, na mesma hora, Eva sentiu que a sua escolha havia válido a pena.
    -Já pensou no que eu disse? - Justin falou, parecia ansioso, mas de um jeito preocupado.
    -Eu sou grata pelo que você fez por mim, de verdade, você é meu amigo Justin e gosto de você, mas...
    -Não é o bastante para você, não é?
    Eva balançava a cabeça em sinal de negação.
    -Você merece alguém que te ame tanto quanto você é capaz de amar. Você merece mais do que eu. - ela suspirou -Além disso, eu sou um risco para você, se esconder por conta própria é uma coisa, agora, esconder uma mulher e um bebê... igual a minha filha...
    -Eva, eu te amo. - ele pegou uma das mãos dela -Eu sei que se você permitir, eu posso ser a pessoa que você precisa. Por favor.

    Agora anos haviam se passado. Eva tinha acabado de sair da cozinha, ela escutou Jude gritar por ela. Mas a memória estava diferente, sua filha não estava em lugar algum e a passagem da cozinha não dava mais na ante-sala, dava em uma floresta. A floresta era tão densa que só passa alguns raios de sol pelas copas das árvores.
    -Você jurou. - uma voz falou atrás dela, estava pesada. -O que vale a promessa de uma esposa mortal? - a voz se aproximava, Eva sabia de quem era. Ela não conseguia olhar para trás, o medo a paralisou.
    -Eu não tive escolha. Eu precisei. Ela é nossa filha. - Eva tentou se explicar com a voz trêmula. -Por favor!
    -Acho que tenho minha resposta. - A voz agora estava do lado do seu ouvido.
    Eva sentiu uma mão pesada em seu ombro, a segurando, a impedindo de correr. Em seguida, ela ouviu o barulho de metal, uma espada sendo retirada da bainha. E antes que o pior acontecesse...

    -NÃÃÃO - Eva se sentou na cama, gritando. Seu rosto estava molhado, mas não era suor. Lágrimas.
    -Meu Deus! Ela acordou! - a voz chamou a atenção de Eva. Era uma mulher de roupa verde, parecia uma enfermeira. Ela correu para o corredor. Mas não era mais o corredor de sua casa. -DOUTOR, ELA ACORDOU! A PACIENTE ACORDOU! - era um hospital. Eva estava deitada em uma maca.

    "Quanto tempo havia passado? Onde minhas filhas estão? Como eu estou viva? Minhas filhas, minhas garotinhas."

































De volta do nadaWhere stories live. Discover now