••• Prólogo •••

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    O Sol brilhava lá fora queimando o asfalto da entrada das casas. Cortadores de grama zumbido e crianças brincando em piscinas no quintal. O pai das garotas estava no barracão do jardim, na sua peque a oficina. A mãe estava na cozinha, fazendo hambúrguer. Tudo estava calmo, quase tedioso. Tudo estava bem. Quando a batida na porta soou...
    Jude pulou do sofá, onde estava com suas irmãs, e foi até a ante-sala, para atender a porta. Esperava que fosse uma das garotas da casa da frente, querendo jogar videogame ou querendo convidá-las para nadar na piscina de sua casa.
    Ao atender, viu um homem alto sobre o capacho, olhando para ela. Usava uma longa capa vermelha escura, apesar do calor. Quando o mesmo passou para dentro, Jude olhou para seu rosto mal barbeado e tremeu.
    -Mãe. - gritou - Mãããããe! Tem uma pessoa aqui.
    A mãe veio da cozinha, secando as mãos na calça jeans. Quando viu o homem, ficou pálida.
    -Vá para seu quarto. - A mãe ordenou com uma voz assustadora. -Agora!
    -De quem essa menina é filha? - O homem perguntou, apontando para a criança. - Sua? Dele?
    -De ninguém. Ela não é filha de ninguém. - Jude começou a subir o primeiro degrau da escada. Mas depois de ouvir a voz de sua mãe, não conseguiu dar nem mais um passo.
    -Já vi muitas coisas impossíveis. - disse o homem começando a se aproximar da mãe. -Mas nunca vi uma mulher morta viver ou uma criança nascida do nada.
    A mãe de Jude pareceu não ter palavras. Seu corpo estava vibrando de tensão.
    -Duvidei de Balekin quando ele me contou que encontraria você aqui. - A voz do homem estava mais suave agora. -Os restos da mulher humana e da criança natimorta nos escombros queimados da minha propriedade foram bem convincentes. Tem ideia do que é voltar da guerra e ver sua esposa morta, sua única criança com ela? Encontrar sua vida reduzida a cinzas?
    A mãe balançou a cabeça como se tentasse afastar as palavras.
    O homem deu mais um passo para frente, enquanto a mãe de Jude deu um passo para trás. Jude percebeu o tom esverdeado da pele dele, o jeito que os dentes inferiores pareceram grandes demais para a boca.
    Ela também notou que os olhos do homem eram iguais aos olhos de sua irmã mais velha, Vivi.
    -Eu nunca seria feliz com você. - Disse a mãe. - Seu mundo não era para pessoas como eu.
    O homem alto a olhou por um longo momento.
    -Você jurou. - ele disse. Seu olhar foi até Jude e sua expressão ficou mais dura. -O que vale a promessa de uma esposa mortal? - ele deu um longo e pesado suspiro antes de voltar a olhar para a mãe. -Acho que tenho minha resposta.
    A mãe olhou para Jude. A menina correu de volta para a sala.
    Suas irmãs ainda estavam no sofá.
    -Quem está na porta? - Taryn perguntou. -Ouvi uma discussão.
    -Um homem assustador! -Jude falou quase sem fôlego para sua gêmea. -Temos que subir.
    Quando as três correm até a ante-sala para subir a escada, Jude viu sem pai entrando, vindo do jardim. Ele segurava um Machado, uma réplica que ele fez para se parecer a outro que ele viu em um museu na Islândia. O pai e os amigos gostavam de armas antigas e cultura medieval, então não é raro ver seu pai com algo assim. O que parecia estranho era o jeito que ele segurava a arma, como se fosse...
    O pai lançou o machado na direção do homem alto.
    Seu pai nunca nem tinha levantado a mão para ela e suas irmãs, nem quando se metiam em encrencas. Ele não machucava ninguém. Era incapaz disso.
    O machado passou do lalo do homem alto e acertou a soleira da porta.
    Taryn deu um gritinho e tapou a boca com as mãos.
    O homem sacou uma espada curva que escondia por baixo da capa. Em um piscar de olhos, o homem correu na direção de seu pai e cravou a espada na barriga dele, a erguendo para cima, o levantando alguns centímetros do chão. O som foi de palitos quebrando e um urro animalesco de dor. Quando o homem alto terminou, deixou que o pai caísse no chão, sobre o tapete da porta, que começava a ficar vermelho
    A mãe gritou. Jude gritou. Vivi e Taryn gritaram. O único que parecia não estar em desespero ou aos prantos, era o homem que segurava a espada, que agora reluzia com a cor vermelha.
    -Venha aqui. - disse ele, olhando diretamente para Vivi.
    -SEU MONSTRO! - gritou a mãe. - Ele está morto! - ela começou a correr para a cozinha.
    -NÃO FUJA DE MIM! - ele gritou - Não depois do que você fez. Se fugir de novo, eu juro que...
    Mas ela fugiu. Já havia entrado na cozinha quando a espada foi cravada nas suas costas. A mãe derrubava os ímãs da geladeira no chão enquanto suas pernas falhavam. O homem removeu a espada e a largou, enquanto segurava a mulher nos braços, indo ao chão com ela.
    Quando Jude escutou o barulho, correu para a cozinha e avançou contra o homem, começou a bater em seu peito, chutar em qualquer lugar que conseguisse. Ela sequer conseguia sentir medo.
    O homem não deu atenção a Jude. Por um longo momento, simplesmente ficou ali parado, como se não conseguisse acreditar no que tinha feito. Como se desejasse poder voltar atrás cinco minutos. Mais cinco minutos. Ele ainda segurava a mulher, enquanto acariciava seu rosto, o sujando com o próprio sangue, até que a respiração dela ficasse mais lenta e sufocada, mas era persistente. Os olhos dele brilhavam e sua respiração estava falha e exitante.
    A mulher olhou de canto de olho para sua filha e deixou cair uma lágrima, depois seus olhos voltaram para o homem, até que, tudo ficou escuro...



































De volta do nadaWhere stories live. Discover now