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"E nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas pra contar."

.....

- Eu posso segurar a sua mão? - Sussurro baixinho, com medo que mais alguém possa ouvir.

- Está com medo, querido? - Mamãe baixa os olhos para mim, com um meio sorriso enquanto o vento bagunça seus cabelos castanhos.

- Não, bem, talvez um pouco... ou muito.

- Por quê?

- E se eles não gostarem de mim?

- É claro que irão gostar de você, Harry.

- Não sei, a Gem disse que não é fácil no primeiro dia de escola. Eu tenho medo de não gostarem de mim e me excluírem. Quero que gostem de mim.

- Eles vão, meu bebê. - Ela interrompe o passo, para se abaixar ficando na minha altura e bagunçando meus cabelos.

- Não quero ficar abandonado.

Abandonado. Quando você se apaixona esse é o tipo de coisa que não passa pela sua cabeça. Quando você está apaixonado tudo o que passa pela sua cabeça são beijos, carícias e toda aquela porcaria romântica que te deixa cego para qualquer tipo de rejeição, até o dia em que ela vem, de modo inesperado, mas vem. Entretanto, mesmo depois de ter sido praticamente arrastado porta a fora eu alimentava uma vaga esperança de que ele pudesse voltar atrás, parte de mim acreditava que Louis era tão dependente de mim, quanto eu era dele.

Contudo já não estávamos em Londres. A placa de bem vindo à Holmes Chapel já havia ficado para trás e era tudo uma grande merda. Através dos vidros que eu tanto esmurrara horas atrás me era permitido contemplar a cidade onde eu nasci. O prédio imponente e classudo onde eu estudara por anos, o parquinho que vinha com minha irmã brincar em dias de sol, a fachada colorida do Miller Milk, repleta de adolescentes bebendo milk-shake e ouvindo soul. Mais a frente o letreiro apagado do Billy's, me fazendo lembrar dos dias em que eu descia a rua pedalando o mais rápido que podia para voltar antes do fim da missa. Aquilo parece ter sido há décadas, quando não tem nem um ano ainda.

- Estamos chegando, bebê. - Mamãe sussurra, continuando a acariciar meus cabelos, tentando me manter calmo desde que eu acordei. Sinto um soluço subindo pela garganta, mas tento evita-lo, não tenho mais forças para chorar.

Sinto um ligeiro desconforto no pé da barriga e suspiro, quase melancólico, quando passamos em frente ao espaço aberto onde todo domingo havia uma grande tela branca que nós chamávamos de drive-in.

- Hey boneca! - Zayn lança mais uma pipoca em minha direção, que acerta minha bochecha e só me faz aumentar a carranca - Assiste o filme, tá legal.

- Não quero assistir merda nenhuma. - Bufo apertando os braços com mais força contra o peito.

- Eu não entendo qual é a sua, você que insistiu pra sair comigo.

Minha carranca se desmancha para adotar uma expressão alarmada ao que eu me viro para poder encara-lo propriamente. Os cabelos negros bagunçados e aquele maldito rosto perfeito, me atrapalhando em me manter bravo. Ele precisava mesmo estar vestindo sua jaqueta de couro? Desnecessário.

- Não, eu insisti em um encontro.

- Isso é um encontro. - Ele rebate, como se realmente acreditasse nisso. Qual é o problema de Zayn? Francamente...

- Não! Nem fudendo, isso... - Indico tudo ao nosso redor, os carros amontoados que faziam o ar feder a fumaça e gasolina velha, cheio de pessoas solitárias e mal amadas que iam para o drive-in, afim de fugir da própria companhia, enquanto assistiam algum filme ultrapassado e sem graça como este. Jailhouse Rock era o cúmulo, um filme com Elvis Presley era muito difícil de engolir e ainda por cima incluir num encontro. Sem falar da pipoca murcha sem sal e do desconforto que era ficar dentro do calhambeque caindo aos pedaços de Zayn -, não é o encontro que eu queria. Podia pelo menos me levar em um restaurante.

PERFUMEWhere stories live. Discover now