Capítulo 1

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44.

O número de metal colado na porta do quarto encarava Hoseok silenciosamente.

Quarto quarenta e quatro. Qua-qua-qua. Uma risada maldosa e sádica, que ria abertamente de toda a tristeza e dor pairando no lugar.

A mão de Hoseok foi até a maçaneta e ele fechou os olhos.

Fazia quase dois meses desde que ele viera naquele hospital pela última vez. Dois meses que sua vida virou esse vazio escuro e sem vida onde ele apenas tateava em busca de algo que pudesse se segurar para não afundar.

Fechou os olhos com força, tentando impedi-los de se derramar lágrimas.

Dois meses que um dia mudou tudo.

Dois meses que ali naqueles corredores um pedaço foi arracado de si.

- NÃO. É MENTIRA! EU QUERO VÊ-LO. CADÊ ELE?

– Hoseok, o senhor e a senhora Min estão com ele – Braços gentis e amigáveis o apertaram.

– Não – Suas pernas cederam a dor e seu corpo caiu no chão – Me diz que é mentira, Jimin. Me diz que é mentira. Me diz!

– Seok...

– Não pode ser. Eu sei que não. Não pode, tá me ouvindo? Não. Não – Soluços se misturaram as suas palavras. Suas entranhas arderam como se estivessem sendo queimadas de dentro pra fora – NÃO PODE.

Suas entranhas arderam como se estivessem queimadas de dentro para fora. Uma mão invisível acabara de arrancar seu coração de uma só vez. Sem aviso ou anestesia. Hoseok esfregou as mãos no rosto com força. Tudo doía. Falar ficou difícil, respirar ficou difícil, ficar em pé, então, ficou impossível. Mas chorar e soluçar ficou fácil, automático.

Ele curvou o tronco em torno de si mesmo, prostrado no chão do hospital e chorou. Chorou como se gritasse, como se precisasse chorar ou iria implodir. E ele iria. Não sabia, mas iria.

Ao seu lado, Jimin o abraçava também chorando.

Como era possível?

Como?

Nem sabe quanto tempo ficou daquele jeito. Esquecera de contar. Nada mais fazia sentido. Horas, falas, gestos. Nem aquele hospital fazia sentido! O barulho discreto de pacientes ou familiares, as paredes beges e sem vida, os médicos, enfermeiros, outros profissionais, todo o mundo e a vida que o cercava não faziam mais sentido.

Sem demonstrar nenhuma emoção, o médico o chamou. Podia vê-lo agora, podia se despedir. Se despedir! Não. Hoseok não queria se despedir. Queria vê-lo. Porque nada daquilo fazia sentido. Nada! Precisava vê-lo para descobrir que tudo não passara de uma brincadeira de mal gosto. Que ele estava bem. Que iria rir e dizer: "Hobi, desculpa, foi só uma brincadeira. Eu tô bem". Enquanto Hoseok ao seu lado choraria e lhe daria pequenos e gentis empurrões. "Como você pode fazer isso comigo, Yoon?" Yoongi o envolveria em seus braços rindo. "Me desculpa. Foi ideia do Augusto". "Não quero saber! Sai. Nunca mais vou falar com você". "Vai sim".

Mas não iria.

Ainda segurando a maçaneta, Hoseok limpou os olhos e afastou as lembranças para longe. Já tinha muito para enfrentar ali atrás daquela porta, não precisa de mais para cutucar ainda mais a ferida. Empurrou a dor para um cantinho escondido fora do coração, respirou fundo mais uma, duas, três vezes e entrou.

O pequeno corredor de menos de um metro pareceu infinito a sua frente. Ao final, o senhor e a senhora Min conversavam baixinho com Jimin. Os pés de Hoseok enguiçaram. Esqueceram como fazia para caminhar e ele precisou se concentrar naquela tarefa, como se jamais a tivesse realizado antes. Buscou apoio na parede ao seu lado. Os olhos acompanharam os movimentos de esquerda e direita, esquerda e direita, se negando a olhar para o quarto. Para o que veria quando o corredor terminasse.

Dois [SOPE / YOONSEOK]Where stories live. Discover now