Capítulo 01

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Maria Santos

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GATILHO: AGRESSÃO FISÍCA, VERBAL, ASSEDIO E PRONUNCIO DE ESTUPRO

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O medo toma meu corpo quando vejo aquele homem entrando em casa completamente bebado, ele me olha fazendo meu corpo ficar tenso.

— Vem aqui, vem — estica a mão na minha direção se arrastando ate mim — Deixa eu foder essa bocetinha — seu sorriso nojento causa ânsia em mim.

— Você é tão nojento, respeita nem o filho que eu carrego — faço careta quando sinto o cheiro de pinga — Olha para você mano...

— Para, eu sei você ama sentar em um pau.

— E com certeza não é o seu.

Seu rosto se contorce em raiva e ele se joga em cima de mim batendo no meu rosto, abraço minha barriga e tento sair da sala, mas não vou muito longe quando sinto ele puxar meu cabelo causando uma dor enorme.

— Vagabunda! — grita me acertando outro tapa — Você é uma puta igual sua mãe — sorri apertando meu rosto — A única coisa boa que deixou foi a filhinha. — sinto sua mão na minha bunda e o empurro longe

— Não toca em mim! — grito, ele ri jogado no chão, ele levanta se arrastando — Você é um monstro nojento bêbado — o empurro e ele cai de novo — Morra, seu desgraçado — ele não se move e eu vejo sangue na mesinha da sala — Que o diabo te torture ate eternidade.

Corro ate meu quarto colocando minhas roupas em uma mala e as coisas do meu bebe em outra mala, amarro meus cabelos senti o suor escorrer no meu pescoço. Depois de tudo pronto saio de casa caminhando na estrada de terra ate chegar na pista onde tinha um ponto de ônibus.

Ele esta morto, ninguém vai descobrir, você esta livre...

Dois malditos anos vivendo naquele inferno, depois que meu pai morreu ela não demorou colocar o amante em casa, não deixou nem o corpo esfriar primeiro. Aquela desgraçada, eu devia ter ido embora, devia ter pegado o primeiro ônibus e ter ido embora, mas não, tive que pensar como uma filha e não deixar a mamãe sozinha.

Foda-se ela! Foda-se!

Meu padrasto me assediava constantemente, minha mãe não acreditava, meus amigos não acreditavam, os policiais não acreditavam.

"Um homem de bem" diziam eles.

Esse homem de bem me estuprou depois que minha mãe morreu, dois anos, malditos dois anos vivendo aquela tortura e o que mais temia aconteceu, engravidei. Se antes não podia sair, após grávida, agora é que não podia mesmo.

Pensei em várias maneiras de abortar e em nenhuma tive coragem.

Uma vez precisei sair, minha barriga já estava grande demais para três meses e todos viram, insinuaram que eu tinha um caso com aquele homem, mas falei para todos o que acontecia, ate enviei um video dele me estuprando para cidade toda. A polícia veio atrás, mas já era tarde e ele fugiu me levando juntos ou iria, ou morreria com meu filho e eu fui.

Ele não me tocou mais, mas em compensação me batia sem parar.

— Você vai descer? — o cobrador me catucou.

— Obrigada — ele me ajudou com a mochila e a descer do ônibus, depois tirou minhas malas deixando em um canto, entrando no ônibus de novo, então percebi ser a única que falta para sair. — E agora? — tinha alguns trocados no bolso, não sabia se dava para algum táxi. De longe vi uma van de lotação e suspirei aliviada. — Pode me ajudar moço?

Ele balançou a cabeça e pegou minhas malas colocando dentro.

— Vai pra onde dona?

Vi as plaquinhas dos lugares que eles levavam, então vi o complexo da Maré, já ouvira falar daquela favela e era muito perigosa, mas era tudo ou nada e no momento, eu to mais para nada.

— Maré — ele balançou a cabeça.

Ele esperou algumas pessoas entrarem e fechou a porta e a van se morreu saindo da rodoviária.

No caminho eu olhava através das janelas pessoas andando de um lado para o outro, pessoas vendendo bala e salgadinho no trânsito e também vi de longe uma lanchonete de salgados. Pedi para o homem parar, ele me olhou estranho, mas nem liguei era desejo de grávida, fui rápido e comprei dois pastel e um refrigerante

Nem ofereci, to nem aí.

Comi como uma morta de fome, parecia que não comia a meses.

Depois de algumas minutos ou horas a gente chegou no meu destino, nervosa eu olhava para aquele mundo de favela, meu filho se mexia como estive em uma escola de samba me deixando mais nervosa. No calor do cacete e eu subi ate a entrada.

— Eu quero alugar uma casa não tenho muito, mas eu preciso

— Com essa grana só da para te arruma um barraquinho velho dona. — colocou o cigarro na boca sugando.

— Certo... — suspirei, não tinha para aonde ir e não podia voltar. — Eu aceito.

Ele gritou para um homem e ele me levou ate minha nova casa. Na verdade, não podia nem ser considerado uma casa, era realmente um barraco velho pra cacete, tinha alguns furos no teto e a porta de madeira também furada, não tinha cozinha, mas a sala era grande e também tinha dois quartos.

O maior parecia o melhor, sem buracos no teto e um banheiro, já o outro, era mais acabado, paredes mofadas e não tinha banheiro. De repente alguém bateu na porta me assustando e abri, era o mesmo cara que me trouxe.

— O seguinte, morador novo nois da dois meses pra pagar o primeiro aluguel — me olhou de cima a baixo — Mas pra mulher gravida e sozinha nois da três meses. — disse e se virou pra sair, mas eu o chamei.

— Você sabe de algum trabalho? Eu realmente preciso.

— O dono precisa de uma faxineira, você precisa ta la todo dia as 6h, quando chegar la os cara te da mais informação pra tu. — e foi embora.

Não sabia como, mas iria conseguir fazer desse lugar meu lar, eu tenho fé que vou conseguir, ou não me chamo Maria.

~*~

Maria Onde as histórias ganham vida. Descobre agora