Capítulo 15

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— Um, dois, três... Que sequência impressionante! — O rosto do meu pai se iluminou conforme minhas peças avançavam no tabuleiro.

Era uma partida simples de damas, mas eu sabia reconhecer que aquela jogada era impressionante.

— Foi meu pai quem me ensinou — expliquei entristecida, meu sorriso discreto foi causado por algumas memórias insistentes.

— Se ele conhece outras jogadas boas como essa, quero ser bom desse jeito um dia — ele disse, sem perceber meu desânimo momentâneo.

Torci meus lábios entristecida e balancei a cabeça para concordar.

— Você será.

***

Meu pai era a pessoa mais proxima que eu tinha na infância. Ele está presente em grande parte das minhas boas memórias, e também nas ruins. Às vezes, flashes de momentos antigos ressurgem em minha mente.

Como herdeira e única filha, o rei de Aruna sempre esteve à frente quando o assunto era minha educação. Isso não incluía apenas as aulas de conhecimentos gerais com minha tutora particular, como também sobre manejar espadas ou me defender.

— Eu vou chamá-lo de Estrela — falei animada enquanto encarava meu novo potro branco, que em breve seria o cavalo que me acompanharia até... a morte.

Malkiur suspirou desanimado, como sempre fazia quando percebia que precisaria me dar uma notícia ruim, e abaixou ao meu lado para olhar em meus olhos. Eu tinha oito anos e embora já estivesse começando a aprender sobre minhas obrigações para com o povo aruniense, ainda era uma criança sentimental e sonhadora.

— Querida... — Ele recuou e refletiu por alguns segundos antes de sorrir e continuar. — Sabe que um dia tomará o meu lugar no trono, não sabe?

Balancei a cabeça para concordar, mas estava confusa, porque aquele assunto não parecia ter relação com nossa conversa.

— Quando esse dia chegar, não terá mais tempo para nomear seus cavalos ou mesmo se divertir com eles... Por isso, aproveite agora — foi tudo o que ele disse, tocando meu cabelo com todo o cuidado que sempre demonstrava.

Sorri e balancei a cabeça para concordar novamente, agora muito mais feliz. Meu pai sempre pensava nisso antes de qualquer ensinamento, mas eu já era uma adulta completa quando comecei a entender.

Todos os ensinos de Malkiur eram assim: sobre um futuro, o tempo em que eu não poderia mais ser livre e feliz como naqueles dias, e por isso sempre precisava aproveitar cada segundo como se fosse o último. Meu pai, em muitos casos, ficava calado, apenas observando minhas brincadeiras com paciência.

Aquela felicidade singela e despreocupada da minha infância durou apenas até meus dez anos de idade, quando meu pai partiu para o campo de batalha contra os itzans.

Nossa despedida foi dolorosa. Ninguém sabia quando ele voltaria, sequer se voltaria, e como a criança que era, não queria soltá-lo para permitir que fosse.

— Não esqueça de mim, papai — implorei, abraçando com ainda mais força enquanto minha mãe e Dahle tentavam me desvencilhar. — Volte por mim.

— Eu vou voltar...

— Não esqueça, papai — gritei enquanto era arrastada para longe para que meu pai subisse em seu cavalo.

Ele suspirou entristecido e engoliu seco para impedir suas lágrimas.

— Nunca, sequer em um milhão de anos, eu a esqueceria, Helene — foi sua última frase antes de ir embora.

A Coroa de Luz [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora