E assim foi mesmo minutos após entrarem na nave e se acomodarem. T'Challa garantiu que Zemo ficaria preso nos fundos sem lhes causar mais problemas, amarrado e com uma amordaça na boca para impedir que dissesse as palavras que ativariam o Soldado Invernal em Bucky outra vez, causando acidentes e livrando-o da prisão a qual sabia estar indo. O Soldado ficou um pouco aliviado por isso, mas ainda era desconfortável tê-lo no mesmo ambiente e tão próximo.

Quanto a Daiana... sentia-se magoado e nem sabia se tinha este direito.

— Vai continuar me ignorando? — Ela criou coragem para perguntar, incomodada com o silencio constrangedor entre eles.

Steve pilotava a nave, T'Challa estava ao fundo com Zemo e restava a eles ficarem sentados frente a frente. Não era a mesma nave que vieram. Esta pertencia a Wakanda, era muito maior e confortável, além de um sistema de camuflagem que anteriormente os impediu de descobrir a presença de T'Challa.

— Não estou te ignorando — seco, respondeu mantendo a voz baixa, assim como ela, para que não fossem ouvidos.

— Não consegue nem me olhar nos olhos — magoada, cuspiu com a voz trêmula.

Barnes fechou os olhos e suspirou lentamente antes de erguer a cabeça e encará-la da forma que ela pediu, mas desejou não ter feito quando tudo o que viram refletido nos olhos um do outro, era dor.

— Você sabia, não sabia? — Quis saber.

Ele precisava saber, apesar de já ter as suas suspeitas. Daiana mordeu o interior de suas bochechas antes de abrir a boca e responder:

— Sim.

Ele queria uma resposta e por mais difícil que fosse para ela, lhe daria de cabeça erguida. Viu a decepção estampada em sua face e aquilo a quebrou mais um pouco por dentro. Doeu ainda mais por ter sido ela a causar aquela reação.

— Você... — engoliu em seco balançando a cabeça para os lados, inconformado. — Você nunca me disse o que aconteceu. Sempre agiu como se não me conhecesse — cerrou fortemente a mão restante em punho ao lembrar das vezes que a mulher estivera na mesma sala que ele enquanto ele era torturado, e ela lhe dava as costas, prosseguindo com a faxina do ambiente como se a dor dele fosse insignificante.

Como se o que tivessem vivido antes da porcaria da HYDRA fosse insignificante.

— Acreditaria se eu te contasse? — Amargurada, rebateu. — Acreditaria se eu dissesse que literalmente me trocaram de corpo?

— Importaria agora — devolveu em mesmo tom. — Eu esqueceria de você depois, não esqueceria?

— É — ela assentiu com os olhos brilhando pelas lágrimas que se acumulavam neles. — Como você esqueceu tantas e tantas vezes durante todos estes anos. Mas foi bom você tocar neste ponto — sem delicadeza alguma, enxugou uma lágrima que caiu. — Você sequer se lembraria da Daiana de outra aparência que você encontrou por acaso em uma rua deserta no Brooklyn. Eu queria que você gostasse de mim de novo, independente do rosto que eu tivesse — bateu com o indicador em seu próprio peito, ignorando o nó em sua garganta que tornava difícil as palavras serem pronunciadas. — Então por que se importa justo agora? Se realmente gostasse de mim como disse que gostava, teria ao menos ficado contente de descobrir que de alguma forma eu ainda estou aqui, Bucky — voz, lábios e mãos trêmulas.

Olhos marejados com lágrimas que caíam sem ela se importar mais em enxugar.

Eu ainda estou aqui, repetia chorosa para si mesma, as palavras tornando-se ecos em sua mente. Isso não importa?

— Uma pessoa morreu 'pra você estar aqui — as palavras escaparam da boca dele antes mesmo que pudesse pensar direito e contê-las, escolhendo melhores para pronunciar.

𝐃𝐞𝐬𝐞𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐬 | 𝙱𝚞𝚌𝚔𝚢 𝙱𝚊𝚛𝚗𝚎𝚜Donde viven las historias. Descúbrelo ahora