Capítulo 1

8 3 0
                                    

O que uma jovem mulher no auge de seus 22 anos que nem eu estaria fazendo em pleno sábado à noite?

Se arrumando para ir a uma balada?

Se preparando para um encontro com suas amigas, talvez?

Ou, quem sabe, um date com um carinha legal?

Ao me olhar através do grande espelho do meu quarto, fico extremamente feliz com o resultado. Fazia um tempo que não me sentia tão bonita, ou que tinha vontade de me produzir um pouco mais. A sombra escura que passei em minhas pálpebras destaca ainda mais os meus olhos verdes. E o batom vermelho, tão destoante da cor nude que sempre uso, faz com que eu me sinta poderosa como quase nunca me sinto.

Só quando Camila abre a janela e o vento frio da noite adentra nosso quarto é que percebo o quanto minha pele do rosto está quente. O rubor em minhas bochechas — e olhe que nem passei tanto blush assim — não nega o quanto esta produção me deixou feliz. E, na mesma medida, bem nervosa pelo que me espera. Sinto-me nervosa e com medo por nem ao menos entender o porquê de caprichar tanto no meu visual esta noite.

Não sou de sair muito. Não tenho amigas para me levarem para curtir a noite em uma balada, por exemplo. Camila, minha melhor amiga que divide este pequeno duplex comigo, trabalha frequentemente em regime de plantão como enfermeira, então só quer saber de ficar em casa fazendo vários "nadas" quando enfim está de folga. Inclusive, neste exato momento, contrastando totalmente com o meu look, ela veste um belo short doll escrito "felicidade é ficar o dia todo de pijama".

Para falar bem a verdade, eu sou igualzinha a ela nesse aspecto, e talvez por isso a gente se dê tão bem. Uma noite mais tranquila, uma comida gostosa e um bom filme ou série é o meu tipo de programa favorito para um sábado à noite depois de uma semana puxada. Sempre fui mais calma, mais na minha assim mesmo. instantaneamente.

Mas então por que estou tão feliz e em expectativa em um sábado à noite?

Seria um encontro amoroso, então?

Não.

É, simplesmente, um compromisso de trabalho.

Claro, workaholic como sou, não poderia ser outra coisa mesmo...

E quando lembro deste pequeno — grande — detalhe, antes que minha timidez me obrigue a querer recuar e desfazer todo meu look por temer sobre o que os outros iriam pensar, Camila me assusta com seu jeito espevitado de ser.

— Mel, ele deve estar muito apaixonado, sério! — ela diz com um sorriso malicioso, espiando pela janela o magnífico BMW preto que estaciona em frente à nossa calçada, que faz com que a gente ouça com clareza aquele barulho típico de automóvel se aproximando.

— Tira isso da sua cabeça, Mila! — respondo à minha melhor amiga, com um tom impaciente pelas suas insinuações que, não por acaso, se repetem quase todos os dias. — Ele é apenas um colega de trabalho, mais especificamente o meu chefe, que está sendo gentil me dando uma carona até um evento social da empresa.

— Aham, sei! — Seu tom sarcástico me deixa levemente irritada. — Também é muita gentileza de sua parte estar assim toda arrumada pra ele, não é?

— Ai, Camila! Não viaja, sério! — Bufo. — Eu não estou toda arrumada para ele! Já te disse que vez ou outra temos esses eventos chiques com sócios e investidores importantes e, como funcionária do alto escalão, acabo tendo que comparecer e não posso me descuidar da aparência! — explico pela milésima vez. Talvez mais para mim mesma do que para ela.

Preocupada, me encaro no grande espelho do nosso quarto novamente, avaliando-me dos pés à cabeça, tentando internalizar que isso faz parte sim do meu trabalho.

CaronaWhere stories live. Discover now