3. Les Préparatifs

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Harry deu um gole em sua xícara de chá e respirou fundo ao se encolher em seu poncho quentinho. Estava trabalhando em seu escritório e o esgotamento que sentia o deixava louco de raiva, porque sabia que tinha que entregar um bom trabalho tanto para a vinícola quanto para o casamento e sua mente simplesmente queria parar de cansaço. Fechou os olhos e acariciou suas têmporas, sua cabeça doía tanto, tanto, que tudo que desejava era tomar um analgésico e dormir, mas ainda era cedo, cerca de três da tarde, e não podia se dar aquele luxo porque estava correndo contra o tempo.

Desde que os visitantes chegaram, há uma semana, que sentia-se cansado em níveis nunca antes vistos. Seu trabalho como enólogo sempre foi tranquilo e prazeroso, as videiras plantadas há séculos continuavam dando bons cachos, o clima influenciava também, cada ano era uma safra com sabor diferente, o que rendia vinhos únicos, embora para produzir o Cuvée Traditionnel houvesse uma receita para que o gosto permanecesse o mesmo ao longo dos anos.

Com a prosperidade da vinícola, não tinha muitos problemas a resolver, mesmo que inspecionasse a produção todos os dias e sempre saísse dali para ir a eventos de viticultores em Paris ou Reims. Era sempre muito gratificante porque a troca que tinha nos lugares com outros enólogos era imensa e o conhecimento que adquiria o deixava feliz. Harry buscava sempre expandir seu conhecimento na área, ia para diversos países para estudar e participar de feiras, congressos e workshops, o último que teve a oportunidade de participar fora no Chile e foi ótimo conversar com um dos enólogos de lá para compreender aquele terroir que dava vinhos tão saborosos.

Amava o que fazia, desde muito cedo tinha contato com o mundo dos vinhos, desde os espumantes aos tintos encorpados, afinal nasceu e foi criado em Champagne, na vinícola de sua família. Antes de ser um enólogo, Harry era enófilo, amava vinho, amava apreciar os aromas e sabores da bebida, amava uvas e entender a harmonização e não era necessário fazer uma faculdade para isso, muito menos ter uma vinícola para gostar e amar vinho. Desde o início de sua adolescência que sua profissão estava certa em mente: enólogo.

Nada mais e nada menos que o profissional que elaborava os vinhos, analisava as uvas e escolhia quais eram as melhores safras e tipos de vinhas para produzir determinado vinho, com um sabor e aroma específico. Presente desde a plantação da videira até o engarrafamento e comercialização do vinho, imprescindível em qualquer etapa da produção daquela bebida tão saborosa. Além de enólogo, Harry também era sommelier e prestava serviços a alguns restaurantes de Reims ao elaborar as cartas de vinhos e sugerir qual era o tipo que harmonizava melhor com cada prato.

Como francês, diferente de outras nacionalidades, dava uma importância a mais para as refeições e pratos, à combinação das comidas com as bebidas. Não que fosse algo exclusivamente da França, mas estava entranhado em sua cultura, o costume de valorizar uma boa comida, feita com ingredientes selecionados e preparadas com carinho e atenção, muito diferente dos alimentos congelados ou fast-foods. Para ele, era importantíssimo que aquele momento fosse apreciado devagarinho para sentir os sabores e notas de cada tempero, cada especiaria e técnica que fazia daquela culinária uma das mais ricas do mundo.

O prazer tinha um espaço especial em sua cultura, não necessariamente o prazer sexual. Aproveitar a vida em seus mínimos detalhes era algo que franceses tinham em comum e o sentimento de satisfação provinha de muitas frentes, como um vinho bem elaborado, um prato saboroso feito por um chef habilidoso, ou simplesmente curtir o momento com uma pessoa especial.

Aquilo o encantava e Harry poderia dizer que sabia aproveitar sua vida dentro dos seus gostos. Obtia prazer de muitos lugares, desde uma taça de champanhe ao mais bruto e intenso sexo. Gostava de curtir a vida porque não sabia como seria o próximo dia e preferia se arrepender de algo que fez do que passar vontade e ficar chateado por não fazê-lo. Gostava de seguir o carpe diem. Era feliz ali, em um lugar sofisticado, mas de uma simplicidade maravilhosa. Querendo ou não, Champagne era uma região camponesa, apesar de suas vinícolas mundialmente conhecidas.

Champagne | Larry StylinsonWhere stories live. Discover now