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I 

Kouta nunca deu muita atenção a prédios, e também nunca ligou muito para arquitetura em geral. Em sua opinião, construções eram apenas construções, e essa indiferença se sustentou quando trabalhou como servente de pedreiro. Era um pouco difícil se importar com qualquer coisa ao ficar sob o sol da cidade de Zawame por longas horas. 

Mas isso mudou após ele começar a trabalhar com a equipe de dança Baron. Principalmente, quando começou a trabalhar como secretário/faxineiro no prédio que a equipe usava para, bem, basicamente tudo. De repente, ele havia ganhado uma nova perspectiva. 

A estrutura do prédio não tinha muito de especial. Na verdade, parecia ter sido arquitetado com negligência. Embora o andar principal tivesse muito espaço, o que era extremamente vantajoso para treinos, os outros andares tinham cantos estreitos e colunas mal-colocadas. Kouta não era um especialista, mas tinha certeza de que aquilo não era nada seguro. 

O local, porém, possuía um certo charme. Um que ele aprendeu a apreciar com o tempo.

Como passava a maioria dos seus dias no prédio, limpando, consertando e servindo café para caras que tinham preguiça demais para fazerem isso sozinhos, ele havia ganhado uma nova companhia. Uma cujo estresse sumia em sua presença. Logo, passar as suas tardes lustrando os móveis e tirando poeira das paredes se tornou algo menos insuportável. 

Os cantos estreitos e as colunas viraram detalhes distintos, únicos.

Ele pressiona sua palma na parede e com a outra, pressiona o chão de cerâmica com as pontas dos dedos, tentando visualizar a sensação do toque o máximo possível, totalmente concentrado na tarefa. A superfície gelada lhe dá arrepios, mas logo seu corpo se acostuma, continuando em repouso. Kouta suspira, sentindo-se leve, como se pudesse flutuar.

Havia apenas silêncio no segundo andar. Não havia música instrumental e nem sapatos pisoteando o chão, não havia conversas e nem murmúrios. Só o vazio do recinto. Apenas o prédio e Kouta, que estava aleatoriamente deitado perto da parede, como um adulto normal em uma noite normal, permanecendo no local de trabalho mesmo após o fim do expediente, por razões normais.

Mas acontece que isso era uma mentira descarada, de fato.

A sensação de estar no prédio era estranhamente reconfortante, fazendo com que Kouta constantemente sentisse como se estivesse sendo, de certo modo, abraçado por enormes alas de concreto. Esse sentimento caloroso sempre derrubava a vergonha que surgia dentro dele ocasionalmente, para sua própria felicidade. Sentir-se bem era mais importante do que ter zelo a normalidade. 

Ele nunca havia sido muito normal para começo de conversa. Agora havia se tornado alguém que suspirava suavemente por paredes brancas e pisos de cerâmica. Isso talvez implicasse alguma coisa. Isso certamente implicava alguma coisa. 

Kouta não se importava.

O chão recém-varrido recebe um beijo gentil. Sentindo o piso liso com os lábios por alguns minutos, ele prefere pensar que o prédio sentia alguma coisa com esse toque. Ele queria muito, na verdade, poder lhe transmitir a mesma segurança que o mesmo lhe passava. Sentindo-se momentaneamente frustrado por essa incerteza, Kouta se afasta, voltando a deitar sua cabeça no chão.

Ele suspira novamente.

— O que está fazendo? — Uma voz familiar ressoa no sala, fazendo a frustração ser substituída pelo pior susto que recebeu em toda a sua vida.

Se erguendo rapidamente, Kouta respira com dificuldade ao tentar se firmar, seus olhos cruzando com os da pessoa. Ele se pergunta mentalmente quando a outra pessoa havia chegado e a quanto tempo ela estava ali. Estava tão distraído ao ponto de não perceber que alguém o observava?

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⏰ Última atualização: Jan 06, 2023 ⏰

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Pérolas brancas e naipes escarlatesOnde histórias criam vida. Descubra agora