Capítulo especial || Temari's pov

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Gaara nunca precisou de tanto esforço para manter sua postura. E isso ser visível era preocupante.

― Foi culpa nossa também, é claro que foi ― Kankuro disse.

Estávamos sentados num meio fio, junto de um monte de esfihas do Habib's, repassando toda a relação com nosso irmão caçula. E essa era a conclusão dele. Isso foi na noite em que descobrimos. Kankuro tinha razão.

A verdade é que desde que Gaara nasceu, tudo passou a girar em volta dele. O protagonista da família. Um protagonista anti-heroico. Sua partida foi um baque, mas parecia o melhor para todos, inclusive para ele. Se tornou cômodo tê-lo como um parente virtual, uma desculpa para viajar regularmente. Se não quiséssemos lidar uns com os outros, bastava ficar offline.

Eventualmente ficávamos sabendo do que ele aprontava pelo mundo. Para meus pais, tudo era motivo de soar as trombetas do apocalipse. Porém, certa vez, num dos fins de ano que viajamos e Gaara só apareceu no dia primeiro ― no aeroporto ―, Yashamaru comentou em resposta às reclamações de meu pai.

― Você fala como se desse conta dele. Até ficar sabendo de alguma coisa, eu já apaguei uns quinhentos incêndios. Só te passo o indispensável.

Gaara cresceu como um sinônimo de caos, contudo, com certeza não foi fácil crescer em seus sapatos. E, no fim, ele se virou bem sozinho. Sim, sozinho. Não consigo me ver num relacionamento amoroso a distância, Gaara teve que se ver numa família por Skype. Yashamaru foi um tutor, não um pai, essa distância era nítida entre eles.

Nunca conversei com meu irmão sobre sua primeira menstruação. Fiquei sabendo pelo buchicho em casa. De repente, ele entendia melhor do assunto do que eu. Gaara aprendeu a agir com indiferença a respeito do que o incomodava e pensei que ele apenas queria ignorar, colocar o menor peso possível e, principalmente, não chamar atenção. Por outro lado, passei a vida toda ouvindo que ele só queria chamar atenção. Gaara era muito difícil de entender e me esforcei pouco. Admitir isso tornou o sereno da noite ainda mais frio.

Gaara era o mais independente de nós. Yashamaru não o sufocava, então, logo que se sentiu seguro de que não explodiria a casa, morreria de fome ou cairia da janela, Gaara ganhou seu próprio espaço. Não sei quando foi sua primeira vez, com quem foi, quantas experiências do tipo teve, se gostou de alguém antes do Lee. Ele nunca disse que gostava do Lee. Kankuro e eu sabemos tudo um do outro. Certa vez, Gaara estava no país que sediaria o show de despedida de uma das minhas bandas favoritas e me deixou ficar em sua casa. Era estranho, meu irmão mais novo tinha sua própria casa e ele podia permitir ou não minha presença. Eu tive que implorar para meu pai me deixar ir. Lembro de ter me impressionado com a organização e o domínio do espaço. Gaara cozinhou para mim e, naquele momento, não pareceu a peste instável que meu pai dizia.

É claro que, afetando o que fosse, Gaara teve dificuldades. Do seu jeito, prosperou sobre elas. E fez praticamente sem ajuda. Nós, seus irmãos, nunca saímos da zona de conforto. Deixamos nossa mãe correr de um lado para o outro, se desdobrar para compensar nossa ausência. Mesmo assim, ele quis voltar para nós. E agora estava com problemas. Não foi culpa dele, Gaara não planejou isso. Podia ter acontecido comigo.

― Tem razão. E agora? Já é tarde para pedir desculpas.

― Foda-se as desculpas! Vamos acertar dessa vez, seremos irmãos decentes. Ficamos ao lado dele, aconteça o que acontecer. Só tiramos uma folga quando esse bebê chorar.

Dei um riso de desdém e Kankuro atacou a próxima esfiha com a mesma naturalidade com que declarou ter comprado uma guerra.

― Tem noção do que está falando? O que te faz pensar que ele iria tão longe?

como sobreviver ao fim de ano [GAALEE]Where stories live. Discover now