2. Novembro

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CRAIG KING

O bairro onde a família Connor vivia era o típico subúrbio de classe média alta. As casas tinham aquela configuração clássica, com gramados cercando a propriedade, porão, garagem e sótão. No entanto, depois da crise imobiliária, por mais que a região fosse segura e aconchegante, algumas casas ficaram permanentemente desocupadas. Isso incluía a casa logo ao lado direito e a casa da rua de trás, cujo quintal traseiro fazia fundo com a dos Connor.

Sempre que eu visitava Sofia, deixava o carro parado na garagem da casa vazia, ao lado, assim meu veículo não atrapalharia a chegada de John ou de Marie, já que eles estavam sempre tão ocupados.

Como de costume, estacionei o carro na casa vazia. Anoitecia e reparei que o quintal da casa dos Connor já estava decorado com luzes e enfeites natalinos. Caramba, como o ano passa rápido! Pensei e toquei a campainha, sentindo que minhas mãos estavam geladas e meu coração batia rápido, enquanto esperava Sofia atender a porta. Acontece que, depois de ter passado quase um mês inteiro remoendo as mensagens que mudariam minha vida, eu ainda não tinha conversado com ela a respeito de nada daquilo. É verdade que eu esperava que ela fizesse um gancho e falasse sobre nosso futuro para, finalmente, colocar para fora tudo o que acontecia comigo. Como isso nunca aconteceu. Eu teria que tomar a iniciativa.

SOFIA CONNOR

As primeiras semanas de gravidez, foram um terror. Além de abalada com a descoberta, tive que lidar com todas as mudanças no corpo da maneira mais discreta possível. Eu não queria que ninguém além de minha mãe soubesse o que acontecia, antes que eu tivesse coragem de contar para Craig.

Na verdade, tive muitas oportunidades de falar com ele. Eu tinha a impressão de que ele sabia que eu escondia alguma coisa, afinal, por diversas vezes ele passou aqui em casa, ocupou a cadeira de frente para a minha, na sala de jantar, e me encarou, com seus olhos castanhos, quase completamente pretos, em expectativa, como se esperasse que eu contasse algo. Em todas as ocasiões, fiquei nervosa e me levantei, inventando alguma tarefa ou desculpa, para pedir que ele fosse embora.

Eu sabia que falar sobre a criança que crescia em mim não resultaria em um momento feliz e que significaria o final de nosso relacionamento. Apesar de ter decidido levar a gravidez em frente, ainda não tinha tido coragem de falar sobre o assunto. Simplesmente, não estava pronta para me separar dele.

Depois de tanto tempo juntos, nem sabia mais qual tinha sido o motivo que me fizera gostar dele. Claro que sua aparência contava muito e, deve ter sido por causa dela que trocamos olhares, em primeiro lugar. Ele era alto e forte e mantinha os cabelos crespos raspados. Por causa de seu físico, quando começamos a conversar, achei que ele seria mais um atleta universitário, ótimo para curtir uma noite e péssimo para um relacionamento. Eu estava muito errada. Mas, guiada por preconceitos que eu mesma desconhecia, fui me mantendo no erro, até que uma a uma todas as minhas barreiras caíam e eu era tomada por uma vergonha sem tamanho.

Por que isso?

Porque ele me disse que era professor e continuei petulante, achando que ele era um professor de educação física de colégio. Nada contra, admiro muito, mas não é o tipo de homem com quem sonhava me relacionar. Toda vez que ele falava física, eu interpretava educação física e, somente quando ele passou a falar sobre laboratórios e sobre os benefícios que a pesquisa dele traria ao mundo se ele tivesse fundos para levar para frente que percebi que algo estava errado.

Se as características físicas dele fossem diferentes, eu teria feito essa confusão? Duvido muito...

Mas, depois do mal entendido desfeito, claro que não guardei para mim e compartilhei com Craig. Rimos muito e até hoje eu faço piadas sobre o assunto. Adoro me fazer de palhaça perto dele, porque percebi que ele leva a vida muito a sério. Apesar de rir do que faço, ele mesmo, raramente brinca. É como se cada obstáculo que ele encontra fosse seu inimigo pessoal e ele precisasse transformar em uma questão de vida ou morte. Craig tem total consciência disso e, acho que seu motivo real de não querer ter filhos é o medo de considerar a criança como uma tarefa e não um ser humano vulnerável que precisa de amor e cuidado.

Enfim, desde que descobri a gravidez, vivi cada minuto de minha vida pensando nisso tudo, sem conseguir tomar a iniciativa e jogar a bomba no colo de Craig. Mas, quando cheguei do trabalho e vi que meus pais já tinham colocado a decoração de natal, senti que quanto mais perto das celebrações de fim de ano, mais difícil seria, tanto dar a notícia, quanto esconder a gravidez. Por isso, enviei uma mensagem, pedindo que ele passasse em casa depois de sua última aula da tarde e subi as escadas para tomar um bom banho.

Eu tinha acabado de vestir um pijama de moletom e enrolar a toalha na cabeça quando a campainha tocou e desci correndo.

— Craig! — Exclamei e envolvi sua cintura em um abraço apertado. Completamente esquecida do motivo da visita.

Ele retribuiu o aperto colocando uma das mãos em minha nuca e aconchegando minha cabeça em seu peitoral rígido e bem definido.

— Amor — Craig sussurrou, com a voz carinhosa.

Meu coração pareceu estar amarrado em uma âncora e descendo para as profundezas do oceano. Eu não acreditava que teria que terminar com aquele homem.

Subitamente, segurei em sua mão e o arrastei para o sofá. Sentamos e eu o encarei, suspirando, criando coragem para falar, mas sem saber como.

— Amor, se você tem algo para me contar. Por favor, diga! — Meu namorado falou, com uma leve nota de impaciência que não era nada característica de sua personalidade.

Perdendo a coragem, eu sorri e disse:

— Não é nada, bebê, quer assistir alguma coisa?

Craig respirou fundo, apoiou os cotovelos nas cochas e alisou a cabeça, com as duas mãos, antes de me olhar com uma expressão triste e dizer:

— Na verdade, eu tenho uma coisa para falar. Já faz algumas semanas que tenho pensado sobre o assunto, mas eu sei que precisamos resolver isso juntos.

Fiquei assustada pensando que, no fim das contas, eu tinha enrolado tanto que ele acabaria terminando comigo, sem nem mesmo saber que eu carregava um filho dele. Percebendo que eu tinha ficado perplexa demais para responder qualquer coisa, ele continuou:

— Eu recebi uma proposta da Universidade da Carolina do Norte.

— Oi?

— Na verdade, não foi uma proposta. Eles aceitaram tudo e só aguardam minha confirmação para começar a preparação.

— Eu... eu não estou entendendo...

— O laboratório, a equipe e o aumento. Eles acreditam na minha pesquisa e querem apostar em mim. Se eu aceitar, começo a lecionar lá, em fevereiro.

Agora não era somente meu coração que afundava em direção às profundezas sombrias, mas a sensação dominava todo meu corpo. Entretanto, eu sabia que tinha que ser forte e mostrar felicidade. Era a conquista da vida dele e ele merecia meu apoio, já que não teria mais a minha companhia.

— Que ótimo, bebê! Eu não consigo acreditar! Parabéns! — Eu consegui dizer, genuinamente.

— Estou feliz também, amor. Mas, tenho esse dilema. Não posso pedir que você abandone a clínica e vá correndo atrás de mim. Então, me resta apenas dizer minhas pretensões e fazer um convite.

— Como assim?

— Eu espero que possamos continuar juntos. Se você quiser continuar morando aqui, estou disposto a fazer o relacionamento dar certo. Senão, podemos morar juntos, por lá.

— Espera. Então... você já aceitou?

— Não. Eu jamais aceitaria sem falar com você antes. Mas, sim, eu pretendo aceitar e espero que possamos continuar juntos.

Eu sabia que estava sendo injusta e que eu não podia esperar que um homem como Craig abandonasse todos os sonhos somente para ficar a meu lado. Entretanto, não pude evitar começar a chorar e não consegui segurar a raiva que cresceu em meu peito, ameaçando explodir meu corpo se eu não gritasse:

— Sai daqui, Craig King. Vai embora, agora!

Sem entender minha reação, ele ergueu os olhos grandes e tristes e tentou dizer alguma coisa, que eu não ouvi, pois continuava gritando:

— Se você não sair agora, eu vou chamar meu pai. 

A gravidez secreta de Sofia Connor - O natal da família Connorحيث تعيش القصص. اكتشف الآن