Peace

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O sol invadia as janelas da pequena casa ao leste da vila das luzes, belas borboletas coloridas e passarinhos enfeitavam o céu azul claro.

Holt Peace repousava tranquilamente na sala, batendo os pés de forma rítmica no assoalho de madeira, observando os movimentos de sua doce irmã.

Havia tido mais uma de seus colapsos mentais na noite passada, estava envergonhado demais para sequer dizer uma palavra para Mary, apenas a seguia com os olhos enquanto a moça preparava um chá com tranquilidade.

- Holt, quer que eu coloque o seu chá para esfriar na janela? - O rapaz de cabelos escuros assente, sorrindo de leve para a sua irmã.

- Sobre ontem... - O Peace mais velho tenta. - Acha que sou... que eu sou... - Respira fundo enquanto. - Acha que o senhor Biggins está certo sobre mim?

- O senhor Biggins é um patife, só há duas coisas que consegue fazer de forma primorosa: beber até cair, e trair a esposa. - ela sussurra a última parte, arrancando uma risada nasal do irmão. - não o dê ouvidos.

Um grito agudo assusta Mary, e o bule que estava em suas mãos, escapa, derramando a água fervente nos seus pés descalços.

Theodora Peace, a mais nova dos irmãos, e dona dos gritos que assustaram Mary, entra na humilde casa, fechando a porta de madeira atrás de si.

- Mare, eles estão vindo! Os marinheiros estão no Porto dos Vagalumes! - A garota de cabelos claros informa, sorrindo para a sua irmã.

- Theo, você está falando sério? - Mary arregala os olhos, e a moça assente. - Oh, dios mio!

Pega um pequeno espelho que estava grudado na parede e analisa o seu rosto corado por conta da água quente, nota seus olhos fundos das noites mal dormidas e seus cabelos escuros desgrenhados.

Normalmente, se importaria com essas mínimas coisas, adorava a sua aparência, e odiava estar mal cuidada ou parecendo desleixada. Porém, aquilo era diferente, não via o seu amor há meses, não importava mais a sua aparência, ele a amaria de qualquer forma.

Sem pensar em absolutamente nada, corre em direção ao Porto dos Vagalumes, não era um caminho longo, então, em poucos minutos, Mary avistava o belo navio da marinha inglesa.

Ao lado do navio, estava o dono do seu coração, Henry Dawson. Mary e Dawson eram amantes de longa data, ele havia prometido que se casariam no instante que conseguisse virar capitão da marinha. O que não havia acontecido ainda, mas a jovem Peace tinha fé no namorado, sabia que não havia ninguém como ele.

- Henry! - ela grita. - Henry, mi amor!

O ruivo nota a sua namorada correr na sua direção, e um sorriso brinca nos seus lábios rosados, Mary Magdalena era um deleite para os olhos, ninguém nunca o amou tanto quanto ela.

Os braços de Mare finalmente chegam até Henry, o puxando para um abraço apertado, inalando o cheiro não tão agradável que o marinheiro carregava consigo.

- Meu marujo. - Ela sorri, e Dawson afunda mais o seu rosto nos cabelos escuros de Mary, cheiravam como frutas frescas. - senti tanto a sua falta.

- Não imagina o quanto senti a sua falta, minha doce Mary.

- Dawson! - o capitão Armstrong grita na popa, observando o casal apaixonado. - Não acho que já terminou o que deveria fazer, antes de se divertir com as prostitutas.

- O desafio a repetir o que disse a respeito da minha irmã, patife! - Theodora Peace grita, a morena se assusta com a presença da irmã, que parecia brava como um trovão.

O capitão Armstrong franze o cenho, apertando os olhos para enxergar a loura corpulenta que tinha suas mãos envolvidas pelas mãos da sua irmã mais velha.

- Não se preocupe, Theo, ele não fez por mal, querida. - seus dedos tiram os cabelos da Peace mais nova do rosto delicadamente. - não consegue evitar ser um idiota funcional. - sussurra para que só a loira a ouça, sorrindo de canto.

- Mary, peço perdão pelos poucos modos do capitão. - Henry murmura. - Enquanto cumpro as minhas obrigações, deveria... - analisa o pequeno corpo da mulher a sua frente. - como posso dizer sem a ofender? Deveria... Querida, creio que deveria se mostrar mais limpa e asseada para o seu futuro marido.

As bochechas da morena ruborizam, sua pele clara parece ferver, de fato não estava se mostrando da forma mais apropriada para um homem interessado.

Theo franze o cenho, segurando o pulso de Mary com cuidado, suas grossas sobrancelhas louras se uniam na base do seu nariz bem desenhado, um charme em comum de todos da família Peace.

- Não há um só marujo no Porto dos Vagalumes que não queira desposar Mary Magdalena Peace. - a loira ergue uma de suas sobrancelhas - achei que deveria saber, Dawson, minha irmã é a mulher mais bela que já pisou nesse lugar, deveria se sentir lisonjeado.

As bochechas bronzeadas do ruivo ganharam um tom de rosa. De fato, Mary era a mulher mais bonita que já havia visto, mesmo naquelas condições, seus cabelos escuros caíam perigosamente pelas suas costas até chegarem nos seus quadris, e seus olhos iluminados pareciam mel contra a forte luz do Porto.

- De todo modo, não deveria ter me visto vestida dessa forma. - seus dedos finos afastam a poeira do vestido desbotado. - Estará na taverna a noite?

- Continua trabalhando lá, Mary? - Ele pergunta segurando o rosto fino pelas bochechas com firmeza, a moça assente. - um dia, não precisará mais trabalhar, poderá sair daquela escola e da taverna, será apenas a minha esposa e cuidará dos meus filhos.

- Isso seria ótimo para VOCÊ. - Theodora resmunga, mas o casal ignora.

- Eu gosto da escola, e trabalhar na taverna não é insuportável, eles gostam da minha voz.

- Eles gostam da sua beleza, Mary, são uns bêbados, não seja ingênua. - a garota Peace abaixa os olhos tristemente. - Não fique triste, meu bem, cantará para os nossos filhos dormirem.

Mary afasta o rosto com delicadeza, avistando os cadetes agitados no navio, e o capitão fitando o casal com uma cara de poucos amigos.

- Acho que deveria ir. - ela deposita um beijinho terno no queixo do rapaz. - ele não parece feliz.

- Dawson! - a voz grave chama, e o rapaz volta à posição. - E você, garota do bar! - aponta para a Mary. - Cole isso na cidade toda, nunca se sabe...

O velho joga cartazes de procurado nas mãos da garota, que segura desajeitadamente as dezenas de papéis.

- Do que se trata? - Theo pega alguns, em que o desenho de um homem assustador com uma grande cicatriz no olho esquerdo - que estava coberto por um tapa-olho. Mary a puxa pelo braço para que comecem a andar em direção à vila. - O diabo!

Mary gargalha do espanto da irmã e olha para trás checando se tinha alguém por perto.

- No desenho, ele até parece bonitinho.

- Mary Magdalena! - Os olhos da loira pareciam saltar do rosto.

- Eu disse no desenho! - sorri brincalhona. - veja bem quanto esse sorriso vale! Quanto dinheiro! Muy bonito!

- Não acho que estejam pagando pelo sorriso, acho que querem a cabeça toda, e de preferência, fora do corpo.

Vivo ou morto.

De preferência, morto.

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⏰ Última atualização: Mar 03 ⏰

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