09. nothing can change this love

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Ele dirigiu por algumas horas. Ou, talvez, só por alguns minutos. Estava em velocidade máxima, mas não pensava em diminuir ou em parar, porque tudo o que queria era chegar no pequeno apartamento em que vivia, tomar um banho quente e demorado, comer uma comida chinesa na frente da televisão e dormir por horas.

O vento batia forte contra o seu capacete. Por causa da proteção, o barulho dele não deveria soar tão incômodo aos ouvidos, mas Taehyung estava além do limite de velocidade permitida e o capacete tornava-se, pouco a pouco, completamente inútil, o que era até que bom, porque se ele caísse, se perdesse o equilíbrio ou se batesse na traseira de uma carreta, morreria na hora. E esse era um tipo de pensamento que surgia na sua cabeça às vezes, quando se sentia encurralado e sem respostas.

Jeongguk o encurralou. Jeongguk o pressionou. Jeongguk o distraiu demais. Isso era o que a parte doente do seu cérebro dizia. A parte saudável, o 1% de todo aquele caos, dizia que Jeongguk só queria vê-lo bem. Que Jeongguk só queria amá-lo. Que Jeongguk realmente gostava dele e que faria de tudo para demonstrar isso. Mas a parte saudável era pequena, ela quase não dava conta dos inúmeros sentimentos negativos e conflitantes que Taehyung se via tendo na grande maioria das vezes, então a voz dele perdeu força e, quase que instantaneamente, a parte doente tomou as rédeas da situação e o mandou voltar para casa antes que o coração se despedaçasse.

Taehyung era refém dessa parte doente, então ele obedeceu. Não hesitou, sequer pensou demais, apenas recolheu as próprias roupas jogadas pelo quarto, encontrou as chaves de Talita em algum lugar e foi embora, dirigindo desesperadamente para longe de tudo aquilo, para longe do único homem que já quis namorá-lo para valer e ensiná-lo como é ser amado de verdade. Ele não sabia, nunca soube, e parecia tão assustador, uma coisa boa demais para ser real.

E era nisso que Taehyung pensava, e na dor quase visceral que estava sentindo no coração, quando um trânsito repentino o obrigou a diminuir a velocidade até parar de vez. Não havia trânsito naquela rodovia, ela era expressa e de rápido acesso, mas, naquela noite, havia um, e parecia que duraria horas.

Por isso, Taehyung decidiu encostar a moto. Ele já dormiu no chão várias vezes. Já dormiu no frio várias vezes. Mais uma noite não seria um problema, ele poderia fazer uma fogueira, deitar de barriga para cima, contar as estrelas e continuar pensando em Jeongguk. Seria, até, um jeito distorcido de estar perto dele. Daqueles olhos enormes, curiosos e assustados. Um pouco apaixonados também. Taehyung sentiria muita falta dos olhos dele, e também da boca dele, das mãos dele, do sorriso dele. Temia sentir falta de Jeongguk para todo o sempre, mas era um homem adulto, e um homem adulto sabe lidar com as consequências de todas as suas decisões, inclusive a de deixar para trás a única pessoa que chegou perto de demonstrar qualquer afeto por ele.

E, então, lá estava Taehyung. Deitado de barriga para cima, com uma fogueira ao lado, as mãos cruzadas na barriga, pensando na magnitude do brilho das estrelas. Era mais fácil pensar nisso, do que em Jeongguk. E em tudo que eles poderiam ter sido se a sua cabeça não fosse tão fodida. As estrelas eram imensas, bonitas e reconfortantes, mas elas estavam longe, tão longe, assim como os seus pensamentos, que viajavam até elas e se perdiam em algum momento.

Pelo menos, uma lágrima escorreu pela lateral do seu olho, e isso fez Taehyung perceber que estava realmente vivo. Que ainda respirava. Que ainda tinha um coração batendo dentro do peito. E que, algum dia, talvez, pudesse ser amado.

Durante o trajeto, Jeongguk não pensou em nada. Foi até surpreendente perceber que estava com a mente mais limpa agora do que quando partiu de Santa Mônica. Talvez fosse a tristeza terminando de sugar toda a sua energia. Jeongguk não tinha mais condições de continuar pensando em todas as coisas que aconteceram, sabia que acabaria entrando em pane muito em breve, por isso, provavelmente, seu cérebro decidiu só desligar por um momento, e quando as lindas luzes de Santa Mônica começaram a ficar para trás, Jeongguk apoiou a cabeça na janela, com os óculos embaçados praticamente esmagados no rosto, e fechou os olhos.

You Are A Cosmic Child | taekookWhere stories live. Discover now