01 • amizade

153 10 153
                                    

Brooklyn, New York↓1943

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Brooklyn, New York

1943

·  J U L H O  ·

————☆————

A CARTA ocupada em suas mãos é a responsável por tomar exclusivamente a atenção dos olhos verdes da garota. Era a terceira vez naquele dia em que lia as palavras garrinchas, minimamente legíveis, no papel pardo. Apesar disso, o carimbo do exército americano, notoriamente, é o que mais se destaca sobre o canto da folha.

Duas semanas possuindo tal carta, mandada por seu avô, fora o possível para a garota decorá-la de cabo a rabo. Duas semanas haviam se passado desde que a recebera. E faltava apenas três dias para a garota ir embora de Nova York.

Angel Phillips estava sentada diante ao piano de calda, sozinha na enorme residência. A casa de Angel era a maior do Brooklyn. Claro que a boa renda financeira dos Phillips é o motivo de tal grandeza, e isso sempre beirou os olhos invejosos e as línguas ásperas e venenosas dos habitantes de tal bairro, propagando que a família afortunada é a mais mesquinha já pisada na Terra.

Desde pequena, Angel sentia as orbes de todos queimando sua pele como o mais ardente fogo. Sempre ouvia os muxuxos e cochichos desagradáveis à seu respeito, balbuciando sobre como tudo dela era melhor do que das outras crianças; desde roupas à material escolar ou brinquedos. E, infelizmente, isso nunca mudou, mesmo depois dos anos conseguintes.

Tais situações já renderam muitas brigas com seus colegas, os quais faziam de tudo para implicar com ela. Angel nunca revidava. Não achava certo devolver na mesma moeda, por mais que merecessem.

Não a subestimem, Angel Phillips era boa de briga. Muito boa, na verdade. Nascida em uma família de militares, era de se esperar que o sangue de um guerreiro a influenciasse. No entanto, o coração e a razão sempre a fizeram entender que a emoção aflorada — principalmente, a raiva — deve ser controlada e usada no momento certo. Algo que não lhe domine por inteiro mas que a traga algum aprendizado. Era isso que sua mãe a ensinava e priorizava.

Duas batidas sobre a porta soam, seu corpo sobressalta em susto. Ao unir vagarosamente as sobrancelhas, a garota Phillips se levanta, largando a carta de papel pardo em cima do piano e direcionando seus passos para atender quem estivesse do lado de fora.

Os pulmões expulsam o ar de uma só vez, o corpo feminino apoia-se na batente. Angel está séria o suficiente para fazer os dois rapazes parados a sua frente engolirem tão em seco, que a garganta arranha.

Um tem os cabelos castanhos escuros, íris extravagantemente azuis, lábios finos e rosados. O tipo cafajeste. O tipo de homem que faz você se apaixonar por ele em um dia, e some no outro. 

Em seus braços, sustenta o corpo de outro rapaz, menor e franzino, caracterizado por fios loiros em sua cabeça e a notável doçura em seus olhos azuis oceânicos — mas para quem reparar bem, percebe o vestígio de um verde buscando algum destaque. O tipo tímido e perspicaz. O tipo de homem que luta pelo que quer, mas sempre acaba apanhando da vida... Ou de alguém da rua.

Afterglow • S. RogersWhere stories live. Discover now