O medo é um lindo traje preto

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—ISSO  NÃO TEM GRAÇA!—O medo lhe impôs a obrigação de excretar dos pulmões e das cordas vocais, um grito mais desolado e angustiado, porém insignificante em comparação  com o dono da voz satânica se recusando a ouvi-la com mais e mais risadinhas finas e outras mais graves provocando uma ingerência em seus ouvidos.  O declínio da visão em relação ao escuro perenemente enfraquecia em contraste ao olfato atiçado em considerar repugnante cheiro putrefato de algo morrendo. O odor  a fez lembrar-se de um protótipo que um representante da companhia de física trouxe sobre a junção tecnológica no que transcorria na montagem numa representação que propunha sobre a nova mão de obra no mercado, o que na verdade deu errado e o fez explodir sob a  mesa, numa conferência em Hong Kong, a alguns meses. Mako, Taketsuo e mais outros oito ou nove representantes de outras empresas quase vomitaram com o cheiro de enxofre e ferro queimado do então robô auxiliar na produção de montagens que acabou saindo de lá entulhado numa caixa de lixo junto com a palavra DEMISSÃO destacada. 

Aludido ao presente, o fedor aumentará e de tão forte impregnava suas roupas e seus cabelos. Com os braços estendidos nas laterais dos ombros pela busca de algo sólido para ter o que apoiar-se, necessitou correr independente de estar impossibilitada. Arriscou a escassa energia e repudiou as dores físicas. Correu sem rumo ao som da voz que além de rir retorquiu uns resmungos de outra língua; na verdade uma apregoação em advinda do que identificava ser uma língua derivada do latim.

A corrida durou até a sexta passada do pé direito, forçando a parar num caminho que parecia não ter fim. Uma das mãos tocou em um objeto de concreto que de tanto esfregar a mão num gesto de professora apagando uma lousa negra considerou uma parede muito gelada e espessa.

Virou de costas e instigava o tato substituindo a visão. Um suspiro foi tomado depois da falta de ar zerar e começar tudo novamente.  Deferia desagradável angústia, um pouco inferior comparada a que sentira no elevador até porque, sua fobia de elevador era o gatilho principal em relação ao epicentro de seu medo. Era aflitiva a sensação por  sentir uma adrenalina por solucionar uma resposta, por enxergar ou tocar em algo, todavia seu instinto por não desistir dava certo apreço a acreditar que seu fim não seria encontrada morta como uma carniça. A voz retumbava—Uma voz irreal que sabia despertar recôndita agonia, talvez adivinhasse os pensamentos corajosos de Mako, ou, disseminasse tanto pavor que sua loucura voltasse a calhar.

Era indubitável, deixar a mente vazia de perguntas. Tais como se o medo desejasse a todo custo pregar uma peça em seu estado psicológico, por outro lado, se Taketsuo, imerso em sua  fúria por ser negado quantos aos desejos pecaminosos estivesse por trás disso.   

 A temperatura estava despencou assim como na antiga prisão. As gargalhadas a pegavam no momento em que a concentração tirava sua tensão. Gaitadas ainda fortemente entrecortam  com demoradas pausas de silêncio que supostamente o tal fantasma estaria espionando sua estratégia.  Respirou fundo, a boca seca, os lábios crispados e a raiva controlaram seu medo.  Mako até tentou caminhar tateando o concreto negro e úmido, mas novamente percebera que já não havia mais forças para continuar, fato motivado supostamente por ficar sem comer segundo suas necessidades próprias.

Seus gritos afinados executados com notório esforço proferiram uma rouquidão exaltada insistindo suas cordas vocais a trabalharem para serem ouvidas. Ninguém, nem mesmo o cameraman do programa de pegadinhas ao ar livre do parque central  pudesse intervir com um sorriso suntuoso revelando a pegadinha que logo a descontraísse com um sorriso. O escuro—assemelhava-se a um subsolo, umbroso liberto de sentimentos humanos acalorados  e tão taciturno que se poderia ouvir todas as pulsações quanto ao silêncio da madrugada.  Mako voltou às memórias e respirava  com a boca a exalação exótica do cheiro degradante o qual poderia ser tão nocivo ao pulmão quantas substâncias de um cigarro.

 Esqueceu-se das preces que aprendera com a mãe, das frases motivacionais da senhorita Hanna Sakai e outras coisas boas que poliram seu conhecimento contribuindo  para uma vida positiva. Não estava perdendo a memória, porém, estava sendo sugada não somente materialmente de modo que inteiramente a escuridão coabitando a encarregar de desfigurá-la de tudo.  Não abriria mão de perder ao menos a batalha, nem mesmo ser derrotada.  Contraíra todos os músculos da face expondo extrema dificuldade em novamente aprimorar a lembrança aos bons momentos que a vida lhe reservou. Nada. Nem mesmo acontecimentos, nem mesmo inventos de situações as quais nunca viveu apenas angústias, ansiedade, pânico, depressão e perda da vitalidade. Sua alma sentia-se dispersa no caótico escuro aspirando sua identidade.  Os sentimentos a cada instante, a cada suspiro, a cada risada infame da criatura a perturbavam de uma maneira que fizesse seus olhos quase saltarem das pequenas pálpebras e sua boca rasgar da disputava por gritar tão incessantemente como a voz.  Além disso, seu corpo raquítico e inclinado diria que ela havia chegado a um profundo estágio de desidratação; suas ossadas ressaltaram os quadris. Rastejava-se feito um inseto e demorava a sair do lugar. Na medicina soaria impossível considerá-la consciente  depois de todo esse tempo desintegrando-se pelo desgaste emocional, pela falta de descanso, as quedas de oxigenação. Apagou novamente. Seu caso  seria estudado como desafiador e raro para todo médico cético que levaria a crer que o caso da jovem não resultaria outro prognóstico de uma explicação plausível pondo em cheque a dúvida sobre ainda possuir reflexos mentais  de uma propriocepção e físicos de locomoção; algo improvável na condição humana.

Mako despertou do que aparentou ser um desmaio e tudo se mantivera em estado caótico. Antes de desmaiar havia suplicado, desgastou o pouco que tinha de energia resmungando versos de oração, dera dois passos tocando a parede negra e então caiu desligou-se ao perder forças  sem descobrir até onde findaria o concreto negro em que se apoiava para procurar  as coordenadas  do lugar.  Com uma das mãos repousando aos cabelos desgrenhados sentiu que estavam secos incrustados de sangue—num espontâneo pensamento jurou que se saísse dali viva, a primeira coisa que faria seria correr para debaixo de uma ducha. Ao explorar inteiramente seu couro cabeludo com o toque dos dedos, tateou as pequenas feridas na proporção  das quedas bruscas que teve entre pesadelos e devaneios. O que ela não imaginou era que seu couro cabeludo  portava inúmeros pequenos cortes iniciando nas têmporas e finalizando no centro da  cabeça.

Ao levantar-se no escuro uma das mãos tocava na tentativa de alcançá-lo.—Onde... está.... a.... parede?—O som decrépito som em sua voz a confundiria  a uma senhora de idade.  O sopro da respiração avançara ao dar socos em demasiada inconformidade por não encontrar o grande material sólido.

---Onde.. está..!—Sussurrou—Uma figura lustrosa surgiu de acordo com o som abafado e úmido de passos pisoteando o assoalho com raiva.   

O mesmo alguém chegou em rápida disparada e ao vê-la fracassar, a tomou pelo punho direito sem tempo de reagir e a arrastou como um pedaço de carne. Sua intenção era alcançar uma resma de luz propagando numa porta num caminho almejado por sua ambição e Mako teria de participar disso. Seus pés trepidavam ao chão em manifestação de socorro. Apontava outro homem bem intencionado. Seus ágeis passos alcançariam uma corrida sem esforço, e, segundo sua força, continha o pulso de Mako com remota ignorância. No decorrer do percurso exaustivo e dolorido, percebeu o lampejo vencendo a  escuridão se obscurecendo a silhueta do indivíduo que a transportava sem olhar para trás para verificar seu estado deplorável.  Do ponto de vista do chão, enquanto rastejava, enxergava um vapor cintilante entoando o ar escuro. Sua cor rescaldada impedira a luz amarela de iluminar o corredor.

O homem a soltou usando sua força bruta, arremeseu seu corpo como um lixo e sem cerimônias a apresentou como jeito rude, novamente o  elevador. Seu semblante em conjunto com o terno preto avivaram do escuro que advinha  nas sobras das portas. Uma indecisão o tomou. Necessitava de um plano para continuar o que desejaria elaborar. Aproveitou os poucos movimentos de Mako e observando a  estarrecida ao  assoalho, levou o dedo no painel encerrando a conexão com o escuro e com o mundo externo. Sem forças,  tentou impedir o homem com um  gritinho longe de pará-lo.

Era tarde demais.

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