Abstinência de você

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Beijo a boca do cigarro
Repouso junto a angústia
Espero que ela mencione você
Mas à ouço falar da vida
E a vida imita você
Imita suas falas
Suas danças
Sua dor
E todo o seu falso amor.
Carrego minha embriaguez no bolso
Levo alguns vícios na mala
"Uma última dose!"
Minto a mentira diária
De últimas em últimas doses me embriago de você
Que louco me sussurrou ser fácil te esquecer?
É que já não sei
Se você imita a vida
Ou se a vida imita você.
E tudo o que eu tinha se foi em uma dose
Amargada pelo álcool
Pisoteada pela vida
Assim como eu
Assim como você
Assim como nós e a nossa lástima.
Tenho vício em você
Nas lembranças suas
E no seu amor efêmero, findável
Mas não há nada além da fumaça
E os isqueiros que acendem o cigarro
E a pólvora.
Você me pergunta quem eu sou
Mas mediante ao espelho
Não vejo nada além de um embriagado abstinente
Poeta nefasto que se recusa a viver do presente
Como quem não aceita o final aberto de uma história mal escrita de amor.

-Enquanto ainda houver tinta na caneta.

Querido Desamor ─ PoemasWhere stories live. Discover now