02 | Ideia Genial (antes de te conhecer)

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Começo a espernear, gritar, choramingar e bagunçar meus cabelos.

Eu não posso deixar isso acontecer! Eu...

A sineta da bancada toca e eu arregalo os olhos ao abri-los. Pisco os olhos um par de vezes antes de virar o rosto e ver, por debaixo da portinhola, um par de coturnos pretos. Faço uma careta (agora realmente quero chorar) e me levanto com uma expressão de dor e constrangimento.

Mais essa pra conta de humilhações. Mal vejo a hora desse dia de merda acabar.

Ponho uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, na esperança de não parecer tão maluca na frente do cliente.

— Boa noite — cumprimento e me curvo até esconder minha desgraça estampada no rosto, ganhando tempo para me recuperar. Quando sinto a cerâmica gelada colidindo com minha testa (literalmente), eu levanto.

Olhos grandes e escuros me observam como se eu tivesse um chifre saindo do meio da minha testa — talvez tenha mesmo, já que o local da batida está pinicando. É assim que eu sei que estou pior que imaginava. Ele traja uma camiseta preta, um casaco por cima e uma calça moletom de mesma cor, assim como usa um chapéu bucket e seus fios de cabelo um pouco maiores escapam do acessório. Ele segura alguns pacotes de salgados e doces, além de um pacote das balas terríveis que o senhor Hong mantém na frente do balcão.

Péssimo gosto.

— Boa noite — o cliente retribui meu cumprimento e despeja as embalagens em cima da bancada, onde eu começo a registrar os valores e torcer para que o computador neandertal do senhor Hong colabore comigo nesse fim de expediente. Ele não diz nada, mas mantém os olhos grandes presos a meu rosto. Eu realmente devo estar horrível, penso.

Quando pego o último pacote, a temida bala azeda que ninguém tem coragem de experimentar mais de uma vez, acabo perguntando involuntariamente:

— Tem certeza que quer levar isso?

A repreensão e o freio mental chegam tarde demais, se tem uma coisa que eu não posso fazer enquanto vendedora é questionar as escolhas dos clientes, pelo menos não de uma forma negativa.

— O gosto é horrível — esclareço, ao ver confusão no semblante do cliente. — A embalagem pode até ser bonita, mas não vale a pena. Você pode descobrir tarde demais, como dizem, o arrependimento sempre chega mais tarde. Mas senti que deveria te avisar.

— É por isso que você estava gritando e chutando o ar agora pouco? — ele pergunta, ainda que incerto, apontando para o chão e fazendo um bico involuntário com a pronúncia das palavras. Noto haver uma tatuagem, provavelmente falsa, marcada em sua mão.

— Oh, não! — balanço as mãos a frente do corpo, sorrindo nervosamente. — Eu não estava chorando por causa do gosto disso... Embora o gosto possa me fazer, de fato, chorar, não foi o motivo dessa vez.

— Não por causa do confeito, eu quis dizer, mas por causa do arrependimento — ele sorri de lado e ergue uma sobrancelha, com esperteza em seu olhar atento.

É a primeira vez que seu rosto me lembra o de alguém, mas não consigo dizer exatamente quem.

Sorrio sem graça.

— São quase onze horas e é noite de sexta-feira, acho que já é tarde o suficiente para bater o arrependimento, não acha?

Seu sorriso se mantém.

— Se me permite dizer, acredito que o arrependimento não leva a lugar algum. Deveria abraçar as decisões que tomou e lidar com elas.

Eu sei bem disso, só é mais difícil seguir essa filosofia na prática. Então, me esquivo daquela conversa profunda:

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⏰ Last updated: Nov 15, 2022 ⏰

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Até a última pétala de cerejeira | JungkookWhere stories live. Discover now